segunda-feira, 7 de junho de 2010

O tolo e a Bailarina


*Arte de Degas*
Naquela suave tarde em que de tudo se esquecia, despertou-se com lembranças sexuais infindas. Aquelas noites lustrosas, em que luzes piscam, e corpos tremem um leve sorriso lhe pintou a boca.
Aquele senhor quase idoso lhe trouxe noites quase perfeitas, se não fosse o desdém com que lhe tratava após aquele amor rápido e urgente dificilmente feito na cama. Retornava ao seu lar de família (pai, mãe, irmãos e cachorros) com ares de mulher feita e dona de si, e acordava com a espada de arrependimento e da saudade cravada no peito.
As parcas horas que passavam juntos, em qualquer canto da cidade, eram frutíferas. Se havia algo que ele,não podia permitir acontecer, era que ela, nua em pêlo, deixasse de gozar todos os gozos possíveis naquelas suas mãos enrugadas, e aqueles braços fortes de veias protuberantes.
Eram tantos tapas, e gritos, puxões de cabelos, e arranhões, e mordidas...que se por ventura, ela por vingança ou capricho quisesse acusá-lo de violência, seria por demais fácil de comprovar.
Aquele homem a quem tanto amara, e por quem seu corpo de rolinha machucada, tanto gritava o nome por breves instantes de volúpia, não tinha menos que cinqüenta anos. E ele, nunca revelou-lhe a idade, por assumir ser escandaloso a diferença entre eles.Mas ela, embora tinha menos da metade de sua idade, se considerava (e realmente o era) muito mais idosa em sapiência e inquietude.Não conseguia compreender claramente por que era tão necessário aquele homem bruto e ignoto lhe rasgar as entranhas com seu sexo de cavalo colossal, lhe molhar os seios com a saliva quente, e trucidar aquele corpo quieto.Mas sim, era cada vez mais necessário pra ela (pobre moça infeliz) se embrenhar naqueles pêlos brancos e naquela pele negra borbulhante.
Xingamentos dos mais sujos e tórridos proferia ele em cima dela, e a feria como uma estaca incandescente perfurando seus ouvidos.Mas era tarde pra desistir .Era tarde para vestir a calcinha de algodão e sair de cabeça erguida.O motel barato já havia sido pago.Ela escutava então triste, mas gozava feliz em cima daquele homem rígido, e oco.
Depois voltava novamente para a casa com ares libertinos, com a cabeça baixa, e com o sexo exorcizado.No dia seguinte, sempre arrependida, proferia uma infinidade de impropérios àquele homem, e o culpava sempre pelo acontecido.Ele já acostumado, fazia-se de ouvidos moucos.Já sabia quanto tempo duraria aquele falso ódio daquela moça triste e enlouquecida, a quem de uma forma ou de outra fazia tão feliz.
Sara sempre fora uma moça sabida, forte, segura.Devorava com ardor a literatura dos grandes autores.Conhecia como poucos a boa musica.Moça de bom gosto, sabia dissertar sobre arte como poucos de sua época e de sua idade.
E foi nos seus estudos de música que Sara conheceu Antonio Ricardo, homem rude do morro, sambista, era o seu professor numa considerável escola de musica da cidade.E foi como por brincadeira que os dois começaram a conversar no final de uma das aulas de instrumento.Uma conversa boba, insignificante:
-Perdi meu pai no ano passado, dizia Antonio e Sara fingindo-se interessada conversava no mesmo nível:
- Minha mãe foi internada há pouco tempo, por problemas de coração.Quase morreu.Fiquei preocupada.Mas o pior já passou, dizia ela tentando manter uma conversa que o interessasse.Afinal não sabia exatamente de que se ocupava a cabeça desses sambistas.
E foi na semana seguinte, na mesma aula, que sentiu olhares diferentes dos de antes daquele senhor que tinha idade para ser o seu pai.Um olhar lúgubre, quase esfomeado.Sentiu-se desejada, como há muito não acontecia.Afinal de contas, já não sabia mais o que era o prazer de uma conquista.Há muito tempo que estava imersa nas poesias, e livros, e filmes.Pouco tempo tinha para essas coisas.
Uma onda de calor percorreu todo o seu corpo (como há muito tempo não acontecia).Sim, ele com um simples olhar a deixou ouriçada.Fim de aula.Ele a chama junto a ele.Lhe dá um abraço.Um abraço lúgubre, cheirando a lascívia, e lhe lança outro olhar daqueles.Ela, sozinha, volta pra casa com pensamentos inquietos:
-Ora, mas o que queria ele?
Na semana seguinte, se esparramaram numa cama de motel.E ela, aprendeu em uma semana todas as artes sexuais existentes no mundo (com o perdão do exagero).Depois disso veio a vontade infinda de se ver, os ciúmes, os sentimentos de posse, os palavrões, as porradas, as lágrimas, os arrependimentos.Porém Sara nunca consegui se livrar daquela chateação que chamavam de desejo.Uma paixão do corpo.
Quis casar-se com ele, mas sabendo que aquilo tudo era uma besteira.Aquele homem feio e ignorante , indubitavelmente nunca a faria feliz de verdade, exceto na cama.Mas e quando se enjoarem?E depois do sexo de que falariam?
Sara não ponderava sobre isso, pensava com o sexo, somente com o sexo...precisava mais do que sabia daquelas sensações indizíveis que ele lhe provia.
Mas sim, Sara desejava este homem pra si de maneira indecifrável...enquanto que ele se divertia com meninas de baixo nível, e nunca se interessou pelos seus pensamentos vociferantes.
Sara nunca o amou de verdade...

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