terça-feira, 1 de setembro de 2009

A garrafa de vinho e a Moça de unhas vermelhas


Quando passou apenas com uma garrafa de vinho e as moedas contadas , sentiu um olhar de soslaio e desdem da mocinha do caixa do supermecado.
-O que foi?- pensou ela em direção a moça do caixa - nunca se sentiu terrivelmente só a ponto de querer embriagar-se uma tarde inteira?
Sentiu que a mocinha escutou seu pensamento vociferante e baixou os olhos em contrição.Sentiu-se orgulhosa.Afinal nunca conseguiria dizer isto de verdade a um estranho.
Seguiu a estrada de mãos dadas com a garrafa de vinho...como um casal apaixonado.Ela apaixonada pelos momentos parcos de alegria.O vinho apaixonado pela solidão da moça que ele devoraria pra si por pouco tempo.
A moça não queria mais esperanças...
Já esperava sempre pelo pior , quando saía de casa com as unhas pintadas de vermelho(o mesmo vermelho que jorrava do seu coração inquietante, passional, indecifrável), e o corpo cheirando a jasmin...querendo ter algo que lhe fizesse acreditar que tudo daria certo (desta vez ).
Mas nunca acreditou.
Aprendeu a fazer contagens regressivas de seus amores malogrados...
-Não dou mais que duas semanas pra que isso tudo acabe da maneira mais sangrenta possivel.-falava pra si mesma quando estava em companhia de qualquer rapaz (de bem ou não) , que lhe cruzava o caminho com flores e palavras doces.
Sempre acertava.
9,8,7,6,5 dias...assim contava...e quanto mais proximo chegava o dia do fim fatidico, mais indiferente ficava.
-Vai acabar...- sempre pensava ela...
E assim o era.
Aprendeu a não mais chorar.
Já havia chorado muito é verdade, mas sua idade de agora (já não era a mesma adolescente tola de antes que sofria com a esperança parca de que alguem voltaria com a mesma flor na mão), não lhe permitia mais lagrimas desnecessarias.
Curava sempre um amor com outro, uma ferida com outra, um beijo com outro.
E assim vivia sempre só...a espera de um amor que acabaria sempre logo.
E naquela tarde que saiu do supermercado de mãos dadas com a garrafa de vinho, percebeu que seria sempe assim.Já sabia demais da vida.E isso não é próprio das pessoas felizes.Pessoas felizes geralmente não sabem de nada.E por isso , de fato , são felizes.
Ficou indecisa!Entre saber um tanto da vida e estar pronta pra encarar armadilhas, e nao saber nada , sempre tola , feliz com qualquer agrado.
Fez amor com a garrafa de vinho.
Esperou a noite acabar.
Perfumou-se.
Deixou sangrar os sentimentos (pelas pernas).
Retocou as unhas (de vermelho).
Deitou-se na cama .(sozinha novamente, envolta em lençois encardidos)
Concluiu:
O melhor a se fazer era comprar outra garrafa de vinho ( a mais miserável) , encarar o olhar de desdém da moça do supermercado,(o mais humilhante) voltar pra casa sozinha, com seus pensamentos atormentados, esperando outro amor fugidio passar.(outro amor fugidio passar).
E nada mais havia de se querer....