sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Anais Nin-Uma espiã na casa do amor (trechos)


"Nas múltiplas peregrinações de amor, ela era ágil em reconhecer os ecos dos desejos e amores maiores.Os grandes amores, especialmente se não tivessem tido morte natural, jamais morriam por completo e deixavam reverberações. Uma vez interrompidos , rompidos de maneira artificial , sufocados acidentalmente , eles continuavam a existir em fragmentos separados e infinitos ecos menores.
Uma vaga semelhança física, uma boca quase similar , uma voz levemente parecida , alguma partícula de caráter , emigrariam para um outro que ela reconhecia de imediato em uma multidão , em uma festa, pela ressonância erótica que despertava.


O desenho semelhante de uma boca era suficiente para retransmitir a corrente de sensações interrompidas , para recriar um contato por meio da receptividade passada, qual canal que conduz perfeitamente apenas parte do êxtase anterior através do canal dos sentidos , incitando vibrações e sensibilidades outrora despertadas por um amor total ou um total desejo por toda personalidade.
Tudo que tivesse sido arrancado do corpo , assim como da terra , extirpado violentamente , cortado, deixava debaixo da superfície raízes muito ilusórias, muito vivas , todas prontaspara medrar de novo sob uma associação artificial , por meio de um enxerto de sensações , dando nova vida a esse transplante de memória.

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