domingo, 11 de julho de 2010

Fundo sem poço - Elisa Lucinda

De onde vens assim, abusado?
Conhecedor das minas dos vales e córregos
de meu corpo.
De onde vens assim sabedor das sinas dos males e trópicos
de meu corpo.
Iluminas meu pescoço com uma mordida antiga
meu homem e minha amiga
de onde vens assim, obcecado
manchando excesso de batom nos grandes lábios
vaidoso príncipe da mata.
Me come me mata
e ao terceiro dia ressuscito com teus beijos
Seixos, teus gemidos me habitam quietos como um rio
assíduo, velho conhecido.
Tens sorte de eu ser poeta
e fazer poesia ao invés de baixaria na sua porta.
Se comporta, moço e não me falte tanto
Estar longe da sua pele
é como ter alguém que me rouba o cetim
Marron cobre jardim de reluzências
De onde vens, indecência,
com esses destinos riscados na palma da mão?Passe então essa flor no meu rosto
me lambuza com essas linhas, criatura
alisa minhas pernas com essa partitura
cheia de dedos na extremidade.
Revoga essa calamidade
de a gente se arvorar em se querer.
Ah cheiro de moço, candura de menino
Ah fundo sem poço, tontura de felino
Cancela esse latino amor que está por vir
daqueles que quando a gente vê, já doeu
daqueles que quando a gente nega, já se estabeleceu
Ai, de onde vens com esse fogo,
Prometeu?

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