quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Etilismo


Deus ajude nos momentos vazios...
Todos os homens que atravessaram o umbral de minha porta com meu cheiro corpóreo nas mãos, não aparecerão de uma hora para outra para um qualquer abraço ou carinho.
Claro que sou forte , oras...e certos dias me encontro indiferente às paixões e decepções quotidianas.Mas há os dias em que as lágrimas me invadem e não me explicam o motivo .Há dias em que os vazios não podem ser preenchidos com chocolates ou bebidas alcoólicas.
Há dias em que tudo está perdido , em que tudo está escuro e frio.
Há dias em que se sente falta de qualquer coisa.Que se sente falta não se sabe de quê, que tudo o que se quer é desaparecer ou dormir.Dormir um dia inteiro ou uma noite inteira.E ai o melhor amigo é a caixa de comprimidos para dormir ... ou a garrafa de vodka escondida no guarda-roupa esperando a hora certa de agir.
Há os dias em que nada alegra , nada estimula , nada faz bem.
Tudo é dor e sofrimento .Então viro criança e me escondo debaixo da cama , como quando corria das chineladas da mãe depois de uma travessura.Mas agora , com uma garrafa de vodka na mão e na outra um gilete afiado , tenho a esperança de que uma hora dessas vou ter a tão esperada coragem ...de acabar com tudo num simples e redentor ato.Mas os fantasmas de afetos me lembram que ainda há gente que me quer viva.
Titubeio ...
E apenas admiro o brilho da lâmina , e então bebo mais um gole de vodka.
A garganta queima , o peito dói, o vazio aumenta ainda mais.
A lâmina então é endereçada a qualquer outro canto não vital do corpo.
Cortes superficiais para distrair a dor de dentro.O sangue em pequenas gotículas pintam a pele de leve, e eu me alivio como numa dose de heroína.Vou fechando os olhos ...os comprimidos também vão fazendo efeito...
Acordei...percebi que não estou com sono ...estou bêbada ...levemente efervescente.
Sequei minhas lágrimas, sai de debaixo da cama, tirei minha roupa...
Estou nua de frente ao espelho .A nudez é sublime...O corpo nu é sublime...Os seios são divinos...O rosto já não é tão belo, é marcado , desigual , poroso, nada de atraente .Mas os seios são bonitos.Se eu fosse homem adoraria mordê-los...Se fosse homem ?Não ...Eu adoraria mordê-los como mulher mesmo...Sinto inveja dos homens que o mordem ...Queria que estes seios fossem de outra , para que eu pudesse mordê-los.
Cansei...Falarei de meu estado ébrio.Eu estava chorando , mas recebi um telefonema inesperado.Precisei secar as lágrimas para atender.Não gosto que me ouçam chorando.Era ninguém , não lembro do que falou.Desliguei e saí de debaixo da minha cama.Acho que foi Deus , ele não gosta de me ver chorar...aí ele me ligou por que sabia que eu secar as lágrimas para atender.
Deus é um sacana mesmo.Aparece nas horas mãos absurdas.Interrompeu meu choro!E quem disse que eu queria parar de chorar?Eu amo minha cruz também , respeito meu pranto.Se tenho vontade de chorar choro.Mas que merda , sofrer também é necessário sabia Sr. Deus ?O senhor mesmo já não sofreu ?Pelo menos me contaram quando eu era criança ...dizem que o senhor sofreu por nós né ...Mas não sei , não posso afirmar com certeza , por que não tenho intimidade com senhor...Mas com que raios de direitos inventou de interromper meu choro ?Agora tô aqui sem sofrer , sem chorar , sem rir , sem nada...Que saco voi Senhor Deus!
Estou esturricada agora...
Comecei a escrever chorando .E agora estou aqui vazia de sentimentos.Bêbada de vodka.
Bêbada?Não , não estou bêbada.Há tempos que não fico bêbada.Criei resistência ao álcool.Bebo vodka como quem bebe um cafezinho com bolachas.Não me critique.Preciso de venenos para sobreviver à vida.Preciso de venenos para sobreviver à minha vida.
E nem venha me chamar de infeliz.Sou feliz do jeito que posso ...Bebendo , escrevendo , trepando...Sou um artefacto de Deus.Ele precisa de mim , não eu dele...Isto não é blasfêmia.Eu não preciso dele por que já sou divina.Minha divindade brota nos poros .Mas eu não broto nos poros de Deus .E por isso mesmo ele precisa de mim.E por isso não deixa eu morrer na hora que quero, e interrompe meu choro .Deus é um sacana mesmo.Deve tá é rindo de mim à esta altura...
Não estou mais vazia , me enchi de divindade agora.Meu corpo todo se arrepia de vitalidade e erotismo.Estou tendo um orgasmo com Deus.Fomos feitos um para o outro.Agora vejo por que exatamente interrompeu meu choro.Foi bem feito!Esqueci dos meus vazios.E agora estou feliz , lânguida e saciada.Deus preencheu meus vazios com os orgasmos dele.Só o amo por isso mesmo: ele me lota a alma com seus orgasmos luminosos.Deus é divino mesmo.
(...)
Ando amando um homem.Estou pensando nele agora mesmo.Ele é também divino.Meu útero o ama, e se enche de alegria quando ele está por perto .Ele preenche meu útero de volúpias e crescentes delícias.Eu o amo com todo o meu útero !!! Que ? Isto não é amor ?Ora , amar com o útero é divino.É preciso amar com o útero para não sofrer .E eu sofro também quando não o amo apenas com o útero.
Amar com o coração é tão doloroso!!Não gosto de amar com o coração ...prefiro o útero!Mas ainda assim há vezes que o útero faz uma sociedade com o coração ...Aí o que eu posso fazer ?Fico completamente indefesa...sofrendo.
Fui feita para amar .Deus concentrou uma grande quantidade de amor em mim.Nisso não sou grata.Ele ainda me paga por isso.Haverá o dia em que amarei apenas a mim mesma.E nem Deus venha mendigar amor ...não terá.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Seus abraços não eram mais os mesmos...


Seus abraços passaram a ser diferentes depois que ele tocou seu corpo nu na escuridão de um pequeno quarto.Ela estava experimentando novas sensações.O corpo dele exalava um cheiro nunca sentido por ela .Era viciante.Não sentia nada parecido em nenhum corpo-lugar.Ele pesava em cima dela, era esmagada com aquele corpo forte, que a cobria por inteiro, nenhum pedaço de seu corpo ficava sem ser coberto por aquele grande homem.Tudo nele era grande.Seu sexo era vasto...e doía nela às vezes.Mas a dor era rapidamente esquecida , quando seu corpo se enchia de um liquido mágico, um liquido vital.Ela inchava de tão feliz.
O sexo daquele homem enorme, tinha um gosto peculiar.Tinha uma forma peculiar: grande , bonito , talhado...esculpido como uma obra de arte.Ela gemia só de ficar olhando.Ela não queria mais outra coisa.Ele estava de acordo com ela...Mas que coisa!
Como podia ...um ser tão incorpóreo...tão idílico...Começou a achar que ele não era deste mundo...que estava participando de uma imaginação coletiva....
Não ...ele era de verdade sim...
E ele fazia isso com ela...a decifrava inteira.Descabelava , descaminhava , destrinchava, desarrumava ela toda.
Seus abraços não eram mais os mesmos depois da primeira vez ...Ela não podia mais conter seu coração acelerando toda vez que o encontrava...Estava apaixonada? - Não , negava pra si mesma.Mas sim estava ...como poderia negar ?Se seu cheiro era presente nela o tempo todo...se seu toque a paralisava.
Ela queria mais , e mais , e mais ...Viver com ele...não havia mais nenhuma outra ambição , apenas dormir e acordar com ele dentro dela...pra sempre.Queria seu sexo como melhor amigo , como alimento , como bebida.Não havia mais nada a se querer além de ser sorvida , molhada , comida por ele.
Seus abraços passaram a ser diferentes da depois da primeira vez...
Ela se intumescia toda, depois do abraço dele...Seus seios inchavam , e os bicos endureciam de tesão...O sexo se afogava, suas mão tremulas , seu rosto enrusbecido.
Ela não podia esconder...estava toda viciada nele.Tudo em seu corpo chamava por ele...
Seus abraços não eram mais os mesmos...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Congratulações a Antônio (ou Ao Antonio que faz o corpo fervilhar)


São mais de quatro anos de convivência corpórea, entre pausas, lágrimas, sorrisos e gemidos.Eu não sei por que , mas te amo.Sei bem que palavras não te tocam .Você vai me ler com um centésimo da emoção que uso pra escrever.Cartas, poesias e palavras te causam tédio.Eu sei bem ...Não faz mal.Não mais.Afinal foi por esse homem grosso, estúpido e embrutecido que me apaixonei.Me apaixonei, sofri , desapaixonei, esqueci, apaixonei de novo, e de novo, e de novo...
Sempre que me colocares as gotas de teu sêmen em qualquer canto do meu corpo me apaixonarei!É assim: as mãos tocam na saudade instalada eterna, na boca e entre as pernas, e daí tudo fica mole, tudo se desnovela...e eu (coitada) me apaixono, me apaixono e me apaixono.
É de dar raiva Antônio, é de dar raiva.
Essa chateação chamada desejo , esse gosto de pescoço na minha boca, esse sentimento de penetração, essa esfregação toda.
Ai que raiva do meu corpo Antônio, ele não é mais meu , ele é seu o tempo todo.Vai Antônio , pega ele de vez e leva contigo.Se cobre com ele à noite e se enrola todo.
Cadê? Não fez? Por que Antônio , por que?
Meu homem escuta essa minha lástima:Quem me acordará no meio da noite com algo empinado pedindo cólo?Quem Antônio?
Ah Antônio ,já falei demais.Me embriaguei com palavras insólitas.
Vai embora , vai Antônio, me deixa em paz.Loiraças gostosonas e vazias chovem ao monte por aí , e é disso que você precisa.Não me escolhe mais Antônio.Vou me trancafiar Antônio para que não entre mais.Para que não entre mais em mim.Não quero mais nada teu dentro de mim.Ouviu Antônio?
E antes que me esqueça , um feliz aniversário!

domingo, 29 de agosto de 2010

Quem era Helene Langonelle?- texto de Marguerite Duras


*Imagem de autor desconhecido*



“ O corpo de Helene Langonelle é pesado, inocente ainda, a doçura de sua pele é como a de certos frutos , mal pode ser percebida, um pouco ilusória , é demasiada.Helene Langonelle dá vontade de matá-la, desperta o sonho maravilhoso de fazê-la morrer por nossas próprias mãos.Essas formas belíssimas ela ignora, mostra essas coisas para que as mãos a amassem , para que a boca as devore, sem perceber , sem tomar conhecimento , sem ter idéia de seu poder fabuloso.Eu gostaria de comer os seios de Helene Langonelle como são comidos os meus no quarto da cidade chinesa onde vou todas as noites aprofundar-me no conhecimento de Deus.Ser devorada por aqueles seios maravilhosos que são os dela.
Sinto-me extenuada de desejo por Helene Langonelle.
Sinto-me extenuada de desejo.
Quero levar comigo Helene Langonelle àquele homen que faz isso em mim, para que ele o fizesse nela.Tudo na minha frente , fazendo o que eu mandasse , que entregasse lá onde me entrego.Seria por meio do corpo de Helene Langonelle que o prazer chegaria até o meu , só assim definitivo.
O bastante para morrer...

sábado, 28 de agosto de 2010

MENSAGEIRO DO APOCALIPSE - retirado do blog e de autoria de Fabricio Carpinejar

Abro a janela para sentir onde estou; somente a lufada no rosto resolve. O vento é o único meteorologista em que confio.

Hotel provoca miragem: não acertamos se está frio ou quente lá fora.

O controle do ar repousa ao lado dos canais de televisão. No gabinete. É o efeito estufa em minha vida - viajando, permaneço sempre na mesma temperatura. Gostaria de arder de calor de madrugada ou me encolher de frio, somente para me enxergar em casa. Vida cômoda demais incomoda. A melhor gula é vencer a dormência e mexer na geladeira de noite. O melhor sono, portanto, depende de um esforço físico, em abandonar a zona de conforto, é aquele que caminhamos no escuro por um cobertor ou duelamos com o lençol, empurrando o tecido como um morto no despenhadeiro.

Só que em alguns hotéis a janela está fechada, como o do bairro Anhembi, em São Paulo. O quarto lacrado não me deixava trabalhar em paz. Liguei para a governança:

- Pode abrir as janelas, estou aflito?
- Sim, estou mandando um mensageiro.

Demorou uma hora, e nenhum sinal em minha porta. Insisti, com receio de uma conspiração.

- Eu pedi para abrir as janelas...
- Sim, desculpa, estou mandando um mensageiro.

O jovem chegou. Tinha uma barbicha para forçar a idade. Na minha adolescência, todo rapaz era um bode. Alguns continuam sendo.

Ele veio com um cardápio para assinar.
- Não pedi nada para comer ou beber.
- O senhor não solicitou a abertura das janelas?
- Sim.
- Deve assinar aqui.
- Por quê?
- Para abrir a janela.
- Como?
- O senhor precisa se responsabilizar por abrir a janela.
- Mas eu não me responsabilizei por abrir a porta, por abrir a geladeira, por abrir as gavetas. Que isso?
- É norma do hotel. Abriremos as janelas com seu termo de anuência.

Rabisquei na linha em branco para encerrar o assunto. Nunca tinha pensado em suicídio até aquele momento. Foi tanta solenidade que fiquei com vontade de me matar. O mensageiro criou a fantasia mórbida com o ofício. Deu a ideia. Fomentou a imaginação. Agora sim estava aflito com as cortinas farfalhando. As alturas me chamavam pelo apelido, com inegável intimidade.

Aguentei o pânico, suspeitei que, se me atirasse no pavilhão da Bienal do Livro colado ao hotel, o mundo inteiro diria que era mais um dos meus golpes de marketing.

Desci ao saguão disposto a respirar o térreo. Fugi imediatamente dali. Encontrei André, amigo de editora, lendo jornal. Puxei papo para me distrair. Evidente que descrevi os últimos acontecimentos.

Mas ele ficou pálido, mais nervoso do que eu, envergonhado. Resmungou:

- Quando entrei no meu apartamento, as janelas estavam abertas. Nem pediram minha autorização. Vou reclamar ao gerente, não é um convite ao suicídio, já é um assassinato.

Fabricio Carpinejar-cronica

domingo, 22 de agosto de 2010

Caramelo e Nicotina


Ele tinha cheiro de caramelo.Claro que não tinha.Ela imaginava...Tinha vontade de o sorver como caramelo, e por isso sentia o cheiro.Ela o queria.E ele tambem...
-Gosto de você.Gosto de seu charme.
Disse ele lhe segurando as mãos.
Ela enrusbesceu, como era comum erusbescer diante de um homem.Ela era uma menina.Ele exaltava seu bom gosto:
- Você é como poucas.Quero que venha comigo.Para minha casa.Vamos sonhar juntos.

Ela não titubeou.Ele era o que ela queria.Sua voz era prazerosa, seu toque sorrateiro era como mel.E ele cheirava a caramelo.Ela queria todo o seu caramelo.
De repente estava de lingerie negra em seu sofá com um charuto entre os dedos e um copo de vodka no chão.Lia em voz alta Tolstói: "A arte é um dos meios que une os homens."
Ele a calou.Fechou seu livro.Tocou seu corpo.Ele não a tinha tocado até então.Deixou que ela fosse ela...que ela se esgueirasse pela sua casa como um filhote de cobra.Quando se despiu, despiu apenas sem motivo.Não queria nada, apenas se livrar de uma casca metropolitana.E ele a observou.Observou a simpleza de seus gestos.Uma mulher que tira a roupa para ler Tolstói e ignora o mundo ao redor.Ela era linda e livre...mas triste.
Ele a tocou e o charuto caiu no chão.Ela enlaçou-lhe o pescoço procurando sua boca.Ele desviu para os seus seios.E o cheiro de caramelo ficou ainda mais forte e se misturava a nicotina presente no ar e tudo era levado pela torrente de seu desejo.
Os beijos no corpo provocam gritos suaves dela.E ele a beija ainda mais.
Foi consolada.Acabava de nascer quando ele arrancou suas roupas intimas.Ele ainda estava vestido.E a observava atônito, como quem observa um milagre.Ela se deixou...Não queria interromper o momento miraculoso daquele homem sóbrio...de sobretudo e cachecol.
Ela se desembrulhou e se entregou de presente.Mas ele a tomava como uma dose de uísque envelhecido:^Sentia todos os cheiros das sendas de seu corpo alvo e depois molhava seus labios com todos os liquidos de seu corpo...para depois bebê-la em completude.
- Eu te amo!, foi o que ela teve vontade de dizer naquele momento, mas nao disse, apenas sentiu seu deleite de moça.
Ele era um homem livre, e com toda aquela liberdade que enxergara nele descobriu que ela própria não era livre.Se sentia pequena agora dentro daqueles braços pesados de homem e não queria mais sair.
Ele a beijava carinhosamente e não dizia nada.Apenas beijava-a , e cheirava seus cabelos cor de cobre.Para ela o mundo poderia acabar ali, e ela continuaria enrolada nos seus braços com cheiro de caramelo e nicotina.
-Não vai falar nada?, arriscou ela para iniciar qualquer diálogo.
-O silencio te incomoda?
- Não às vezes.Mas é preciso saber quem é o dono do silencio para que eu me incomode ou não.
- Bem , eu sei que você é uma pessoa incrível, a quem tenho muita afeição.O teu silencio não me incomoda.
-É?
- Sim. O meu te incomoda?
- Não..quero dizer não sei.
- Está com medo minha pequena?
- Não, quero dizer não sei.
-Agora você quem ficou silenciosa.
- Acho que estou com medo..
- Posso saber de que?
- Da sua perfeição masculina.Você é perfeito pra mim.A sua conversa , o seu cheiro,as suas idéias, a sua música...o tamanho do seu sexo...
- Você é ótima, interrompeu ele com uma risada, entao o tamanho do meu pênis é perfeito pra você?
- Sim é.
- E como assim, qual é o tamanho dele ?
- Não sei dizer, só sei dizer que a minha vagina se sentiu protegida por ele.
- É a primeira vez que escuto falar em proteção de vagina através do pênis, disse ele com mais uma risada.
- Eu também , mas foi o que eu senti agora.
Ele se calou.E voltou a beijar seu corpo...E ela voltou a explodir toda por dentro...idilicamente.Ela queria fujir, agora mesmo, mas o prazer lhe agarrava fortemente.Entao cedeu ....E ficou ainda enrolada por mais tempo naqueles braços caramelados e nicotinados...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O amante

Ela lhe diz: preferia que você não me amasse.Ou, mesmo me amando, que se comportasse como se comporta com as outras mulheres .Olha para ela espantado e pergunta: é o que você quer?Responde que sim.Ele começou a sofrer lá, naquele quarto , pela primeira vez, não nega isso. Diz que sabe que ela jamais o amará.Ela o deixa falar. A princípio diz que não sabe.Depois deixa que ele fale.
Ele diz que está sozinho, terrivelmente sozinho com esse amor.Ela responde que também está sozinha.Não diz com o quê.Ele diz: você veio até aqui comigo como teria vindo com qualquer outro.Ela responde que não pode saber, que nunca foi com ninguém para nenhum quarto.Diz que não quer que ele fale, quer que faça o que costuma fazer com as mulheres que leva ao seu apartamento de solteiro.Suplica-lhe que aja desta maneira.

Ele lhe arranca o vestido , joga-o longe, arranca a calcinha branca de algodão e a leva nua para a cama.Então vira-se para o outro lado e chora.E ela , lentamente, com paciência, ela o traz para perto e começa a despi-lo.Ela faz tudo com os olhos fechados...

A pele é uma doçura suntuosa.O corpo.O corpo é magro, sem força, sem músculos, podia ser um corpo de um doente , de um convalescente, ele é imberbe, sua única virilidade é o sexo, é muito fraco, parece estar a mercê de um insulto , parece sofrer.Ela não olha para o rosto.Não olha .Só o toca.Toca a doçura do sexo, da pele , acaricia a cor dourada, a novidade desconhecida.Ele geme,chora.Dominado por um amor abominável.
E chorando ele realiza o ato.A princípio, a dor.E depois a dor se transforma , é arrancada lentamente, transportada para o prazer, abraçada ao prazer
O mar sem forma , simplesmente incomparável

Marguerite Duras- Trecho de "O amante"

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Acordou...era 02 de agosto...

Acordou.Era 02/08.Lembrou como que automaticamente que fazia exatamente 1 ano em que Ana e Leonardo deram seu primeiro beijo.
Era festa.Aniversario de alguém.Eles conversaram longamente sobre muitas coisas.Beberam tudo o que era possível e alcólico.E no final da festa , ele lhe pediu um beijo.Assim desajeitadamente:
- Ana?
-Sim?
-Sabe o que eu queria fazer agora ?
-Não, o quê?
- Eu queria te dar um beijo...
-É?
-É...
- Então tá bom...
-Então tá bom ?
- Sim...
Se beijaram.Longamente...Em meio a festa...E muitas pessoas olhavam com inveja ou reprovação.Eles se beijavam como se o mundo houvesse parado de existir e só existissem eles dois...ali....se beijando.
Nunca souberam que tipo de gestos fizeram ali onde todos assistiam.Se beijavam e as mãos eram livres e independentes passeavam por não se sabe onde...
Passeavam livremente por ambos os corpos todas as mãos disponíveis...Mas eles não perceberam e continuaram se tocando em meio a festa.
Acabou...e foram embora.Mas continuaram a se beijar por toda a longa rua.
Se beijavam e se lambiam , encostados em qualquer muro.Continuavam a caminhar ...e depois paravam de novo e se impressavam e um outro novo muro.Se lambiam de novo...se enroscavam...E todos os taxis passavam buzinando alto...e eles ?Não ligavam...estavam a amar , a beijar ...a lamber.Estavam felizes ...e bêbados.Ana chegou em casa com as costas pintadas do musgo dos muros.Feliz.Estava feliz como há muito tempo não ficava.
No dia seguinte Ana sentiu algo já conhecido por ela muitas vezes...a vontade de tê-lo de novo, de ver e sentir novamente: Estava apaixonada...Mas ele não.
Voltaram a se ver.Namoraram.Foram felizes.Mas não durou...terminaram e ela ficou inconsolável.Fez de tudo para que voltasse.Se humilhou.E ele ?Se fez de ouvidos moucos.Nenhum grito dela chegava até ele.Permanecia impassível , indiferente ao sofrimento daquela que tanto o amou, que tanto se doou pra ele.Ela adoeceu , não durimai mais , não comia mais...nada tinha sentido.Ele vivia ... cada vez mais vivia enquanto que ela morria ao poucos.
Nada mais sábio do que o velho conselho de que "Tudo passa"...
Hoje ela esta mais viva que nunca e se embriaga em novos amores (certos ou não)...Se recorda ainda daquele que mais a fez feliz e que mais lhe fez sofrer, mas hoje...hoje isso tudo passou.Não há mais lugar pra lágrimas.Aprendeu com a dor que ele não era para ela, pois não a amou com coragem, apenas passou , encenou alguns gemidos e foi embora.
Que bom que nunca portou armas , pois hoje estaria morta por um tiro dada por si mesma.Ela sofreu e mais que todo mundo pensava ela.O mundo inteiro havia acabado, ninguem mais existia, somente ela e seu sofrimento agudo e sangrento.Coitada...emagreceu perdeu o brilho.
Mas enfim ressucitou...Colocou o salto 15 metafisico (pois nao sabia andar de salto real), pintou as unhas de escarlate, secou todas as lagrimas que nao paravam de correr há meses...e subiu de volta ao seu proprio patamar...Agora ela é muito mais do que fora.Não mais se encontra reduzida.Esta forte e gigantesca...aguardando e procurando em distrações sexuais sua companhia quase perfeita...
Acordou...Era 02 de agosto.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lisbon Revisted - Alvaro de Campos

LISBON REVISITED (1923)
Alvaro de Campos

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

domingo, 1 de agosto de 2010

Luíza roe as unhas... (de Starla Pisces)

Luísa com as unhas roídas
Até o sabugo
Pergunto o que lhe aflige
Ela diz que o seu sorriso de ontem agora passeia em boca alheia
Luísa que gosta de sentir fome para ter ausência
E frio pra ter arrepio que não derive de paixões
Estar eriçada pra ela é sinônimo de estar viva no sentido punitivo da existência
Porque acha seus dias plúmbeos atarracados austeros
Como o nó da gravata que persegue os executivos
Enforcamento prévio de futuras possíveis sujeiras
Luísa que lava as mãos e roça o par de tênis no chão para livrá-los das impurezas
Ódio que tem da poeira do desacerto da ruga
Ódio que tem de si mesma por prever o tempo ruim e não se prevenir dele

Eu sabia, eu te disse , tudo andando certo demais...aquela sensação de bucolismo nas entranhas, presságio de hérnia
Presságio de furacão, navio tragado pelas ondas
Netuno já gargalhando de tudo
E eu alheia, meu sorriso agora alheio de mim
Particípio meu humor subjuntivo

(Pobre Luísa)
Querida não pode ser tão ruim assim...
Ela me diz sintética que posar de conformada contemplativa é minha cara.
Me calo
Ela encosta a cabeça no meu ombro e ficamos olhando as luzes que iluminam as ruas e delineiam as trevas, confirmando a oposição que há em tudo
O fado de nós mesmas pra sempre incerto
Concreto e perturbador
E a insanidade de pensar nela indo sem que eu diga tudo o que vale ...ou tudo o que sinto...

Tranco-me
Concentro-me nela ofegante, respiro junto
Estamos juntas por hora, sinta-me aqui, tudo mais não interessa.
Nossa redoma de vidro e o beco...
Pela frente o beco e ao nosso redor só flores do mal?

sábado, 24 de julho de 2010

Uma certa Buendía- Um dos mais belos presentes de uma de minhas mais belas amigas...

uma certa Buendía...
Buendía é o sobrenome de um livro que eu não li. Mas certamente também é o nome escolhido de uma das pessoas que mais me inspira na vida. Buendía para ela é como o Miller de minha Fiona, é o recado de Anaïs em nossos ouvidos, é a representação, a invocação nominativa de toda a loucura, o risco, a dor quase escolhida, porque afinal, não sei se temos mesmo a escolha de não sofrer tanto assim. Somos Nin Buendía Miller. Sobrenome complexo, naturezas idem. Somos decepcionadas de nascença, porque o mundo não pode ter árvores lilás de frutas prateadas e céu vermelho escarlate. O mundo não pode ter homens que sabem o que querem. O mundo não pode ser como queria uma Buendía. Senão poderíamos tatuar poemas em nossas peles que sumissem no dia seguinte. Apenas alguns ficariam. O mundo não poderia ser como quer uma Miller, porque senão nos bebedouros ia ter cachaça de gengibre, e a Lapa seria a sede do governo anárquico poético. Não, o mundo precisa ter o lado raspado da coisa, a realidade precisa ser essa borda queimada do bolo: era pra ser delicioso, não tivesse passado do ponto. Porque o real sempre parece que passou do ponto, não no sentido bom de todo excesso, mas no sentido de que em algum momento, parece que algo esqueceu de nós por aqui, e deu liberdade demais a coisas que não têm importância alguma. Mas é somente diante dessa mesma realidade que a nossa poesia vai sentir vontade de trafegar. Porque se o mundo fosse como a gente quisesse, as ruas iam ser inabitáveis de tanta música e pessoas nuas, e nunca íamos sentar pra escrever. E é por isso que agora eu estou aqui, porque os fatos ditos reais me obrigam a ficar inchada de saudade enquanto há um universo poético trafegando pulsante em nós. Meu amor tão longe, minhas amigas tão longe, mas há a faculdade, o tédio, as contas, as caixas de mudança, os exames de sangue, os testes de gravidez e o tratamento de dentes. Mas não, uma Buendía Miller não quer ficar aqui presa. E por isso é que sua explosão me encanta, menina intensa... então, "tudo bem se é assim", assim será. E quem me dera ter tido algum dia a coragem que tens de se declarar dessa forma, tão crua. Eu sempre fui a menina dos medos também... E guardava minhas palavras como se elas fossem tesouros, mas por mais que as amemos, palavras só são tesouros se nós as entregamos. Escrevi mais de 500 poemas para uma paixão da adolescência que nunca nem sequer soube que eu gostava dele. Ou se soube, deve ter achado que era apenas amor que não sobe a serra. Mas eu gostei dele por mais de 5 anos, e sempre escrevendo poemas que apenas as minhas gavetas leram. E hoje amo uma pessoa que tenho um puta medo de olhar pra aquela pela macia, de cheiro de macho híbrido, com pintas de sol lindas nas costas e simplesmente dizer que amo. Ah, me ensina, Buendía, a não ter mais medo das minhas palavras! Minha alma tão intensa quanto a sua está precisando sair, para dançar uma valsa de carnaval, debaixo do sol, correndo solta por entre as brisas...

TE AMO, amiga. E por favor, mesmo sendo inevitável sofrer, não sofra. Sofrendo. Rs.

Texto de Lucinne Menolli,uma querida amiga e consultora sentimental
Para conhecer : http://umpassoparamediocridade.blogspot.com

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Talvez eu tenha sido um tanto ríspida...

Talvez eu tenha sido um tanto ríspida , e isso fez pesar meu coração.Então agora te escrevo , não pra dizer que estava totalmente errada, mas apenas para me desculpar do grau gritante de minhas palavras ofensivas.
Continuo te achando um idiota.Por que sempre usa da mesma artimanha?Vem e me conquista com mentiras que me salvariam.
O seu sexo sempre me penetra inteira, e eu fico com o gosto dele por mais tempo na boca.Isso me afeta inteira.Afeta o coração.Afeta a minha solidão...
Por que não me salva dela ao invés de sempre me levar para as suas profundezas?
Minhas palavras não te tocam...eu sei.Minhas palavras não te causam qualquer coisa...eu sei ...Você é matéria bruta e eu sou alma.
Sempre me apaixono...vou sempre me apaixonar a cada metida tua.
Então pára.Pára de se meter na minha vida.Pára de se meter em mim...Não quero nada que seja seu dentro de mim.Isto é uma ordem!Obedeça!
Se pagar pelo meu corpo levará meu coração de graça, como brinde.Então se não quer o brinde não me compre o corpo para jogar meu coração em qualquer canto da casa...
Escolha outro corpo que não tenha um coração de brinde...escolha qualquer corpo que não tenha o MEU coração de brinde.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ela se arrumou e perfumou...

Ela se arrumou e se perfumou , para que ele se agradasse de sua presença.Agradou.
Terminaram como sempre com os corpos entrelaçados, suados , e gastos numa cama qualquer de motel esdrúxulo metropolitano.
Virou-se pro lado.
Ele lhe disse: - Vou me apaixonar.
Ela se surpreendeu.Aquele homem experiente que nunca sentiu falta de nenhuma mulher disse a ela que iria se apaixonar.E ela escutou.Porra!Ela escutou!
Tudo bem que ele não era nada daquilo que ela sonhou, não lia nada além que bulas de remédios, não conhecia The Strookes, nem Chet Backer, nem Mingus, nem Cat Power.De Chico Buarque conhecia apenas "A Banda", e achava que "AIDS" era uma "bactéria" (Pasme).Não ia ao cinema admirar as cores de Almodóvar, nem ao museu para se encantar com Chagall,mas droga era muito bom de cama pelo menos.O melhor até então.E sempre que a vida ficava escura , ia provar de suas substâncias antes que a noite se deitasse.Isso bastava pra ela , que era tão carcomida pelas decepções fugazes amorosas.E agora escutou um : -Vou me apaixonar...Você está mexendo com o meu coração.
Isso não era o que es esperava ouvir.Dele não.Nunca.

Claro que queria estabilidade emocional.Claro que queria um único homem a quem lhe presenteasse todo o seu desejo e sua falsa fidelidade.Claro que desejava alguem com quem pudesse ir pra cama todo dia , ou ao menos quase todo dia ...Ou ao menos toda semana.Sim ela era tambem esse tipo de "mulherzinha chata" que por vezes sonha em cozinhar para o marido que está por chegar.Que cuida dos filhos.Que se arrauma inteira apenas para um unico homem.Sim , ela desejava isso.Afinal as mulheres casadas pareciam tão felizes com suas luvas e aventais e mamadeiras.E ela ...coitada...sempre sozinha , migrando de amor em amor, de choro em choro.Queria sim ser de alguém , por mais que nunca aparentasse.
Ao ouvir isso, se surpreendeu e quis dizer coisa diferente do que disse : - Que bom!
Sim , "Que bom !" foi o que disse, e ela mesma não acreditou no que escutou de sua própria boca.Não era isso que queria?Um homem estúpido e bom de cama?Um homem previsível como aquele.A quem pudesse saber qualquer segredo, a quem pudesse descobrir qualquer defeito...Mas "Que bom !" foi o que disse.E ele não demonstrou nenhuma irritação.
Se vestiram.Foram embora.
Ela?Ficou pensando no que ele disse , e merda...sentiu saudade.Como se algo no coração (ou na cabeça , ou no sexo, ou no ...ah foda-se)tivesse sido despertado.
Ligou pra ele.
-Alô
- Alô Ramirez?Pode me ver?
-Claro, sempre.
- Vou ter aula até às 18 horas.
-Às 18 horas te busco então.
- Até lá.
- Um beijo.

Se encontraram.E de novo aquela leve impressão de tudo ser diferente minguou.Conversaram.Ele era tão incorreto.Era tão sem escrúpulos.Claro que ela também.Mas ele ...ah ele era...Não era pra ela droga.Mas ela continuou de pé.Ainda decidida a aturar por uma companhia cotidiana.
- Você quase morreu de prazer ontem ,disse ele, estava incrível.Nunca te vi daquele jeito.
-Que bom , disse ela dessa vez cansada de frases canalhas como aquela, e sem nenhuma frase melhor para dizer que a que acabara de dizer.
Suspirou.
Ele a olhou com desejo(da mesma forma que sempre olhava).
- Ramirez , você não é pra mim.
- Concordo.Acho que você deve procurar esse que te fez tao feliz, disse ele assim tão despreocupadamente, se referindo a um amor de seu passado.
- Mas e você?, perguntou para se certificar de sua insensibilidade romântica.
- Não nasci pra isso querida.
-Mas você ontem ...disse...
-Esqueça o que eu disse querida, me desculpe.
Saiu batendo a porta com violência , depois de o ter chamado de otário, babaca, covarde.Claro que não dariam certo, disso ela sabia bem.E claro que ela não o desejava assim tão veementemente.Mas foda-se, porra.Ele disse que estava apaixonado, e agora desdisse assim sem cerimônias, horas depois.
-Que babaca, pensou...Covarde.Como consegue ser tão inútil assim.Como consegue fazer do sexo essa coisa insípida.Como ele consegue fazer sexo como quem urina
Porra, por que não consigo fazer do sexo essa onda de prazer em que me banhar.Tem sempre algo antes , tem sempre algo depois.Sexo vem com uma multidão de sentimentos entrelaçados, os quais ele mastigou e vomitou logo após em cima de mim.Vomitou na minha boca,na minha coxa, nas minhas costas.Mas que famigerado vomitador de sentimentos.Odeio.Odeio.Odeio.Quero que morra.Quero que "broche" pra sempre...Idiota.Quero vomitar em cima dele , tudo o que vomitou em mim.Tudo o que vomitou em minha boca.Que nojo.E ainda me diz que quase morri de prazer...hahaha...Claro que não otário.Finji.Finji tudo pra te deixar feliz.E você agora me joga ese balde de agua fria.Imbecil.Como te odeio.
Pensava isso tudo tão intensamente, que não percebeu que seus pensamentos eram direcionados ao telefone dele, em forma de mensagens de texto.Triiiimm.O telefone tocou.Era ele.Atendeu.
-Alô
-Acho melhor você parar com isso, ta me deixando chateado.
-Vá se foder otário.
Desligou.

Chorou.Há tempos se sentia tão vazia.Andava procurando no sexo uma maneira de se distrair de seu vazio.Procurou em Ramirez, pois era a maneira mais fácil e prática de consegui-lo.Não que fosse feia, ou sem graça, e sim por que era um tanto imprópria para a sedução.Realmente não sabia fazer isso.Não gostava de festas , baladas, e dificilmente se atraía por um homem no mesmo dia que o conhecia.Era preciso mais que isso.Era preciso mais contato com sua essência.Era preciso conhecer seu espírito para que conseguisse sentir seu corpo arrepiar de desejo.
Mas não foi assim com ele.Nunca o achou interessante.Nunca.Aceitou um convite para sair , simplesmente por que achou diferente , um homem do dobro de sua idade e professor seu lhe convidar pra sair.
Se encontraram, e nunca , realmente nunca , se interessou pelos pensamentos e idéias de Ramirez.Mas Ramirez, por outro lado , era um leopardo negro para seduzir.E consegui arrancar suas roupas apenas com olhares lascivos.
Se esbaldavam.Era o que fazia sentido entre eles: se esbaldar.
Acabava sempre que aparecia alguem interessante em sua vida.E nao sentia a menor falta.Mas era so sua vida se infernizar, para voltar novamente àquele corpo como que à uma droga poderosa.Não se envergonhava.Afinal, era seu único homem.O único para quem se entregava e se nutria sempre.Como que num casamento.
Não percebia.Mas era fiel a ele, mas que a si mesma.

domingo, 11 de julho de 2010

Aguardo.


*Arte Desconhecida*
Aguardo pelo teu beijo desde que provei de teu abraço que de acalentador preenche todos os meus espaços inconsistentes.A cada abraço teu me seguro para não te oferecer a boca como uma dose de vinho seco.
Se te apetece, não te demores muito...pode ser tarde.O inverno pode chegar.A noite pode chegar.O amor pode chegar.
Venha sem peias ilustrar meu corpo.Te prometo ausência de baixarias e vulgaridades.Te prometo uma poesia por dia.Te prometo alguns gemidos incinerantes.Te prometo qualquer coisa de sórdida.
Pode vir olhar nos meus olhos, alisar meus cabelos, banhar-me em saliva.Pode vir e não saia tão cedo.É cafona sair cedo.
É cafona não se entregar perdidamente.É cafona pensar demais.
Te espero aqui com uma rosa vermelha nos cabelos, uma dose de vodka, e alguns cigarros passeando por entre os dedos.
E enquanto me colorir com tuas substâncias, quero que Billie Holliday cante.

Fundo sem poço - Elisa Lucinda

De onde vens assim, abusado?
Conhecedor das minas dos vales e córregos
de meu corpo.
De onde vens assim sabedor das sinas dos males e trópicos
de meu corpo.
Iluminas meu pescoço com uma mordida antiga
meu homem e minha amiga
de onde vens assim, obcecado
manchando excesso de batom nos grandes lábios
vaidoso príncipe da mata.
Me come me mata
e ao terceiro dia ressuscito com teus beijos
Seixos, teus gemidos me habitam quietos como um rio
assíduo, velho conhecido.
Tens sorte de eu ser poeta
e fazer poesia ao invés de baixaria na sua porta.
Se comporta, moço e não me falte tanto
Estar longe da sua pele
é como ter alguém que me rouba o cetim
Marron cobre jardim de reluzências
De onde vens, indecência,
com esses destinos riscados na palma da mão?Passe então essa flor no meu rosto
me lambuza com essas linhas, criatura
alisa minhas pernas com essa partitura
cheia de dedos na extremidade.
Revoga essa calamidade
de a gente se arvorar em se querer.
Ah cheiro de moço, candura de menino
Ah fundo sem poço, tontura de felino
Cancela esse latino amor que está por vir
daqueles que quando a gente vê, já doeu
daqueles que quando a gente nega, já se estabeleceu
Ai, de onde vens com esse fogo,
Prometeu?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Canibalismo.

Não é mais por paixão que te procuro e sim por canabalismo.A fome é do meu corpo querendo prender-se e rasgar-se ao teu.Cheirar a sangue fresco.
Ele ja se acostumou a arrepiar-se quando dizes com aquela voz cafajeste e rarefeita no pé do meu ouvido:
- Sentiu saudade?
Ele se estremece.Sentir o calor úmido da sua voz salivada é demais para ele pra poder aguentar.
Não aguenta.
Se despe e se rasga diante da tua majestade corporal e libidinosa.
Meus seios te seguram para uma dança diabólica.
Minha cintura se prende a teu cólo com magnetismo.
Minha boca te denuncia todas as volúpias.
Meus cabelos te enlaçam em perfeita simetria.
Os dentes vão mordendo tudo o que for de pele.
Perco a memória.Esqueço de mim...enquanto terminas para começar outra vez, não me dando tempo de digerir-te.
Eu grito euforicamente.E você pede que eu grite ainda mais.Que eu abra os olhos e te veja.E veja o culpado das sensações tão indizíveis e nefastas.
Abro os olhos e vejo uma turbulência de feições gastas pelo tempo.Pelo cabelo ausente, e branco do teu peito.
Vejo um homem pequeno e quase mirrado.

domingo, 4 de julho de 2010

Seus seios são bonitos...


*Arte de Mariana Bickhova*
-Seus seios são bonitos.
Afrodite baixou os olhos para confirmar.Ele riu.Lhe deu um beijo.Afrodite sente o corpo queimar, mas ainda é necessário esperar .Esperar o quê ?Que medo tem ela?Ele tem o corpo forte, as mãos grossas, a boca molhada.Uma boca viciante.Sempre pode sentir seu sexo por dentro da calça jeans roçando o seu.É esse seu prêmio por enquanto.Deseja-o fortemente.Mas se faz de surda.Ela grita desejando por seu corpo langue.Mas ainda espera.
Espera o quê?
Afrodite se amedronta.Ainda não sabe separar sexo de amor.Então tem medo.Medo de transformar o que pode ser amor em uma noite apenas de sexo.Mas ela deseja a nudez daquele corpo branco.Deseja aqueles cabelos longos dele molhados de seu suor.Deseja que entre nela.Que a traga todos os gemidos lúgubres possíveis.Ah como ela deseja.Talvez até mais que ele.Mas é preciso fingir toda a candura.Afrodite já se sente envolvida.E por isso tem medo do sexo.
Ah", pensa ela, por que esse cara não um grosseirão , estúpido que apenas devia ser bonito pra que eu pudesse levar pra cama , gozar e ir embora.Por que tem que ser assim tão delicado , amoroso e viciante.Será que tenho sempre que me apaixonar pelos meus desejos.Droga.Quero sexo desregrado.Não quero me apaixonar.Não quero sofrer.Quero andar trôpega por aí, perdendo calcinhas por aí.Voltar pra casa com o sexo exorcizado, e molhado de substancias masculinas.Quero cheirar a lascívia.
Afrodite continua a mesma de sempre...seu corpo é lascivo , mas seu coração nada permite.

*imagem de Marina Byckhova

segunda-feira, 28 de junho de 2010

HISTÓRIA DE UM BRÂMANE- Voltaire

Encontrei nas minhas viagens um velho brâmane, homem bastante sábio, cheio de espírito e erudição;. de resto, era rico, e por isso mesmo ainda mais sábio; pois, como nada lhe faltasse, não tinha necessidade de enganar a ninguém. Seu lar era muito bem governado por três belas mulheres que porfiavam em agradar-lhe; e, quando não se divertia com elas, ocupava-se em filosofar.
Perto de sua casa, que era bonita, bem ornamentada e cercada de encantadores jardins, morava uma velha hindu carola, imbecil e muito pobre.
— Quem me dera não ter nascido! – disse-me um dia o brâmane. Perguntei-lhe por quê. – Há quarenta anos que estudo – respondeu-me – e são quarenta anos perdidos: ensino aos outros, e ignoro tudo; esse estado me enche a alma de tal humilhação e desgosto, que me torna a vida insuportável. Nasci, vivo no tempo, e não sei o que é o tempo; acho-me num ponto entre duas eternidades, como dizem os nossos sábios, e não tenho a mínima idéia da eternidade. Sou composto de matéria, penso, e nunca pude saber por que coisa é produzido o pensamento; ignoro se o meu entendimento é em mim uma simples faculdade, como a de marchar, de digerir, e se penso com a minha cabeça como seguro com as minhas mãos. Não só o princípio de meu pensamento me é desconhecido, mas também o princípio de meus movimentos: não sei por que existo. No entanto, cada dia me fazem perguntas sobre todos esses pontos; é preciso responder; nada tenho que preste para lhes comunicar; falo bastante, e fico confuso e envergonhado de mim mesmo após haver falado.
O pior é quando me perguntam se Brama foi produzido por Vixnu, ou se ambos são eternos. Deus é testemunha de que nada sei a respeito, o que bem se vê pelas minhas respostas. “Ah! meu reverendo – imploram-me, – dizei-me como é que o mal inunda toda a terra”. Sinto-me nas mesmas dificuldades que aqueles que me fazem tal pergunta: digo-lhes algumas vezes que tudo vai o melhor possível; mas aqueles que ficaram arruinados ou mutilados na guerra não acreditam nisso, nem eu tampouco: retiro-me acabrunhado da sua curiosidade e da. minha ignorância. Vou consultar nossos antigos livros, e estes duplicam as minhas trevas. Vou consultar meus companheiros: respondem-me uns que o essencial é gozar a vida e zombar dos homens; outros julgam saber alguma coisa, e perdem-se em divagações; tudo concorre para aumentar o doloroso sentimento que me domina. Sinto-me às vezes à borda do desespero, quando penso que, após todas as minhas pesquisas, não sei nem de onde venho, nem o que sou, nem para onde vou, nem o que me tornarei”
O estado desse excelente homem me causou verdadeira pena: ninguém tinha mais senso e boa-fé. Compreendi que, quanto mais luzes havia no seu entendimento a mais sensibilidade no seu coração, mais infeliz era ele.
Vi, no mesmo dia, a velha sua vizinha: perguntei-lhe se alguma vez se afligira por saber como era a sua alma. Nem chegou a entender minha pergunta: nunca na sua vida refletira um memento sobre um só dos pontos que atormentavam o brâmane; acreditava de todo o coração nas metamorfoses de Vixnu e, desde que algumas vezes pudesse conseguir água do Ganges para se lavar, julgava-se a mais feliz das mulheres.
Impressionado com a felicidade daquela pobre criatura, voltei a meu filósofo e disse-lhe:
— Não te envergonhas de ser infeliz, quando mora à tua porta um velho autômato que não pensa em nada e vive contente?
— Tens razão – respondeu-me ele; – mil vezes disse comigo que seria feliz se fosse tão tolo como a minha vizinha, e no entanto não desejaria tal felicidade.
Essa resposta me causou maior impressão que tudo o mais; consultei minha consciência e vi que na verdade também não desejaria ser feliz sob a condição de ser imbecil.
Expus a questão a filósofos, e eles foram da minha opinião. “No entanto – dizia eu, – há uma terrível contradição nessa maneira de pensar”. Pois de que se trata, afinal? De ser feliz. Que importa, pois, ter espírito ou ser tolo? Mais ainda: aqueles que estão contentes consigo estão bem certos de estar contentes; mas aqueles que raciocinam não se acham tão certos de bem raciocinar. “É claro – dizia eu – que se deveria preferir não ter senso-comum, uma vez que este contribua, o mínimo que seja, para o nosso mal-estar.” Todos foram de minha opinião, e todavia não encontrei ninguém que quisesse aceitar o pacto de se tornar imbecil para andar contente. Donde concluí que, se muito nos importamos com a ventura, mais ainda nos importamos com a razão.
Mas, refletindo bem, parece uma insensatez preferir a razão à felicidade. Como se explica, pois, tal contradição? Como todas as outras. Aí há muito de que falar.

Faminta

Muitas vezes os desejos do corpo se confundem aos do coração.E esse é o perigo de tudo.
O corpo não é independente, não sente sozinho, conta tudo pro coração.
O coração , se arrepia.Bate forte.Vibra.
Todos os pêlos do corpo se eriçam ao pensar naquele corpo negro borbulhante.E logo o coração bate de saudade.
Ele não foi treinado pra dizer que ama.Já ela , nasceu amando tudo que se mova em cima dela, e dentro dela.
Ele não é apropriado.Nada de belo .Nada de brilhante.Nenhuma luz de sapiência.
Quanta cachorrice a dela , a dele, a nossa...Se sentir comida é o seu prêmio.
Se sentir como o prato do dia de um restaurante popular em frente a uma grande obra de construção com mil pedreiros famintos.Ser comida , cheirada , lambida infinitamente ...e violentamente...e muito rapidamente (o que nao é sinonimo de mal digerido, pois a fome faz a gente comer muito rápido).
Já sofreu por não tê-lo convencionalmente ( daquelas formas de mãos dadas , cineminhas dominicais , pique-niques na grama) por ausências de outras experimentações.
Experimentou outros homens.Namorou.Sofreu de novo.Se reergueu.E voltou ao ponto de partida apenas pra se divertir, pra nutrir seu corpo de coisas úteis, de líquidos fúteis, de suores e licores.
Mas as coisas não são desse jeito , e ela bem sabe.Sabe o quanto a sua anatomia é louca e que seu corpo todo é coração (maiakoviskiana).
Seus ultimos banquetes foram os mais deliciosos.O tempo que passaram ausentes um no outro aumentou demais todas as vontades.Quando ela entrava em sua sala , se embriagava com o cheiro que daquele corpo exalava.
Era inebriante...
Bastava senti-lo para que ja quisesse se atirar por entre aqueles pêlos esbranquiçados.
Tentou fugir.Mas o leopardo negro perseguiu a lebre até conseguir devorá-la.
Devorou sem cerimônias.E como a lebre gritava de prazer e terror ao ser devorada...Como a lebre gemia ao se deliciar com o leopardo.
Acabava, molhada , escorrida...lânguida e nutrida.

Agora os tempos são outros.Mas é preciso ter cuidado.A saudade lhe começa a roer os cantos da boca, e as dobras do corpo no dia seguinte ao do banquete.Ela não pode contra a paixão.E a paixão nasce e renasce em qualquer canto, e jorra de suas pernas.

sábado, 19 de junho de 2010

Carta de Intenções - Fabrício Carpinejar

Que eu possa abrir minha casa como uma garrafa de vinho. Que eu possa sair de casa como uma garrafa de champanhe. Que eu possa respeitar opiniões diferentes da minha. Que eu não tente convencer ninguém a pedir desculpas. Que eu possa me desculpar antes do ódio. Que eu possa descobrir a altura dos postes com pipas. Que eu possa pescar conhecidos nos viadutos. Que eu possa escrever cartas de amor de repente. Que eu possa viajar para adorar a distância. Que eu possa voltar para dizer o que não tive coragem. Que eu possa conversar com estranhos para matar a estranheza. Que eu possa comprar fiado minha própria fé. Que eu amarre os sapatos dos filhos como se fosse um terço. Que eu possa gemer diante de uma torta de nozes. Que eu pense em meu amor ao atravessar a rua. Que eu pense na rua ao atravessar o amor. Que eu possa engolir o vento em cada esquina. Que eu possa ouvir as cigarras de noite. Que eu possa diferenciar as árvores. Que eu erre um caminho para descobrir novas paisagens. Que meu carro tenha cheiro de bala de goma. Que eu ajude sem questionar. Que eu dê conselhos sem condenar. Que eu não exija demais dos outros. Que eu exija demais de mim. Que eu possa dançar com os pés nos ouvidos. Que eu possa aprender a tocar violino. Que eu possa aprender a dizer sim. Que eu possa tomar banho de cachoeira. Que eu possa madrugar para esquentar a água do chimarrão. Que eu possa descobrir ervas curativas no corpo de minha mulher. Que eu não acorde com o telefone tocando. Que eu não faça piadas de mau gosto. Que eu seja a vontade de rir. Que eu prepare pratos exóticos para aumentar a fome. Que eu não dedure os amigos para passar bem. Que eu pendure bonecos no varal. Que eu faça sinal para o trem parar. Que eu bata no tapete com a vassoura. Que eu assobie para chamar a alegria. Que eu possa chorar ao assistir filmes. Que aproveite a luz do corpo para ler de noite. Que eu possa embaralhar o sal com o açúcar. Que não faça fofoca fora do bar. Que eu não seduza para confundir. Que eu seduza para iluminar. Que eu mande flores para meu próprio endereço. Que eu estenda a toalha da mesa como se fosse um lençol. Que eu não sacrifique a confiança pela covardia. Que eu possa cuidar da minha cidade como um irmão caçula. Que eu use a voz como campainha. Que eu possa repor os pássaros em seus ninhos. Que eu encontre uma loja para consertar chapéus. Que eu encontre uma loja para consertar cabeças. Que eu não mude de ideologia para conseguir um emprego. Que eu não precise gritar dentro de casa. Que os cachorros tenham faixa de segurança. Que minha mulher me responda os beijos com arrepios. Que eu possa devolver os livros que tomei emprestado. Que eu não peça a devolução dos livros que emprestei. Que eu tenha dúvidas, melhor do que certezas e falir com elas. Que a sorte não seja o cartão furado da loteria. Que eu possa barbear o medo. Que meus amigos deixem de comprar o jornal pelos classificados. Que a única corrente que use seja a do balanço para embalar meu filho. Que a poesia não fique na estante mais escondida das livrarias. Que eu ligue mais para meus irmãos para falar menos dos outros. Que eu escute minha mãe falar de seus problemas até o fim. Que minha mulher possa entender o que nem preciso falar. Que eu conte meu dia na hora do jantar. Que eu cumprimente meu vizinho sem temer a resposta. Que eu possa dar as roupas que não uso. Que eu possa ler revistas antigas em consultórios. Que a cor da pele não seja maior do que a cor do céu. Que os gays possam se beijar fora da novela. Que minha letra saiba montar no cavalo das linhas. Que eu ande de bicicleta para me demorar na cidade. Que eu cuide das plantas da mão alisando a chuva. Que eu não fique cobrando para me aliviar do trabalho. Que eu aprenda a guardar segredos sem jurar por Deus. Que eu tenha menos vaidade. Que eu tenha mais realidade. Que eu invente mentiras convincentes para chegar às verdades. Que eu perca o pavor de supermercado. Que eu não brigue com o caixa pelo tamanho das filas. Que eu não pense na morte antes de dormir. Que eu volte a rezar sem querer. Que eu possa nadar na neblina. Que eu não tenha receio de ser ridículo. Que eu faça amizades falando do tempo. Que eu pare de fumar. Que os ex-fumantes parem com os sermões. Que eu escreva nos livros o que os livros me escrevem. Que eu possa brincar mais sem contar as horas. Que eu possa amar mais sem contar as horas. Que eu possa puxar os cabelos do vento. Que eu use somente as palavras que tenham sentido. Que eu prove a comida nas panelas. Que eu aceite os conselhos da loucura. Que transforme a raiva em vontade de me entender. Que o trânsito não seja sauna. Que eu passe a xingar o pai do juiz no estádio. Que meu time não me engane na última hora. Que eu possa assistir shows com meus filhos na garupa. Que eu atinja o segundo andar das ameixeiras. Que eu abra o capô apenas do piano. Que eu não precise fechar as janelas na sinaleira. Que eu visite mais minha sogra. Que o domingo não termine com o futebol. Que o musgo cresça onde há paredes. Que as heras cresçam onde há muros. Que as escadas cresçam onde há joelhos. Que eu possa caminhar a esmo na respiração. Que eu durma fazendo sexo. Que eu me levante de bom humor. Que eu possa soltar os vaga-lumes que prendi em potes. Que o governo seja competente para ser esquecido. Que eu faça aniversário de criança nos meus 34 anos. Que o verão seja se afogar em dunas. Que eu não pergunte a uma mulher sua idade ou se está grávida. Que eu me lembre do nome de colegas da infância. Que eu me lembre dos finais dos filmes. Que eu lembre do início dos olhos. Que eu me lembre de ser feliz enquanto ainda estou vivo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Você não moveu

Desculpa.
Te magoei.Te deixei triste...
Talvez tenha te deixado tal como me encontraste naquela noite de jazz...de olheiras profundas, de andar trôpego , de vestes maltrapilhas...encontrando alegria somente nas profundezas do copo de cerveja.
Desculpa...eu não desejei tal coisa.
Mas esta que agora escreve é outra.Esta que agora escreve não sente nada.Ou melhor ...sente tudo.E esse tudo de nada tem a ver com "estar ao lado de quem tem necessidade de mim".Esse tudo meu de agora tem a ver com liberdade, com desejo , com movimentações.
Querido...você não moveu....
Não moveu uma palha
Não moveu um centímetro
Não moveu meu corpo.
E ao deixar meu corpo inerte me acordou pra outras coisas.
Você me necessita, e não estou pronta pra ser necessitada.Queria mesmo era me necessitar de você...e você me nutrir de coisas indecifráveis.De coisas indecentes...de coisas...
Ah que droga!Não te necessitei...e você se necessitou de mim...querendo ser amamentado...querendo ser nutrido pelo líquido aminiótico.Não te nutri apenas por achar que precisava de comidas substanciais como ... "arroz e feijão".
Te abandonei, e não vou ditar nenhum motivo especifico.Pois tudo acaba.E tudo começa.Vai acabar pra mim tambem.E vai de novo começar.Lá vai esta daqui embriagar-se na solteirice.

domingo, 13 de junho de 2010

O corpo é templo do espírito santo, disse -me alguém adepto de uma certa religião que me dá náuseas.O meu espírito é santo enquanto físico.Ele se abrasa junto com o corpo.Meu espítrito não atravessa paredes, e sim corpos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Incesto


*Arte de Mariana Bickhova*
Você não está pronta para isso.
-Não estou pronta?Não estou pronta para quê?Não estou pronta por quê?
-Não está pronta.Vá embora e pense nisso querida.
Revirei -me em cogitações.Fumei cigarros.Esbofetei-me.
Ah Você sempre me foi necessário , agora que me vi livrada de uma morte lenta.
E como se não bastasse , agora dera pra me lançar verdades as quais "não estou pronta".
Você representou pra mim uma espécie de filho.Uma criança a ser cuidada, abraçada ,acalentadae por fim amada.Porém um filho amante .Um filho que eu amamentei sexualmente.Um filho que sugou meu seio com fome de homem e não de menino.
E agora tu te rebelas contra a tua mãe , me dizendo que não estou pronta?
Zigue zaguei, tomei um onibus pra casa, aspirinas para dormir, café para acordar.
Ah meu filho desejado...
Você foi covarde.
Você foi frio.
Você foi pecador.
Como não pôde suportar sua proteção de mãe ( a mais afável)?Como não ter querido esse meu amor tão amor materno.Por que não se lançou de vez naqueles meus braços.Os únicos que lhe queriam tão bem.
Querido , você ainda depende de mim, do meu afago e fogo...Não vá pensando que já é um homenzinho.Droga.
Meu bebê inocente eu te perdôo.Mas nunca mais faça isso com sua genitora.Volte para o seu cólo.Estou a te esperar com meu seio tão cheio de leite.Tão cheio do liquido vivificador...do liquido germinador da vida.

O tolo e a Bailarina


*Arte de Degas*
Naquela suave tarde em que de tudo se esquecia, despertou-se com lembranças sexuais infindas. Aquelas noites lustrosas, em que luzes piscam, e corpos tremem um leve sorriso lhe pintou a boca.
Aquele senhor quase idoso lhe trouxe noites quase perfeitas, se não fosse o desdém com que lhe tratava após aquele amor rápido e urgente dificilmente feito na cama. Retornava ao seu lar de família (pai, mãe, irmãos e cachorros) com ares de mulher feita e dona de si, e acordava com a espada de arrependimento e da saudade cravada no peito.
As parcas horas que passavam juntos, em qualquer canto da cidade, eram frutíferas. Se havia algo que ele,não podia permitir acontecer, era que ela, nua em pêlo, deixasse de gozar todos os gozos possíveis naquelas suas mãos enrugadas, e aqueles braços fortes de veias protuberantes.
Eram tantos tapas, e gritos, puxões de cabelos, e arranhões, e mordidas...que se por ventura, ela por vingança ou capricho quisesse acusá-lo de violência, seria por demais fácil de comprovar.
Aquele homem a quem tanto amara, e por quem seu corpo de rolinha machucada, tanto gritava o nome por breves instantes de volúpia, não tinha menos que cinqüenta anos. E ele, nunca revelou-lhe a idade, por assumir ser escandaloso a diferença entre eles.Mas ela, embora tinha menos da metade de sua idade, se considerava (e realmente o era) muito mais idosa em sapiência e inquietude.Não conseguia compreender claramente por que era tão necessário aquele homem bruto e ignoto lhe rasgar as entranhas com seu sexo de cavalo colossal, lhe molhar os seios com a saliva quente, e trucidar aquele corpo quieto.Mas sim, era cada vez mais necessário pra ela (pobre moça infeliz) se embrenhar naqueles pêlos brancos e naquela pele negra borbulhante.
Xingamentos dos mais sujos e tórridos proferia ele em cima dela, e a feria como uma estaca incandescente perfurando seus ouvidos.Mas era tarde pra desistir .Era tarde para vestir a calcinha de algodão e sair de cabeça erguida.O motel barato já havia sido pago.Ela escutava então triste, mas gozava feliz em cima daquele homem rígido, e oco.
Depois voltava novamente para a casa com ares libertinos, com a cabeça baixa, e com o sexo exorcizado.No dia seguinte, sempre arrependida, proferia uma infinidade de impropérios àquele homem, e o culpava sempre pelo acontecido.Ele já acostumado, fazia-se de ouvidos moucos.Já sabia quanto tempo duraria aquele falso ódio daquela moça triste e enlouquecida, a quem de uma forma ou de outra fazia tão feliz.
Sara sempre fora uma moça sabida, forte, segura.Devorava com ardor a literatura dos grandes autores.Conhecia como poucos a boa musica.Moça de bom gosto, sabia dissertar sobre arte como poucos de sua época e de sua idade.
E foi nos seus estudos de música que Sara conheceu Antonio Ricardo, homem rude do morro, sambista, era o seu professor numa considerável escola de musica da cidade.E foi como por brincadeira que os dois começaram a conversar no final de uma das aulas de instrumento.Uma conversa boba, insignificante:
-Perdi meu pai no ano passado, dizia Antonio e Sara fingindo-se interessada conversava no mesmo nível:
- Minha mãe foi internada há pouco tempo, por problemas de coração.Quase morreu.Fiquei preocupada.Mas o pior já passou, dizia ela tentando manter uma conversa que o interessasse.Afinal não sabia exatamente de que se ocupava a cabeça desses sambistas.
E foi na semana seguinte, na mesma aula, que sentiu olhares diferentes dos de antes daquele senhor que tinha idade para ser o seu pai.Um olhar lúgubre, quase esfomeado.Sentiu-se desejada, como há muito não acontecia.Afinal de contas, já não sabia mais o que era o prazer de uma conquista.Há muito tempo que estava imersa nas poesias, e livros, e filmes.Pouco tempo tinha para essas coisas.
Uma onda de calor percorreu todo o seu corpo (como há muito tempo não acontecia).Sim, ele com um simples olhar a deixou ouriçada.Fim de aula.Ele a chama junto a ele.Lhe dá um abraço.Um abraço lúgubre, cheirando a lascívia, e lhe lança outro olhar daqueles.Ela, sozinha, volta pra casa com pensamentos inquietos:
-Ora, mas o que queria ele?
Na semana seguinte, se esparramaram numa cama de motel.E ela, aprendeu em uma semana todas as artes sexuais existentes no mundo (com o perdão do exagero).Depois disso veio a vontade infinda de se ver, os ciúmes, os sentimentos de posse, os palavrões, as porradas, as lágrimas, os arrependimentos.Porém Sara nunca consegui se livrar daquela chateação que chamavam de desejo.Uma paixão do corpo.
Quis casar-se com ele, mas sabendo que aquilo tudo era uma besteira.Aquele homem feio e ignorante , indubitavelmente nunca a faria feliz de verdade, exceto na cama.Mas e quando se enjoarem?E depois do sexo de que falariam?
Sara não ponderava sobre isso, pensava com o sexo, somente com o sexo...precisava mais do que sabia daquelas sensações indizíveis que ele lhe provia.
Mas sim, Sara desejava este homem pra si de maneira indecifrável...enquanto que ele se divertia com meninas de baixo nível, e nunca se interessou pelos seus pensamentos vociferantes.
Sara nunca o amou de verdade...
"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."


Anais Nin

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vá embora!



*Arte de René François Magritte*


Não querido
Não venha me dizer que estou gorda, que engordei, ou que já fui mais magra...Não, de maneira nenhuma sei comer alface no almoço...eu como porcos, dos mais imundos!!
Não querido não venha me reclamar sobre o possivel esticamento da minha pele...das linhas, ou rugas, ou buracos...
O que importa?
Minha pele sensível a qualquer toque ou porrada grita agora impropérios e sangramentos.
Não querido, não me diga que sou tua.
Não nasci de casca, nasci de fenda...a mesma fenda que insiste em enterrar teu simbolo viril e soltar um gritinho sem jeito depois que tudo acabar...
Não penses que sou a esposa perfeita, dessas fiéis e traídas (ao mesmo tempo) que espera calada a tua volta envolta numa névoa de lençois finos, vestida na cor que você gosta.
Não querido , não me venha colocar leite nos peitos, e gente no ventre.
Não sou dessas que embala bebês nos braços, enquanto você se diz homem de encantos.
Não querido , não me venha dizer que devo mostrar as pernas , o cólo, ou qualquer coisa indecifrável do corpo.Não me venha dizer que meu prazer de ser é ser de alguem.Que nao vivo feliz sem a tua companhia, que sofreria sem a tua metafisica.Não me venha dizer que vou ficar pra titia,ou pra vovó ou pra mamãe ou pra qualquer parente desimportante por que nao sei ser propriedade de homem.Nao me venha dizer que devo ser linda o tempo todo, fragrante o tempo todo, educada o tempo todo e que devo sofrer em cima de um salto alto altissimo. Que devo saber cozinhar mais que um ovo, que devo saber me portar na mesa e na cama (ponderada o tempo todo).Nao me diga Te amo nunca.Sei bem que teu amor nao vem de lugar diferente que de tuas coxas machistas, e que escorre rapidinho.
Não querido!!!Não querido!!!Não querido!!!!
Não me chame de vadia só por que meu coração está em pulos sórdidos por outro alguém que nem sei quem...Você faz pior!!!Eu amo de verdade , você mente, devora, goza...e depois fecha o zíper.
Não venha me dizer que devo te esperar no cais de uma amor terrorista...vai embora querido...vá, e leve tuas cuecas samba-canções e discos de samba.

A garrafa de vinho e a moça de unhas vermelhas


Quando passou apenas com uma garrafa de vinho e as moedas contadas , sentiu um olhar de soslaio e desdem da mocinha do caixa do supermecado.
-O que foi?- pensou ela em direção a moça do caixa - nunca se sentiu terrivelmente só a ponto de querer embriagar-se uma tarde inteira?
Sentiu que a mocinha escutou seu pensamento vociferante e baixou os olhos em contrição.Sentiu-se orgulhosa.Afinal nunca conseguiria dizer isto de verdade a um estranho.
Seguiu a estrada de mãos dadas com a garrafa de vinho...como um casal apaixonado.Ela apaixonada pelos momentos parcos de alegria.O vinho apaixonado pela solidão da moça que ele devoraria pra si por pouco tempo.
A moça não queria mais esperanças...
Já esperava sempre pelo pior , quando saía de casa com as unhas pintadas de vermelho(o mesmo vermelho que jorrava do seu coração inquietante, passional, indecifrável), e o corpo cheirando a jasmin...querendo ter algo que lhe fizesse acreditar que tudo daria certo (desta vez ).
Mas nunca acreditou.
Aprendeu a fazer contagens regressivas de seus amores malogrados...
-Não dou mais que duas semanas pra que isso tudo acabe da maneira mais sangrenta possivel.-falava pra si mesma quando estava em companhia de qualquer rapaz (de bem ou não) , que lhe cruzava o caminho com flores e palavras doces.
Sempre acertava.
9,8,7,6,5 dias...assim contava...e quanto mais proximo chegava o dia do fim fatidico, mais indiferente ficava.
-Vai acabar...- sempre pensava ela...
E assim o era.
Aprendeu a não mais chorar.
Já havia chorado muito é verdade, mas sua idade de agora (já não era a mesma adolescente tola de antes que sofria com a esperança parca de que alguem voltaria com a mesma flor na mão), não lhe permitia mais lagrimas desnecessarias.
Curava sempre um amor com outro, uma ferida com outra, um beijo com outro.
E assim vivia sempre só...a espera de um amor que acabaria sempre logo.
E naquela tarde que saiu do supermercado de mãos dadas com a garrafa de vinho, percebeu que seria sempe assim.Já sabia demais da vida.E isso não é próprio das pessoas felizes.Pessoas felizes geralmente não sabem de nada.E por isso , de fato , são felizes.
Ficou indecisa!Entre saber um tanto da vida e estar pronta pra encarar armadilhas, e nao saber nada , sempre tola , feliz com qualquer agrado.
Fez amor com a garrafa de vinho.
Esperou a noite acabar.
Perfumou-se.
Deixou sangrar os sentimentos (pelas pernas).
Retocou as unhas (de vermelho).
Deitou-se na cama .(sozinha novamente, envolta em lençois encardidos)
Concluiu:
O melhor a se fazer era comprar outra garrafa de vinho ( a mais miserável) , encarar o olhar de desdém da moça do supermercado,(o mais humilhante) voltar pra casa sozinha, com seus pensamentos atormentados, esperando outro amor fugidio passar.(outro amor fugidio passar).
E nada mais havia de se querer....

Um domingo sem flores


Durante uma viajem barulhenta
para um casulo de artes paranoicas,
a moça triste derramou lagrimas escutando Piaf.
Chegou cedo a um bar de alegrias e pensou no dia de ontem...
Quando um moço feliz de nariz vermelho e largas botas
lhe ofereceu um sorriso de alcatrão.
Ela riu sobriamente e abraçou o moço luminoso com cheiro de jasmin.
O moço de nariz vermelho, largas botas e sorriso de alcatrão,
amenizou o dia da moça triste com coreografias circenses suaves e palavras cotidianas.
Lhe ofereceu um cigarro...
Foi embora...
Deixou que a moça pensasse em sobretudos.
A moça encontrou quem deveria...
Chorou com textos sobrios...
Bebeu tiúba...
Caminhou..
Encontrou quem nao deveria...
Chorou pela terceira vez...
Deu adeus...
Atravessou a ruas...
Fumou oito cigarros...
Cochilou.
Acordou de repente.
Voltou para o lar...

Ao chegar encontrou o moço luminoso
de nariz vermelho,
largas botas,
cheiro de jasmin,
e sorriso de alcatrão
estirado no seu leito de ausência...

Ao analista mais desejado

Droga, você me cativou...
e o pior de tudo,
Deu as costas pras minhas desditas.
Me deixou com inumeras vontades indecifraveis
E agora se alia às concubinas estrangeiras.

Então tá querido
O que pensa que irei fazer?
Não foi você quem me disse que eu não vivia as coisas da pele
Talvez eu precise mesmo...
talvez não.
Agora eu só quero que o dia me dê bom dia!
Tomo um gole de vinho
(ou uma garrafa)
e esqueço tuas feições perfeitas
e teus olhos de azeviche...
E teu dedo médio aliançado.

Ah vai...que falta me farias?
Já aprendi, a vida é assim.
A solidão anda por perto à espreita sempre que existe qualquer parca chance.
E agora novamente ela retornou com ares de imponência e glamour dizendo: - Eu sabia!
Que importa?
Vai me dizer que a culpa é minha?
QUe não sei viver como deveria?
Que fantasio tudo?
Ah meu analista desejado...
Vá embora então e guarde este poema no bolso mais rasgado.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Não me digas nada, vejo que me entendes,
mas tenho receio dessa compreensão.
Tenho medo de encontrar alguém semelhante a mim
e ao mesmo tempo desejo-o.
Sinto-me tão definitivamente só, mas tenho tanto medo
que o isolamento seja violado e eu não seja mais
o cérebro e a lei do meu universo.
Sinto-me no grande terror do meu entendimento,
meio por que penetras no meu mundo;
e que, sem véus,
tenha então que partilhar o meu reino"

Anais Nin

Pretenso Condimento

A lista dessa receita extrapola dissabores
e é arrematada por um vinho de quinta
e é sexta

Tudo bem
Nunca ninguém me enganou
nem leu contos de fadas
numa tentativa cruel de iludir

Estive por aí crendo descrendo
chorando lendo rido bebido
fornicado etereamente
eternamente que sou apaixonada

Um amigo diz que nunca amei
meu conceito é vadio
e sou volátil
não tenho preferências fixas
sou pouco confiável
e a receita solou antes mesmo do esquentar no forno crepitante
meus pensamentos

Coloque menos sal
aprenda a gostar do açúcar
Não beba enquanto come
Pimenta demais faz mal

Uma mulher que não saiba cozinhar tem chance de ser promissora quando rima?


Starla
Agora posso entender...
mas é tarde.
Eu estou aqui e você não sei onde.Isso já não mais me entristece, mas ainda queria que a ordem fosse outra.
Talvez não mais tenha (tanta) saudade.Talvez não mais ainda sinta(tanta) saudade.Talvez agora meu desejo tenha outro nome (outros nomes).Talvez agora , eu mesma, tenha outro nome.Talvez agora , você também, não atenda mais pelo mesmo nome.
...
Você saiu cedo , eu diria.Não deixou que eu terminasse a cena fatídica da minha vida tão romancesca.Foi embora antes da tragédia maior de todas para começar outra trgédia.Para começar a minha tragédia.E se foi...foi assim.
Mas que bom que foi embora...pois pude perceber assim coisas tão antes ininteligíveis.
Você foi outro chegou.Me fez feliz.Me amedrontou.Me irritou...e se foi também.
Mas agora a ordem é outra.
Quem bom mesmo estar agora em paz (sem deus).

domingo, 4 de abril de 2010

Santidade desconexa.

É tão perfeito que tenho medo sim.E não é bom ter medo, eu sei.O medo atrai, e não quero que atraia.
Ah mas como não ter medo ?Como acreditar cegamente?
Não que eu não acredite, mas ás vezes basta uma palavra mal dita numa hora errada pra se pensar : Será ?
Me sinto tão necessitada dele...e até um certo ponto não acho isso bom.E se fores embora , como ficarei?Como me sentirei se partires ?
Será que precisarei novamente de calmantes?Será que me entorpecerei uma tarde inteira ?Será que desejarei a morte?
Será que futuramente cansarás das minhas manias peculiares?Será que um dia dirás: Não sinto mais...
Será , será , será...
Quantos "serás" povoam a minha cabeça e coração febril sem que eu permita.Juro , juro que não permito e expulso as dúvidas pra fora de mim...tento focar no que há de bom.Mas a minha natureza...ah a minha natureza é indigesta.Meus textos indigestos ...minha vida indigesta...meu corpo indigesto.Tudo em mim é indigesto, e vomito diariamente o que não foi aproveitado.E tentando sempre me alimentar de coisas que me façam bem , sempre , sempre.Porém , ainda assim, alguma coisa é mal digerida...e então regurgito.
Sinto saudades diariamente.Sinto os cheiros diariamente .Sinto os toques diariamente....Ah que terrível.Que doce loucura a de querer dividir-se a alguém.Que grande risco o de atirar-se .Mas é preciso...É preciso arriscar-se.Sofrer é preciso.Cair é preciso.
Por enquanto me afogo em seus afagos.Me cego para o pessimismo.Carrego em mim uma esperança de simplesmente dar certo com a soma dos dois corpos, das duas almas , dos dois corações.Procurando não pensar no que "poderá ser", e apenas "sou".Estou sendo.
Aquela alma é irmã.Aquele corpo é irmão.Aquele coração é irmão.E tão incestuosa que sou eu,me arrisco.
Bebo da sua boca , a saliva dos deuses.Provo do seu toque, o cetim.Através daquele olhar sou sugada para o paraíso.Seus cabelos me dão a áurea necessária para ser santa.
(A santidade me vem sobre outra forma.Não cometi qualquer ato heróico, e nem fé demonstrei durante esses anos.Mas me tornei santa a partir do momento que curei as chagas da alma sem nenhum unguento milagroso.Curei-me abrindo-me.Me mostrando.Dando a minha cara a tapa.Sou santa.)
Falo de coisas desconexas.Não me atinjo.Não me destrincho.
Amo-me, logo amo-o.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Quem é que se joga nas pedras do Arpoador ?

O meu bem é sincero,
e ás vezes se entrega em palavras duvidosas...
Mas compreendo e acredito, por que tenho a essencia das verdades.
Sei o que os olhos dizem quando mentem...ou não.
Não importa.
A vontade é a mesma...
O desejo é o mesmo...
A ambição é a mesma.
O moço de cheiro de baunilha acalenta os infernos passados
e põe sorrisos puros nos rostos incrédulos.
Sinto o coração bater...
Sinto o corpo queimar...
Sinto a razão duvidar: Cautela.

Mas o moço ganha sempre e a moça não perde nada
E por isso se alegra no cólo , na língua, no tato...
A moça pula de alegria.
O moço também.
A moça quer proteger...O moço se jogar.
A moça também , mas diz : - Cautela, é preciso cautela.

Mas a moça também quer se jogar e se arriscar nas pedras do Arpoador...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Fala baixo Coração!

A vida surpreende.Quando você pensa que aprendeu a como agir diante de certas situações, acontece algo em sua vida, alguém em sua vida que desconstrói tudo e te deixa com as buchechas ruborizadas e o sangue cardíaco fervente de total inabilidade no que fazer.
Não adianta.Viver é sempre um aprendizado.Você sofre e aprende com a dor , e acha que na proxima vez sera tudo diferente, pois acha que " aprendeu".Porem tudo aquilo que se acha que aprendeu de nada vai valer para aquela certa situação.Cada situação é diferente.Cada pessoa é diferente.Cada lugar é diferente.Cada energia é diferente.E o lance é realmente deixar acontecer, e fazer falar o coração.E se ele gritar muito alto, pedir com educação que ele fale mais baixo, convidar ele para um chá de camomila, yoga.Pois o coração não gosta de obedecer e apenas mandar.Mas se falarmos com ele com educação e explicar-lhe o que acontece, ele pode tambem ser educado , sem gritar demais, sem escandalizar demais, sem se abrir demais.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Tornar-me-ei encantada.

Aflição.É a palavra.
Há menos de dois meses eu torcendo por uma morte sangrenta e espontânea, hoje acordei com um leve sorriso pintado no canto da boca.
Será possível não ter esperanças ? A esperança de que "vai dar certo desta vez" sempre me acomete nas horas mais duvidosas.
Estou velando um amor com outra grossa mão masculina.Errado?A tentativa é sempre a mesma...sofrer é necessário.Afligir-se é necessário.
É preciso enterrar o amor ainda vivo, para que ele não me enterre.
A impressão é de que não, não mais o amo.A fúria de antes foi embora.E acaba de chegar uma outra fúria diferente.Aquela que racha meus lábios de prazer , e me acalenta num cólo quente e pacífico.
Minhas pernas querem correr para ver de perto.Desejo o desespero de vencer a luta.Os toques são certeiros.Os cheiros são certeiros.O gosto é certeiro.
Agarro esse tempo com o mesmo desespero de antes: Não , não vá embora.Fique e modifique.
Tornar-me-ei encantada, é o que prometo.

Minha culpa, minha tão grande culpa...Lucianne Menolli

O porteiro do seu prédio olhou-me
com aquela reprovação no ar novamente.
Ele não compreende,
pobre homem,
que eu preciso me marcar,
preciso andar trôpega,
carregando na mão as meias-calças...
preciso sair daqui assim,
de roupas mal colocadas,
bochechas vermelhas,
mãos machucadas...

Ele não sabe
que cabelo oleoso denuncia mais
que cabelo molhado,
que minha calcinha eu deixei
em cima da tua mesa,
ele não sabe
que eu vou chegar em casa com fome
e vou ligar para outro ex...
Um alguém qualquer que vai me dar
"de graça"
champagne, televisão e chocolate...
Tudo em troca de alguma estúpida cena
que faria de qualquer Lolita imbecil
uma covarde.

Faça uma pose.

Sou uma mulher em disfarce.

Há meses encaro a sua feição
com desprezo
e um pouco de alarde.
E não sei se me ofereço,
se demoro o passo
para que
dê tempo dele ver,
nas minhas costas,
a tua tatuagem que escorre...

Ah, a vida
sem isso
seria pior que um porre.

Jogos de Glória- Lucianne Menolli

Meus sonhos têm a palidez secreta
de uma pequena morte,
um transe induzido,
um coma inventado.
Avanço sobre pratos de comida como quem
estivesse diante de um prazer indizível,
inenarrável,
mas incontrolavelmente oferecido.
Sou uma mulher diferente quando
olho-me no espelho.
Estou contando vantagem sobre meus
desesperos,
contando os homens de terno, farda,
fraldas e bermudas
que atravessam livres
o beiral de minha porta.
E divido
centavo por centavo do dinheiro dessa aposta
que perdi;
as baratas me cobram. Devo tudo à elas.
Estou na sarjeta por ter sonhado com alturas.
Cobras voadoras
que espancam todas as chances
de um dia eu me tornar bem-vinda.

Lucianne Menolli

quarta-feira, 17 de março de 2010

Não será um texto passional...

Não será um texto passional...com todos aqueles choramingos eu prometo.
Embora esteja passando pela pior fase, sofrendo e sangrando diariamente...estou amando.Amando a vida...coisa esta que tinha o maior medo de não acontecer durante todas as tempestades...Eu sou romântica isto é fato: "Românticos são loucos e pirados, e acham que o outro é o paraíso."...Mas esta escravidão...eu não quero mais.Quando de fato ,amei de verdade...experimentei o amor alentador, calmo e discreto, estraguei com minhas manias e necessidades fúteis.Me arrependo, eu digo.Ah se a gente pudesse ter uma bola de cristal e saber quais serão todas as consequencias de nossos atos e ter sempre um espelho mágico para nos aconselhar antes de fazermos as "merdas".Mas não, a vida não é assim.E mesmo que fosse (como em efeito Borboleta) mesmo os atos que pensamos fazer certo, terá algo de errado...
Todos sofrem eu sei...Já sofri outras vezes , e outras vezes passou.Aprendi muitas coisas....coisas estas que não foram suficientes para manter o teu amor vivo...e o que aprendo hoje com o que sofro , talvez não será suficiente para manter outros amores...(espero que seja, pois já cheguei no limite da cota de sofrimentos amorosos)...
Tive atitudes duvidosas eu sei...palavras insalubres eu sei...Mas fui outra a partir da pontada da dor.A dor transforma também...e me transformou numa esquizofrenica assassina...Meus impulsos, palavras sombrias, manias suicidas, foi a dor que gerou, e agora tento enterra-las (mesmo que vivas) diariamente...
Tuas palavras, aquelas querelas , foram sim certas.Amor não pode ser dependência...Mas eu não dependia ....e não dependia por que tinha-o ao meu lado.Passei a depender quando foste embora, e o desespero me fuzilou com balas de festim que pra minha má sorte do dia fatídico não me mataram de vez....Digo "do dia"...pois tudo o que eu queria naquela hora era sim morrer...não acordar mais.Depois a gente acorda e vê tanta gente nos amando que desiste por uma simples piedade dos outros...As vezes sem querer sou doentia.Mas isso já não mais importa.
O amor também depende...acho eu.Minha mãe também me quer do lado, e quando não me tem se desespera...O filho chora a falta do pai...da mãe.Isso não é normal?Se desesperar quando alguém que amamos parte pra longe de nós?
Talvez eu esperasse muito do meu amor...Talvez tenha me prejudicado.Mas a intenção não é sempre a mesma?Amar e ser amado ?Ou por acaso é propriedade do amor somente amar e não esperar ser amado ?
O que tenho agora é uma super vontade de viver...de queimar todos os meus livros e de sair nua pelas ruas...Não a nudez física...mas a nudez de experiências parcas e livrescas.Que vontade de conhecer gente , de comer cachorro quente na barraca do Sr Manuel, de roubar coisas de lojas muito chiques, de largar me ao vento.
Sempre tive tanta inquietude intelectual ...de querer saber de coisas e mais coisas, de devorar os livros , filmes e musicas...
Mas o que desejo agora é uma motocicleta correndo numa estrada á 120 km por hora...vento no rosto ...dormir em hospedagens, pedir carona...gastar dinheiro (ele realmente existe para ser gasto).
Dinheiro tenho pouco...e agora ainda resolvi investir mais da metade em um curso de pós graduação.Aliás diga-se de passagem...que ótimo curso...Os três anos de pedagogia com mulheres chatas e escovadas valeram a pena , só pela possibilidade de estar agora cursando ensino da arte...
Mas nunca me senti tão necessitada de dinheiro como agora...viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas, fazer um curso de bar tender, fazer tatuagem, comprar instrumentos , fazem parte dos meus planos...Então agora , sabendo de meu amplo talento de choramingar bolsas de estudo, irei até a caixa económica para solicitar um financiamento da pós.Não quero ficar apertada...quero sair , ir ao cinema e até ao mc donalds de vez em quando , para sair da rotina.
Ah viver viver viver...viver é a solução.Sou pouco instruída de vida , eu diria.E os livros não são tão sinceros...

"Não há castigo infinito. Não há dor infinita.
Um dia a gente termina para começar,
começa para terminar,
refaz o percurso como se nada tivesse acontecido antes.
Deixe-me apenas uma cadeira de palha,
amarela,
para olhar com piedade o que fui
e me deslumbrar com as ruínas" (Carpinejar)

terça-feira, 9 de março de 2010

Pobre Louca...

Verdade Oculta : Meu medo maior é que não mais nos vejamos...Eu não sei dizer , eu não quero dizer ...Mas acabo dizendo...Este é o momento de apagar este email antes de lê-lo.Faça isto.Como ? Você não fez ?Talvez seja por puro interesse mórbido que você continua permitindo que estas palavras incertas , confusas desfilem sob seus olhos - no entanto elas inflam, se ufanam! Como sou patética, como procuro desesperadamente que você me admire!Este é um momento de loucura.Sou uma louca agressiva.Eu queria que você soubesse .Ou melhor , não queria, mas há essa necessidade.De onde ela vem ?Eu tenho uma leve suspeita , mas premio-te com minha ignorância.
Você não faz idéia de como escrevo-te...a que profundidade de sentimentos preciso chegar para ultrapassar meus orgulhos.A que nível de loucura alcanço para querer ainda escrever-te.
A ufrj não me liga...não consigo falar com a psicóloga que me atendeu.Isso está me deixando apreensiva.
Certa vez li uma peça em que toda a cena se passava no fundo de um poço.Não prestei atenção no texto , por que imaginei que tipo de catarse era aquele.Em que momento e por qual motivo o autor teve a audácia de fazer toda a cena no fundo de um poço.Catarse?Se eu escrevesse algo a cena também se passaria no fundo de um poço...ou numa caverna escura e húmida (meu coração).
Transferi minha mesa do computador para meu quarto, para que eu escrevesse qualquer pontada de dor, ou qualquer poesia , ou um trecho de livro e não tivesse que caminhar até a sala....isso seria um tanto perigoso , o caminho até a sala poderia fazer-me perder idéias nos confins do pensamento.Minha mente não pára.Estou me devorando.Com a alma mordida....Eu sei lá o que eu quero dizer com isso...
Estou aqui em meu quarto na companhia de um velho amigo : Baudelaire.Estamos os dois conversando sobre coisas tétricas.Isso parece doentio.
Ás vezes sou deprimente...e você claro não precisa disso.Esta carta é uma espécie de confissão mal acabada.Eu me encontro no escuro, mas no fundo sinto vontade de ver o dia.Sair pra qualquer lugar banhado de luz e de vida.Ai...a loucura me acossa.Eu me sinto cansada...Mudando de assunto , encontrei em Baudelaire esses versos :

"Louca , por ti sou desvairado,
E vou te odiando enquanto te amo.(...)

Eu não sei , parece que sinto mais ou menos isso .Confesso-o.Mas isso não tem importância...Posso me contentar em ...esperar por uma luz qualquer.Entretanto é uma ameaça.Ah droga...Isso definitivamente não tem importância.Ao menos posso murmurar seu nome nos momentos de angustiosa loucura.
As vezes sinto vontade de cometer um ato de vandalismo...Há dias quase levei esta vontade a termo.Em minha mão havia uma pedra, à minha frente a vidraça de uma lanchonete , uma multinacional...Mas eu não fiz nada.No fundo, nem tão no fundo assim, eu sou uma boa moça...
Esta carta é uma declaração de amor de e de guerra.Não sei se vou chegar a entregá-la.Ou melhor a enviá-la.Mas eu sempre envio...sempre escrevo com a intenção apenas de esvaziar, escrevo no bloco de notas e salvo no meu computador ...Porem , não passa mais de 10 minutos em silencio na memoria, pra logo após ser jorrada em cima de você.Desculpa.
Sou patética de tanto que pesso desculpas.Quero perder os movimentos dos dedos , para não mais escrever-te...pelo menos por um mês...ou até mesmo uma semana.
Porém , não se preocupe, apesar do nível gritante de doentismo de minhas palavras , atravesso uma fase em que estou muito comedida.Eu só quero poder odiá-lo.Por algum tempo.Pra que eu possa te dar então o tempo necessário.Para que eu não me humilhe tanto com essas palavras doentias.
Mas não, eu não te odeio.O que tenho é amor ...aliado a um desespero crescente.Sabe quando se deseja que alguém especial descanse a cabeça no nosso peito?Quando temos a necessidade de nos tornar uma espécie de refúgio , de lenitivo para quem ...amamos?
Baudelaire toca meu ombro, e é como dissesse: Pobre louca...Ambos nos encontramos na escuridão mais funda, e aqui , em baixo, é em você que eu penso...Minha boca murmura o teu nome.

terça-feira, 2 de março de 2010

Esparramo para não apodrecer...


Sofro de múltiplas personalidades.Vagueio entre a tristeza intensa e a euforia.Povoando tua ausência sempre, com mil coisas as vezes desimportantes.Arrependo-me.Grito.
Sobrevivo durante mais um dia.Durante mais um dia não choro, não grito, não morro.Comemoro.Mas eis que alguma lembrança , mesmo aquelas mais disformes me acomete o pensamento...e ai então não sei bem o que acontece.A tristeza volta , o desespero volta.Corro pra casa pra lhe escrever qualquer coisa...na esperança de dizer algo que lhe perfure o coração de tal forma que retornes a mim.
Mas isso não acontece.Isso não acontecerá.Estou errando, não faço o certo.Posso dizer até que estou bem.Que estou forte.Que minhas dores se transformam em potencia.
Mas e se não passar ? Mas e se um dia me casar com outro ainda pensando em você?E se um dia apareceres com outra?E se um dia sofreres por outra, estando eu aqui sofrendo por você?Enlouqueço.Me vejo esparramada como um balde de tinta.
Qual a receita da tranquilidade?Você sabe ficar tranquilo?Me ensina?
Ah claro...você não quer me ver...você não me ensinaria nada ...você não me salvaria.
Desculpe.Invadi mais uma vez seu dia com palavras grotescas.Mas que importa?Talvez você não esteja lendo .Talvez você tenha passado o olhar fugaz e nenhum pouco sedento.Talvez tenha apagado no momento que abriu.Talvez não tenha feito nada.Isso não te importa.Se eu te amo , não te importa .Se eu sofro , não te importa.Se eu vivo, não te importa.Nada mais em mim te importa.E isso é...
Queria tanto me curar de você...e ando fazendo todo o esforço possível do mundo.Acordando cedo, vendo o sol nascer e depois volto a dormir.
Ah sim...comprei uma bicicleta ergométrica.Também me "terapêutiza".Corro pra ela quando tua ausência me cutuca.Transformo tudo em gotícolas de suor.Corro como se tivesse indo ao teu encontro.Ou quem sabe ao encontro de qualquer coisa que me deixe tranquila.Um vidro de calmantes por exemplo.Um cigarrinho de maconha.Uma pista de dança.O barulho do mar.Amigos incandescentes.Aulas de canto.violão.Batucadas.Dança.Pós graduação.salada com azeite.cds do belle e sebastian.cachaça de gengibre.amendoim.cama quente.
Ah como é bom se cansar depois de pedalar 1 hora.Estar estafada, cair na cama e dormir.Ah que doce sensação é a de dormir...
Ah droga...não queria ter escrito nada.Você sempre acha que não estou tranquila por conta de minhas palavras insanas.Mas por Deus...como estou tranquila.Alias é o que todos dizem.- Ah nossa mas você está bem Letícia, eu esperava te encontrar numa pior.
Estou tão forte.Mas você não vê.Alias pra que você vai querer ver?Você me despreza.Eu não te importo.É indiferente, já percebi.Então por que te escrevo tanto?Por que gastar o meu tempo ?Pra continuar me esvaziando, e sentindo que ainda me desprezas.Um dia me canso, e espero que seja rápido.Não estou entendendo o que estou escrevendo.Esta tudo um emaranhado de coisas desorganizadas.Não sei por que comecei.Não sei como vou terminar.
Quero uma massagem com óleos perfumados.Yoga.Sexo.Amor.Suco de abacaxi.
Quero amar outro e não quero ao mesmo tempo.
Errância Maldita: Apesar de que todo amor é vivido como único e que o sujeito rejeite a ideia de repeti-lo mais tarde em outro lugar , ás vezes ele surpreende em si mesmo uma espécie de difusão do desejo amoroso; ele compreende então que está destinado a erra até a morte, de amor em amor....
Então, se sei que errarei ainda por muito tempo , que sofrerei ainda muitas vezes, por que ainda me fixo em você.Era pra ser de outro jeito.Não deu certo, pense: virá outro por quem você também vai amar e sofrer.Mas por que você é tão único dentro de mim?
Ah que sentimento maldito é esse (você vai discordar eu sei)...essa escravidão , essa dor.
"Quando acreditei que tudo era um fato consumado , veio a foice e te jogou de longe do meu lado " (Renato Russo).
Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões de corpos posso desejar centenas, mas dessas centenas , amo apenas um.O outro me designa a especialidade do meu desejo.
Eis o grande enigma: por que desejo esse ?Por que o desejo por tanto tempo e tão languidamente?Ah droga...por que é tão difícil esquecer a silhueta?As mãos , o rosto, cabelos ...marcas...
Tudo é tão difícil.
Mas por incrível que pareça, estou viva e radiante.Meu pulso ainda pulsa.Meu sangue ainda borbulha.Meu corpo ainda é quente.E cada dia acordo e me pergunto: E hoje ? o que vamos fazer? - Hum deixe me pensar.Acorde , tome um café amargo, olhe para o sol , sinta calor.Depois sue em cima da bicicleta.Hum , depois estudaremos violão.E á tarde vamos tentar uma bolsa no curso de ...(ah não importa).Vamos visitar Manuela, renata ou Luíza.Leia um romance.Veja um filme.Vamos ao villa Lobos, tenha inúmeras aulas e converse com o máximo de pessoas, sorria.Voltamos pra casa.
- É parece ótimo.
Mas e quando volto pra casa...Por que você ainda aparece nos meus pensamentos?Droga fiz de tudo pra povoar a tua ausência.Por que você tem que chegar e se espremer no trem lotado da minha imaginação?Vai embora droga.O trem esta cheio,espera outro que vá para outro lugar que não seja dentro de mim...
Eu te odeio também.Quero que saia do meu coração , já que não abre mais a porta do teu pra que eu entre.Você não me ofereces moradia em teu coração.Também não quero que visite o meu.
"A vida demoníaca de um enamorado parece com a superfície de uma solfatarra; bolhas enormes (quentes e pastosas) estouram uma após a outra; quando uma se desfaz e se acalma, retorna à massa , uma outra mais longe, se forma , cresce.As bolhas " desespero, "ciúme", "exclusão" "desejo", "conduta indecisa" , "medo de perder o outro" (o mais malvado dos demónios) fazem "ploc" uma atrás da outra, numa ordem indeterminada: a própria desordem da natureza."(goethe).

Por que te escrever tanto?Preciso ser esparramada...em cachoeiras rubras e quentes.
Pois de silencio em silencio me apodreço.E prefiro esparramar que apodrecer...