segunda-feira, 28 de junho de 2010

Faminta

Muitas vezes os desejos do corpo se confundem aos do coração.E esse é o perigo de tudo.
O corpo não é independente, não sente sozinho, conta tudo pro coração.
O coração , se arrepia.Bate forte.Vibra.
Todos os pêlos do corpo se eriçam ao pensar naquele corpo negro borbulhante.E logo o coração bate de saudade.
Ele não foi treinado pra dizer que ama.Já ela , nasceu amando tudo que se mova em cima dela, e dentro dela.
Ele não é apropriado.Nada de belo .Nada de brilhante.Nenhuma luz de sapiência.
Quanta cachorrice a dela , a dele, a nossa...Se sentir comida é o seu prêmio.
Se sentir como o prato do dia de um restaurante popular em frente a uma grande obra de construção com mil pedreiros famintos.Ser comida , cheirada , lambida infinitamente ...e violentamente...e muito rapidamente (o que nao é sinonimo de mal digerido, pois a fome faz a gente comer muito rápido).
Já sofreu por não tê-lo convencionalmente ( daquelas formas de mãos dadas , cineminhas dominicais , pique-niques na grama) por ausências de outras experimentações.
Experimentou outros homens.Namorou.Sofreu de novo.Se reergueu.E voltou ao ponto de partida apenas pra se divertir, pra nutrir seu corpo de coisas úteis, de líquidos fúteis, de suores e licores.
Mas as coisas não são desse jeito , e ela bem sabe.Sabe o quanto a sua anatomia é louca e que seu corpo todo é coração (maiakoviskiana).
Seus ultimos banquetes foram os mais deliciosos.O tempo que passaram ausentes um no outro aumentou demais todas as vontades.Quando ela entrava em sua sala , se embriagava com o cheiro que daquele corpo exalava.
Era inebriante...
Bastava senti-lo para que ja quisesse se atirar por entre aqueles pêlos esbranquiçados.
Tentou fugir.Mas o leopardo negro perseguiu a lebre até conseguir devorá-la.
Devorou sem cerimônias.E como a lebre gritava de prazer e terror ao ser devorada...Como a lebre gemia ao se deliciar com o leopardo.
Acabava, molhada , escorrida...lânguida e nutrida.

Agora os tempos são outros.Mas é preciso ter cuidado.A saudade lhe começa a roer os cantos da boca, e as dobras do corpo no dia seguinte ao do banquete.Ela não pode contra a paixão.E a paixão nasce e renasce em qualquer canto, e jorra de suas pernas.

Um comentário:

Brasil Desnudo disse...

Lindo, maravilhoso e divino comentário, texto, poema e citações sobre a sexualidade contra os absurdos da paixão incontida...

Meus parabéns pela bela matéria e pelo excelente blog

Marcio RJ