Ela lhe diz: preferia que você não me amasse.Ou, mesmo me amando, que se comportasse como se comporta com as outras mulheres .Olha para ela espantado e pergunta: é o que você quer?Responde que sim.Ele começou a sofrer lá, naquele quarto , pela primeira vez, não nega isso. Diz que sabe que ela jamais o amará.Ela o deixa falar. A princípio diz que não sabe.Depois deixa que ele fale.
Ele diz que está sozinho, terrivelmente sozinho com esse amor.Ela responde que também está sozinha.Não diz com o quê.Ele diz: você veio até aqui comigo como teria vindo com qualquer outro.Ela responde que não pode saber, que nunca foi com ninguém para nenhum quarto.Diz que não quer que ele fale, quer que faça o que costuma fazer com as mulheres que leva ao seu apartamento de solteiro.Suplica-lhe que aja desta maneira.
Ele lhe arranca o vestido , joga-o longe, arranca a calcinha branca de algodão e a leva nua para a cama.Então vira-se para o outro lado e chora.E ela , lentamente, com paciência, ela o traz para perto e começa a despi-lo.Ela faz tudo com os olhos fechados...
A pele é uma doçura suntuosa.O corpo.O corpo é magro, sem força, sem músculos, podia ser um corpo de um doente , de um convalescente, ele é imberbe, sua única virilidade é o sexo, é muito fraco, parece estar a mercê de um insulto , parece sofrer.Ela não olha para o rosto.Não olha .Só o toca.Toca a doçura do sexo, da pele , acaricia a cor dourada, a novidade desconhecida.Ele geme,chora.Dominado por um amor abominável.
E chorando ele realiza o ato.A princípio, a dor.E depois a dor se transforma , é arrancada lentamente, transportada para o prazer, abraçada ao prazer
O mar sem forma , simplesmente incomparável
Marguerite Duras- Trecho de "O amante"
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