Verdade Oculta : Meu medo maior é que não mais nos vejamos...Eu não sei dizer , eu não quero dizer ...Mas acabo dizendo...Este é o momento de apagar este email antes de lê-lo.Faça isto.Como ? Você não fez ?Talvez seja por puro interesse mórbido que você continua permitindo que estas palavras incertas , confusas desfilem sob seus olhos - no entanto elas inflam, se ufanam! Como sou patética, como procuro desesperadamente que você me admire!Este é um momento de loucura.Sou uma louca agressiva.Eu queria que você soubesse .Ou melhor , não queria, mas há essa necessidade.De onde ela vem ?Eu tenho uma leve suspeita , mas premio-te com minha ignorância.
Você não faz idéia de como escrevo-te...a que profundidade de sentimentos preciso chegar para ultrapassar meus orgulhos.A que nível de loucura alcanço para querer ainda escrever-te.
A ufrj não me liga...não consigo falar com a psicóloga que me atendeu.Isso está me deixando apreensiva.
Certa vez li uma peça em que toda a cena se passava no fundo de um poço.Não prestei atenção no texto , por que imaginei que tipo de catarse era aquele.Em que momento e por qual motivo o autor teve a audácia de fazer toda a cena no fundo de um poço.Catarse?Se eu escrevesse algo a cena também se passaria no fundo de um poço...ou numa caverna escura e húmida (meu coração).
Transferi minha mesa do computador para meu quarto, para que eu escrevesse qualquer pontada de dor, ou qualquer poesia , ou um trecho de livro e não tivesse que caminhar até a sala....isso seria um tanto perigoso , o caminho até a sala poderia fazer-me perder idéias nos confins do pensamento.Minha mente não pára.Estou me devorando.Com a alma mordida....Eu sei lá o que eu quero dizer com isso...
Estou aqui em meu quarto na companhia de um velho amigo : Baudelaire.Estamos os dois conversando sobre coisas tétricas.Isso parece doentio.
Ás vezes sou deprimente...e você claro não precisa disso.Esta carta é uma espécie de confissão mal acabada.Eu me encontro no escuro, mas no fundo sinto vontade de ver o dia.Sair pra qualquer lugar banhado de luz e de vida.Ai...a loucura me acossa.Eu me sinto cansada...Mudando de assunto , encontrei em Baudelaire esses versos :
"Louca , por ti sou desvairado,
E vou te odiando enquanto te amo.(...)
Eu não sei , parece que sinto mais ou menos isso .Confesso-o.Mas isso não tem importância...Posso me contentar em ...esperar por uma luz qualquer.Entretanto é uma ameaça.Ah droga...Isso definitivamente não tem importância.Ao menos posso murmurar seu nome nos momentos de angustiosa loucura.
As vezes sinto vontade de cometer um ato de vandalismo...Há dias quase levei esta vontade a termo.Em minha mão havia uma pedra, à minha frente a vidraça de uma lanchonete , uma multinacional...Mas eu não fiz nada.No fundo, nem tão no fundo assim, eu sou uma boa moça...
Esta carta é uma declaração de amor de e de guerra.Não sei se vou chegar a entregá-la.Ou melhor a enviá-la.Mas eu sempre envio...sempre escrevo com a intenção apenas de esvaziar, escrevo no bloco de notas e salvo no meu computador ...Porem , não passa mais de 10 minutos em silencio na memoria, pra logo após ser jorrada em cima de você.Desculpa.
Sou patética de tanto que pesso desculpas.Quero perder os movimentos dos dedos , para não mais escrever-te...pelo menos por um mês...ou até mesmo uma semana.
Porém , não se preocupe, apesar do nível gritante de doentismo de minhas palavras , atravesso uma fase em que estou muito comedida.Eu só quero poder odiá-lo.Por algum tempo.Pra que eu possa te dar então o tempo necessário.Para que eu não me humilhe tanto com essas palavras doentias.
Mas não, eu não te odeio.O que tenho é amor ...aliado a um desespero crescente.Sabe quando se deseja que alguém especial descanse a cabeça no nosso peito?Quando temos a necessidade de nos tornar uma espécie de refúgio , de lenitivo para quem ...amamos?
Baudelaire toca meu ombro, e é como dissesse: Pobre louca...Ambos nos encontramos na escuridão mais funda, e aqui , em baixo, é em você que eu penso...Minha boca murmura o teu nome.
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