sábado, 8 de dezembro de 2012

Macaé - Clarice Falcão

Ei, vai pegar mal se eu contar que eu imprimi todo o seu mapa astral? Você foge assim que der, quando souber? E se eu falar que eu decorei seu RG só pra se precisar Você vai pra um chalé em Macaé? Eu queria tanto que você não fugisse de mim Mas se fosse eu, eu fugia. Ei, se eu falar foi por amor que eu invadi o seu computador Você pega um avião? E se eu falar de uma só vez como eu achei sua senha do cartão Você foge pro Japão, esse verão? Eu queria tanto que você não fugisse de mim Mas se fosse eu, eu fugia. Ei, se eu contar como é que eu me senti ao grampear seu celular Você vai numa DP? E se eu mostrar o cianureto que eu comprei pra gente se matar Você manda me prender no amanhecer? Eu queria tanto que você não fugisse de mim Mas se fosse eu, eu fugia.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Reverberações do amor que se foi, mas ainda está aqui.

Ele se separou de mim. Mas eu não separei dele. O desagradável (ou agradável, já não sei mais distinguir) é que nunca estivemos separados...sempre esteve dentro de mim, sempre viveu dentro de mim...Posso falar de mim não dele...Não sei dele...Não sei o que o coração dele agora fala de verdade...Não sei se está sendo apenas gentil com as palavras de calmaria :" - A gente vai se amar pra sempre, mas não posso ser um namorado agora. Espero que se cuide e não suma."...Ele estava lá em todos os momentos que achava não estar. Estava nas minhas múltiplas peregrinações de amor vívido.Estava em todos os beijos que ensaiei nas mais diversas bocas , em todos os sexos que tentei gostar...Em todos os pensamentos que admiti erroneamente estar tomados por outra qualquer pessoa...Ele estava lá sem que eu me desse conta...estava em toda pele lustrosa de desejo que em algum momento invadiu a minha. Construí minha morada naquele corpo moreno e transpirante com cheiro de macho dominante, e agora estou sem teto.Sem chão.Sem corpo vivo que não tem vida suficiente para sorrir. Os dias iluminados de sol ou apenas de amor já se foram. Sim ele ainda estará perto, mas não tão perto como dentro de mim nas manhãs de sono pesado. Não tão perto que seus braços possam me envolver e me acariciar enquanto vemos um filme indigesto. Não tão perto que não possa sarrar-se em mim enquanto estou tentando ser uma boa cozinheira e note com humor meu desastre culinário. Não tão perto que possa me roubar um cigarro...não tão perto que eu possa roubar um cigarro...Não tão perto que possa brincar de pique esconde com sua filha de 6 anos e com a criança maior de todas que sou eu.Não tão perto que possa emprestar sua toalha , e ao secar-me com ela percebo que tem seus cachos por todo meu corpo. Ele não deitará com todo o peso de seu corpo em cima de mim... Não me tocará o seio enquanto dorme, e eu não dormirei mais em sua boca. Não fará mais meu café, não me pedirá para comprar o pão. Identifico sua falta a todo o instante. O corpo não tem mais o mesmo cheiro. É uma pena. Não dá pra fugir e mudar de assunto, e mesmo quando consigo ele tá lá na cena do filme que construo em minha cabeça como um personagem que passa no fundo da tela. Meu coração é ainda um cativeiro. Tenho toda a liberdade do mundo para sair, mas me sinto presa. E mesmo ausentes os porta-retratos com nossas fotos pela casa, a foto talhada no coração é cruel e faz lembrar a todo tempo. Queria era ficar perto daquelas fraquezas e defeitos , do cheiro do seu corpo depois do coito, da fumaça do seu cigarro, da história que conta no seu beijo. A escolha foi dele. Não sei nem mais se minhas palavras o afetam em alguma instância, então poupo meus esforços... Por fim só digo que a sexta feira era bem mais feliz quando era a véspera do dia de vê-lo e o domingo mais triste quando eu ia embora.

Lugar de Ser- Carpinejar

Estou solteiro de novo. Ela se separou de mim. Mas eu não me separei dela. O desagradável é que sou escritor, eu trabalho em casa. Não conto com um escritório para fugir e mudar de assunto. Identifico sua falta a todo instante. Venho buscando mudar de hábitos, mas não está surtindo efeito. Passei a espiar classificados. Localizo alguém vendendo uma telepizza. Em vez de pensar: - Como assim telepizza? Que absurdo, o que o cara está vendendo é apenas uma linha telefônica. Eu penso: - Coitado, ele está vendendo uma telepizza. Quase compro por compaixão. Eu não me divirto com aquilo que eu achava engraçado, eu me comovo. Continuo descendo para levar a Cora a fazer xixi três vezes ao dia, mas sem a Cora, nosso cachorrinho foi junto. Meu coração é um cativeiro. Tenho o controle remoto da tevê, mas me enxergo sem opção. Tenho a liberdade do mundo para sair, e me sinto preso. Tenho tempo de sobra, e me vejo sempre atrasado. Tenho espaço nas prateleiras e nas estantes, mas nunca encontro o que quero. Tenho a cama inteira à disposição, mas permaneço dormindo no cantinho. Ninguém rouba mais minhas cobertas, mas sinto frio. Retirei os porta-retratos da residência. Mas olhar dentro da geladeira é também um porta-retrato dela. Olhar a geladeira é descobri-la: seus morangos, sua mostarda forte, seu pãozinho integral, sua cerveja. Como diz Karl Marx, que entendia tudo de divórcio: "Separados do mundo, uni-vos"

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Colagem de Carpinejar

Ontem você zelou meu sono. Estava febril. Falei de pudim e da chaleira fervendo. Coisas incompreensíveis para qualquer um que não me ama. Você entendeu tudo. Tem uma paciência de me ouvir mesmo quando não organizo minha conversa. Nossa vida não tem gavetas. Não precisamos guardar para conservar. Não precisamos esconder para nos valorizar. Estamos visíveis. Expostos. Amor é não desejar impressionar com histórias secretas, é ser inesquecível absolutamente distraído. Toda pergunta entre nós é uma confissão. Toda resposta é um conselho. Eu sei o que você não gosta: de cócegas na cintura, de minhas ameaças de pegá-la no colo, de grito no telefone, de fingimentos. Seus defeitos são somente cuidados. Já o que eu não gosto é ficar longe de suas fraquezas. Pode dormir em minha boca, o beijo é também voz, o beijo é uma história que vou lhe contar. Beijos do Teu Lobo de Olhos Amarelos Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Que o amor recoe nos seus ouvidos até estourar os tímpanos.

Talvez eu mesma tenha escolhido ser essa que chóra compulsivamente por motivo algum aparente , e depois gargalha da mesma desgraça.Talvez não... Talvez eu tenha escolhido ser essa que enterra a cara na vodka, ao invés de "comer terra com esqueletos de minhocas amassadas", só por que o amor não chegou as 4 h da tarde nem ao menos em formas de palavras telefonadas, como a Rebeca de meu livro preferido. Perdoa: Essa aqui que escreve, bebe e pranteia tem tremeliques infindáveis de medo da solidão e principalmente medo de perder esse que é o mais lindo de todo o "país da delicadeza". Eu lho amo e já disse...mas quero repetir todas as possíveis vezes para que acredite que foi você quem eu sempre esperei: o cheiro , a boca , o sexo , a fala já encontrado por mim há dez anos e depois estacionado na prateleira de afetos malogrados, para depois ressucitar da maneira mais linda e inacreditável. Claro que estou sendo patética...e mais que patética eu to sendo egoísta...egoísta no sentido de querer que continue me amando ou me ame mais com estas palavras bem doentias ....ou não. Talvez a doentia é apenas eu ...doentia talvez por que simplesmente a vida segue: doendo, rasgando, enchendo de saudade... saudade há dois minutos , há 5 , há 10 horas...são todas iguais afinal. Estou com saudades agora mesmo e medo de que se enjoe. Enjoe de todo esse sentimentalismo mundano e desnecessário.Enjoe dessa total doação sem sentido. Eu lho amo, já disse. Mas quero que saiba o tempo todo ...que o amor recoe nos seus ouvidos até lhe estourourarem os tímpanos (mas só se não lhe causar dor).. e saiba que realmente nenhum outro homem é dono do meu desejo...e mesmo que seja durante dois minutos ou três ou duas horas, é de você que meu corpo lembra a cada minuto de saudade.. O meu sexo tem o cheiro do seu sexo...a língua tem o cheiro do seu sexo...todo o corpo tem o cheiro do seu sexo que é meu ar. Não tem mais nenhum sentido ser mulher se não for pra ser sua. "Mas eu sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito." ( Brilho eterno de uma mente sem lembranças.) Que venham as palavras nocivas...estou necessitada de um cigarro barulhento para acabar com o silencio de domingo.O silêncio que adoraria quebrar com palavras despudoradas no ouvido...Silencio que adoraria quebrar com os gemidos incessantes e vestido de odores e licores corpóreoS. Estou alcolizada ...é um caminho pra apascentar a alma desnorteada por possíveis respostas não exatamente procuradas... fui cínica com a minha poesia, falei de amor quando o que eu sentia era carência. E agora que amo com unhas e dentes me da aquele medo de tudo me escapar pelas mãos...de estragar tudo com qualquer exaltação minha.Perdoa e me ature o máximo que puder é o que peço.Do meu lado estarei tentando manter a calma, ser solícita e prometer perdoar tua displicência,não invadir tua individualidade, não reclamar tua ausência que me pesa ás vezes , mas se esvai quando me olhas com aquele olhar que é só teu e me acalenta no teu colo de cheiro de jasmin. Peço perdão a mim e a você se me anestesiei tanto tempo desrespeitando minha angústia, negligenciado qualquer aprendizado que trouxesse sofrimento. Eu quero você apenas...e não adianta tantas palavras disformes agora se mal sei coar o teu café de manhã.Vê se me amas por mais tempo até que seja impossível não amar...é o que desejo amplamente...que teu peito seja meu travesseiro por mais tempo...teu sexo o meu monumento por mais tempo...teu ventre rijo minha esperança por mais tempo...teus cabelos e pelos meu cobertor por mais tempo.Que seja apenas meu por mais tempo ... Eu lho amo já disse 10 ou 20 vezes , mas quero que perdure por 10 ou 20 décadas.
Imagem : Frida Kahlo- Meu vestido pendurado ali.

domingo, 16 de setembro de 2012

Nós

Você é lindo , cheiroso , gracioso...anda como quem desliza , me come como quem saboreia, canta como quem enfeitiça.Eu lhe amo deveras e agora sei que nunca deixei de lhe amar mesmo quando achava amar outro.Pois você estava em tudo o que eu esperava deles.Eu sempre quis você nesses todos que de alguma forma passarm em minha vida ou no meu corpo.Era você que eu procurei demais em todas as bocas , cheiros e sexos...e agora é você que tá aqui , me enfeitiçando , me comendo , me deslizando. Amo seu cheiro de homem híbrido do mato e seu cabelo que cola vez em quando na minha pele. Amo aquelas bocas e barulhos que fazes no berne do ato libertino.Amo sua mão penetrada em qualquer canto do corpo ...Amo sua risada boba e alegre rindo das minhas puerices tão desnecessárias. Seu lado pai, seu lado neto , seu lado filho , seu lado meu...são todos por mim admirados.Amo essa minha necessidade de lhe escrever , mesmo sendo coisas tão bobas como essas, e arrisco em dizer a mais boba de todas. Você é meu bombardeio , meu arco-íris, meu calmante , minha brisa na nuca. Então vamos comer juntos, nos comer juntos, nos amar juntos , passear por entre nossos órgãos todos...Ser um do outro como já somos. Perdoe meus desesperos quando os perceber, mas as vezes ser feliz também dá trabalho...ás vezes me dá trabalho. Meu lado dramático-mexicano prepondera muitas vezes, e eu chóro rios de lágrimas desnecessárias...por uma pequena falta tua , que por vezes nem é falta, mas que meu tpm eterno assim o julga. Então cála meus choramingos com teu grito de orgasmo, com teu beijo tempestuoso e tua garra viril? Beijar tuas costas é meu remédio, e ser beijada minha salvação.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O guitarrista

Você é agora a inspiração da vez. Você que esteve sempre presente nos meus pensamentos e sonhos eróticos é agora matéria prima para os meus textos. Estou sentindo saudade é o que eu digo... saudade infernal após apenas três dias sem nos ver. O sexo não foi tão bom.Não mesmo...acho que posso colocar uns três ou quatro na sua frente. Você não diz exatamente as coisas que eu quero ouvir... Descobri que você não é tão engraçado como eu achava que era... nem tão bonito...nem tão inteligente.... Por que agora, após apenas três dias que deixei sua boca e seu sexo em paz, estou sentindo uma puta saudade dolorida... mas que não me deixa pegar a porra do telefone e te ligar apenas pra dizer: oi? É ...você me fudeu... E eu nem gozei... digo tudo isso com uma violência própria de quem ta apaixonada e não entende por que porra isso ta acontecendo. Era pra ser apenas uma transa. Uma transa de aniversario.Apenas um desjejum de quem tava há mais um milhão de meses sem ver um homem nu lhe penetrando com o que foi propriamente feito por Deus pra isso. E você veio e nem me fez tão feliz, e eu zombei comigo mesma o tamanho e a incapacidade tua na hora. Zombei confesso...Mas agora...por que será que é o seu corpo pelado em cima do meu que deveras desejo ter?Por que será que é dos seus cabelos longos que desejo ter entre os dedos? ...Por que é que é a sua risada quase débil mental que adoro escutar? Eu não planejei isso... juro que não.Estava apenas entrando numa nova fase da minha vida ...fase esta em que eu não planejava me apaixonar por nada desse mundo...Numa fase em que apenas queria experimentar diferentes sexos ...de tamanhos e gostos diferentes...Coleção de homens era a minha meta...Mas agora? Você estragou tudo... estragou meus planos... E agora cá estou eu embebida na vodka e me segurando pra não te segurar o rosto e dizer: Ele é com você que quero ficar pra sempre... e o pra sempre , sempre me assusta, por que nunca acreditei em “pra sempres”....É com você que quero acordar e dizer: Bom dia! É com você que quero aprender a... Tocar guitarra... É pra você que quero escrever textos babacas como esse.Desculpa não foi minha intenção ...mas sem querer te incluí na comédia dramática da minha vida ...e quero que você saiba ...mas sei que não vai saber ....por muito tempo. Estou pensando somente vocês nesses dias... em te colocar no colo e acalentar quaisquer de tuas decepções. Estou bem... Estou bem, por que logo depois que deixei teu quarto me encontrei com outro só pra ter certeza que é você que eu quero. Liguei pra escutar a voz de outro só pra não sucumbir a tentação de te ligar e escutar a tua voz rouca no ouvido.Fodi maravilhosamente com outro só pra ter certeza que isto não era o mais importante. Você não deu conta é verdade... brochou nas três tentativas , mesmo quando eu devorava seu sexo , vestida de lingerie de oncinha e com o corpo fragrante de hidratantes de frutas...Você naufragou e se envergonhou ...abaixou a cabeça e pediu desculpas ... Desculpas? Por quê?Se tudo que é seu me dá orgasmo: Seu beijo me dá orgasmo, Sua língua entre as minhas pernas me dá orgasmo O peso do seu corpo em cima do meu me dá orgasmo... Sua voz rouca no ouvido me dá orgasmo... Sua barba malfeita me dá orgasmo Suas pintas nas costas me dão orgasmo Tudo o que me ofereces é orgasmo muito maior que qualquer orgasmo já oferecido. Três meses depois e não... Não houve qualquer declaração amorosa de minha parte... Não te disse que te amava e já não mais sinto isso ...O pior desprezo que podia me dar foi quando não percebeu isso e continuou me chamando para alimentar sua libido malfeita. Não eu não te amo... E não eu não te odeio...Mas você é um babaca é o que digo ...Não eu nunca gozei ...Nem sequer gostei de nada ...Como era trabalhoso por seu sexo de pé...Seu corpo não tem cheiro de amante híbrido...Você nem sequer tem o beijo doce dos deuses metropolitanos. Você apenas um guitarrista de blues não soube tocar minhas costas nem sequer qualquer parte do meu corpo... você não me acordou e eu odeio os homens que não me acordam ...Seu sexo é feio...seu cheiro não é bom ...sua conversa não é saudável.Esquece eu já fui...tem lugar mais pra você não.Adeus querido...cante seu blues é o melhor que pode fazer ...
ARTE DE PICASSO - O GUITARRISTA

Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama...

Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama. Não... Não vou começar esse texto com este parágrafo deveras libertino, quero começar com coisas idílicas, porque sou idílica deveras. Chamei-te de príncipe, mas você é bem mais que isso... Você é o homem de olhos mais dançantes e sinceros ...O meu prato preferido ( pra não dizer meu comedor), meu solstício e minha realeza...Ah meu bem como te amo um tanto!Você me salva e me aprimora! Meu aconchego no teu peito não é fácil de ser descrito... então me calo.Me calo diversas vezes por que escutar o ronronar do teu peito é a coisa mais deleitosa do mundo. Eu só sinto e nada comento... você me cala e me aconchega e me morde a nuca como felino enquanto me desfolha as orelhas e me deflagra o corpo com beijos inimagináveis... Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama... Não...Não vou prosseguir o texto com frase tão chula... Onde resides afinal? No meu peito? Na minha cama? Na minha mente doente? Ou na minha novela mexicana? Você ainda me ama? Diz-me agora, pois preciso escutar todas às vezes possíveis... Escutar que sou sua mulher me penetra de outra forma ...enquanto me penetra daquela forma. Sou sua... muito mais que preciso...mas sou...Agora peço licença ...e poética:Os meus planos são os de bombear teu sangue mais rapidamente...te deixar impaciente em cima de mim (ou embaixo, tanto faz desde que dentro), te gritar caladamente nomes irreconhecíveis e insignificáveis e você respondendo com ar quente na minha nuca. Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama... Não , não vou me expor tanto assim., pois certa vez me repreenderam...Mas então pra quê sentimentos se não for pra expô-los ao ridículo ?Sou deveras ridícula... Você tem cheiro de sol de varal, de palha, de trigo , de água calma, de chá de frutas vermelhas.Você tem o cheiro das minhas roupas íntimas engolfadas de desejo.Estou acostumada a teu corpo sem que isso signifique rotina....por que a cada dia descubro uma senda , um cheiro , um gemido um prazer diferente,...Você é meu canto , minha hora boa, meu sopro de vida.Então imploro : Não cumpras tantas distancias em mim. Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama...Não vou continuar desse jeito pra não causar qualquer inveja em centopéias desejáveis e descaradas.Você é meu ...e eu já disse. . Povoa então minhas idas e vindas com seu corpo entrelaçado no meu...com seu dente marcando minha nuca, com sua boca lustrando todo o sexo e seio, com sua voz de cantor de modinhas tristes no ouvido esquerdo, com seu cabelo encaracolado na minha boca. Meu corpo será tua releitura, a chama da tua pele, a alvorada do teu desejo.Morro nos teus braços e revivo logo após.Contigo não estou abreviada e tenho ânsia de me jogar às feras...às feras que o seu corpo revela.Tenho urgência das tuas pernas, das tuas coxas ...dos teus pés, Não quero a escassez do teu corpo ...quero a escassez da escassez...A riqueza que desejo é a tua e só a tua. Sim estou gesticulando pateticamente juras de amor...você detesta? Vontade louca de te ocultar em mim...ocultar inteiro até que nem eu mesma ache. A vontade é a de te comer em poesias temperadas...de agredir tua insônia enquanto eu durmo.A vontade é de me dedicar as ciências ocultas que predizes inconscientemente só pra ter o que conversar...A vontade é de te arrancar os cachos pra dizer que isso não é coisa de homem.Ah meu mais precioso bem , a vontade é de te saciar todas as vontades...qual dessas tuas é a mais urgente? Estou quente só de escrever coisas ...estou de pelos arrepiados e de boca salivante.Aparece agora no meu quarto de insônias estimuladas? Descrever-te é meu mistério.Quero desmoronar em você, enquanto vira liquido em mim. Certa vez alguém me disse que homens inteligentes e sensíveis não são bons de cama...e eu de fato não me pronunciarei quanto a isso.
ARTE DE LARRY CLARK

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Desculpa mas ...

Desculpa mas ...minha mão não pára. Desculpa nada...de verdade não tenho que pedir desculpas alguma, não é culpa minha e talvez nem sua ...Não , não é sua. Fui eu quem deixou você se aproximar de novo...e agora minha mão não pára...não pára de escrever, não pára de secar o rosto ...não pára de movimentar-se ao léu... E agora onde foi que errei ? Fui com muita sede ao pote novamente ? Acreditei demais em você? Te obriguei indiretamente com meu sentimentalismo a dizer que me ama ? Se lembra da gota de pânico ? Pois não é mais gota...é cachoeira. Não precisa me chamar de insegura, exagerada, ansiosa...sei que sou tudo isso...Mas muito mais que isso sou alguém que espera o amor...E de fato acreditei que você o trazia. Você estava lindo quando veio e disse àqueles que me pariram: - Quero ficar com a filha de vocês...quero fazê-la feliz...eu chorei...como não chorar? Assim como estou agora.Insegura...vai decretar de novo ? ok posso ser , mas muito mais que isso quero acreditar que o amor não é coisa da minha cabeça.E que você amou sim ...e que você ama...e que você amará...será ? Você disse que quer ficar comigo pra sempre ...é verdade ? Você disse que tinha certeza que a gente devia ficar juntos ...Você tem certeza da sua certeza? Como controlar essa avalanche que sinto agora ? A gente vai mesmo se unir mesmo quando o mundo conspirar? e você que é lindo , nunca mesmo vai me desapontar?E se me desapontar tera corajem de juntar os pedacinhos ? Estou aqui te esperando há cinco dias ... Esperando você aparecer com seu umbigo homofônico e seu braço de pedreiro...esperando que você retorne sem nenhuma má notícia...esperando que apenas diga novamente que me ama...ou que... Pois é to aqui ainda te esperando que apareça ao menos atraves de palavras doces...mas não você não vai aparecer ...me enganei de novo? Diz logo que eu sumo...ja to sentindo o coração em chamas...não espera muito não ...Peça desculpas novamente pela sua mentira, e tudo será como da outra vez. To te esperando ainda ...cansada e sonolenta. Mas então só me diz agora : Te fiz alguma coisa ?
(*DESCONHEÇO O ARTISTA DA IMAGEM, TEXTO DE LETÍCIA BUENDÍA)

All mine

É só você sair que me sinto só ... Deixei de ser aquela de antes, sou completa, sou feliz e sou bonita. Me fala por que me sinto tão esquisita quando não está do meu lado ...por que meu coração aperta de tal forma que quero morrer ? Medo que que você também vá embora ...de novo.Medo de que essa felicidade se desmanche de uma hora pra outra. Você vai ficar aqui por muito tempo ainda ? ou quem sabe pra sempre ? Vamos ser realmente felizes juntos como nos contos de fadas? O dia inteiro tento me socorrer de pensamentos terroristas com coisas que não fazem sentido...quero te ver feliz , te fazer feliz e ser feliz contigo e somente contigo. Apascenta meu coração? Acaricia-me o espírito com o teu ? Quero me alimentar de você diariamente...quero ser a tua comida, o teu sustento.Penetra em mim ? Não solta da minha mão ? Não enjoa dos meus beijos e carícias ? Não consigo controlar esse medo...o medo do precipício que é estar sem você agora.Medo de que você encontre no meio do caminho qualquer uma que lhe sugira felicidade mais atraente...Medo que você perceba de uma hora pra outra que cometeu um erro em dizer que me ama...que era apenas fome do corpo agora saciada, e que agora precisa ir encontrar o amor verdadeiro em outra esquina diferente da minha. Já sofro horrores pensando que você pode partir e que eu não
passei de uma ocasião desimportante na sua vida . Ontem não te vi ,não escutei tua voz , não senti teu corpo e o dia foi estranho...Dormir não consegui e até vomitei toda a comida que ingeri durante o dia por que tudo ficou insalubre.Agora é assim : o dia não funciona quando você não se faz presente ...Me fala e agora?Vai tabém ter medo de toda essa enxurrada de sentimentos e ir embora? Não faz isso eu peço...Não sou mais a mesma...Todos agora dizem que estou bem e mais bonita com um sorriso sempre presente no rosto, como serei se fores embora ?Que cara e vestido usarei ?Que passos errados darei ? Que tipo de coisas escreverei ? Quero que me faça filhos , que conserte meu chuveiro, que me massageie os pés e o coração...que me coma salivante daquela forma nervosa e angustiante, como se fosse a ultima vez de nossas vidas. Por vezes na sua frente me calo pensando como essa felicidade me desespera, e esqueço que estás ali do meu lado e me faz feliz.Tira de mim esses pensamentos sombrios e diga que ainda me ama e que sou a única.Me põe aqueles leves sorrisos no rosto quando pega na minha mão e diz coisas tão coloridas.Deite em cima de mim e me morda a nuca como um felino...diz que estás feliz pois assim eu também fico. É isso. *FOTOGRAFIA DE FIONA APPLE

sexta-feira, 22 de junho de 2012

E de repente a vida fica colorida e doce como um saquinho de jujubas...

E de repente a vida fica colorida e doce como um saquinho de jujubas... Mas já estou tensa eu digo. -Estou muito feliz, é o que você diz... mas e se de repente você esta se enganando?O que será que te deu agora? (que bicho o mordeu?)... Estou feliz sim , mas essa felicidade me da um medo terrível...medo de acordar um dia e ver que nada existiu...Medo de você acordar um dia e ver que mentiu pra si mesmo , como outrora mentiu.Medo de perder suas costas macias como alimento para as minhas mãos sedentas, Medo que seus cabelos parem de encaracolar os meus e suas mãos não me encontrem mais...Medo de perder seu olhar sereno me acompanhando...Medo do seu cheiro doce desaparecer sorrateiramente...Medo da sua barba mal feita não me espetar mais as faces ruborizadas....Medo de ter essa alegria toda escapulir por entre os dedos como sempre me foi típico. Sou incapaz de abandonar essa alegria... mas e você como se comportará diante desta felicidade que não sei é a mesma? À tarde você me disse palavras doces... e a noite chorei de medo.Medo por que essa felicidade plena eu não conhecia, e agora já estou com medo do seu fim é o que digo. Até rezar ando rezando... fazendo promessas a todos os santos que te proteja nos meus braços, por que em pouquíssimo tempo me acostumei com suas palavras e suas carícias ha tanto tempo trabalhosamente esquecidas. Meu coração ta nodulado aqui... e agora eu choro por que não to acostumada com tanta felicidade. Você jura que não ta mentindo? Jura pra mim que isso vai durar mais que duas semanas?Jura que está sendo sincero o suficiente? Jura que não vai sumir misteriosamente? E to feliz sim... mas amedrontada demais por que sei o que você pode ser ...Sei o quão encantador pode ser ...sei o quão apaixonante pode ser. Será que você tem certeza de tudo o que anda falando pra mim? Ou será que está desesperado querendo esquecer alguém?Será que a real dona do seu coração está à espreita e poderá te chamar quando quiser e você como quem ama desesperadamente vai correr pros braços dela e me deixar sangrando num canto qualquer? Será que você também tem medo ? Há muito tempo que escutar Eu te amo de você era um sonho intocado... Há muito tempo que a frase "Fica comigo!" deixou de ser ansiada. Assim que percebi que estava amando errado, te coloquei na prateleira de afetos ternos, e aprendi forçosamente a não te desejar com ardor do meu lado... Foi árduo, me custou noites frias e rostos molhados , mas enfim eu consegui. E agora quando menos espero você vem com uma caixa de lápis de cor gigantes e me colore a vida, traz a trilha sonora perfeita, me segura à mão e me diz eu te amo? Como não ter medo do arco-íris?... Moço moreno de cachos perfeitos me ajuda a não ter mais medo? Oferece-me teu colo sempre que por algum motivo me der vontade de chorar?Acalenta-me a alma em qualquer uma das vezes em que a felicidade me parecer uma insídia? Faz-me um cafuné quando chover lá fora? E se nada disso puder ser feito, ao menos pode prometer que não vão doer muito dessa vez? Eu estou aqui não importa como... e aceito todas as carícias , todas as palavras doces, os abraços confortantes, os beijos "panacéicos", e te retribuo com a melhor parte de mim que nasceu ha poucos dias, por que sim agora me sinto a pessoa mais linda do mundo e boa também, quando você está do meu lado me aquecendo com um abraço milagroso... O corpo estará fragrante, as unhas vermelhecidas , os cabelos desgrenhados pelo vento da madrugada e o coração carnavalesco, você aceita? *ARTE DE RAY CAESAR

sábado, 5 de maio de 2012

O Eremita - Voltaire

O EREMITA- De Voltaire
Assim caminhando, encontrou um eremita, cuja venerável barba branca lhe tombava até a cintura. Tinha na mão um livro que lia atentamente. Zadig parou e fez-lhe uma profunda reverência. O eremita saudou-o com um ar tão nobre e tão bondoso, que Zadig teve curiosidade de conversar com ele. Perguntou-lhe que livro lia. — É o livro dos destinos — disse o eremita.- Quer ler um pouco? Pôs o livro nas mãos de Zadig que, embora versado em várias línguas, não pôde decifrar-lhe uma única letra. Isso ainda mais lhe aumentou a curiosidade. — Pareces bastante aborrecido — disse-lhe o ancião. — Motivos não me faltam! — exclamou Zadig. — Se me permites que te acompanhe — tornou o velho, — talvez eu te possa ser útil: tenho às vezes derramado sentimentos de consolação na alma dos infelizes. Zadig sentiu-se tomado de respeito ante o ar, as barbas e o livro do eremita. Achou-lhe superiores luzes na conversação. Falava o eremita do destino, da justiça, da moral do soberano bem, da fraqueza humana, das virtudes e dos vícios, com tão viva e tocante eloqüência, que Zadig sentiu-se atraído para ele por invencível encanto. Pediu-lhe com insistência que não o deixasse até chegarem a Babilônia. — O mesmo favor te peço — disse-lhe o velho. — Jura, por Orosmade, que não te separarás de mim, por mais estranhos que te pareçam os meus atos. Zadig jurou, e partiram juntos. Chegaram os dois viajantes a um soberbo castelo. O eremita pediu hospitalidade para si e para o jovem que o acompanhava. O porteiro, que se poderia tomar por um grão-senhor, os introduziu com uma espécie de desdenhosa complacência. Foram apresentados ao criado-mor, que lhes mostrou os magníficos apartamentos do amo. Permitiram-lhes que sentassem à extremidade da mesa deste, sem que o senhor do castelo se dignasse honrá-los com um olhar, durante a ceia; mas foram servidos, como os outros, com refinamento e profusão. Fizeram com que se lavassem em uma bacia de ouro, guarnecida de esmeraldas e rubis. Levaram-nos a deitar-se em um belo apartamento, e no dia seguinte um criado entregou a cada qual uma moeda de ouro; após o que, foram despedidos. — O dono da casa — disse Zadig em caminho — parece-me um homem generoso, embora um pouco altivo; exerce nobremente a hospitalidade. Dizendo tais palavras, percebeu que uma espécie de bôlsa muito grande que usava o eremita parecia distendida e inflada viu ali a bacia de ouro guarnecida de pedrarias, que este havia furtado. Não ousou dizer coisa alguma; mas sentia-se tomado da estranha surpresa. Pelo meio-dia, o eremita apresentou-se à poria de uma casa muito pequena onde morava um rico avarento; pediu hospitalidade por algumas horas. Um velho criado mal vestido recebeu-o rudemente e fez entrar o eremita e Zadig na estrebaria, onde lhes serviram algumas azeitonas podres, pão duro e cerveja estragada. O eremita bebeu e comeu com um ar tão contente como na véspera. Depois, dirigindo-se ao velho criado, que os observava para ver se não roubavam nada e os instava a partirem, deu-lhe as duas moedas de ouro que recebera de manhã e agradeceu-lhe muito as suas atenções. — Peço-lhe acrescentou — que me leve à presença de seu amo. O criado, atônito, introduziu os dois viajantes. — Magnífico senhor — disse o eremita, não posso deixar de agradecer-vos humildemente a nobre maneira como nos recebestes: dignai-vos aceitar esta bacia de ouro como modesto penhor de minha gratidão. O avarento quase caiu para trás. Sem lhe dar tempo para que voltasse a si do assombro, o eremita partiu às pressas com o seu jovem companheiro. — Senhor, que vejo eu? — diz-lhe Zadig. — Não vos pareceis em nada com os outros homens, roubais uma bacia de ouro guarnecida de pedrarias a um senhor que vos recebe magnificamente e a presenteais a um avarento que vos trata com indignidade. — Meu filho — respondeu o velho, — esse homem magnífico, que só recebe os estranhos por vaidade e para fazê-los admirar suas riquezas, se tornará mais sensato; — o avarento aprenderá a praticar a hospitalidade: não te espantes de nada, e segue-me. Zadig não sabia ainda se tratava com o mais louco ou o mais sábio dos homens; mas o eremita falava com tanta autoridade que Zadig, ligado aliás pelo juramento, não pôde deixar de segui-lo. Chegaram de noite a uma casa de aspecto agradável mas simples, onde nada denunciava prodigalidade ou avareza. O dono era um filósofo retirado do mundo, que cultivava em paz a sabedoria e a virtude, e que no entanto não se aborrecia. Aprouvera-lhe construir aquele retiro, onde recebia os visitantes com uma nobreza que nada tinha de ostentação. Foi em pessoa ao encontro dos dois viajantes, a quem primeiro fez repousar num cômodo apartamento. Algum tempo depois veio convidá-los para uma refeição sadia e variada, durante a qual se referiu discretamente às últimas revoluções de Babilônia. Pareceu sinceramente devotado à rainha e mostrou-se desejoso de que Zadig tivesse comparecido ao torneio para disputar a coroa. “Mas os homens — acrescentou — não merecem um rei como Zadig”. Este enrubescia e sentia redobrarem seus sofrimentos. Convieram, na conversação, em que as coisas deste mundo não marchavam sempre ao agrado dos mais sensatos. O eremita sustentava que não se conheciam os caminhos da Providência, e que os homens faziam mal em julgar um todo de que só percebiam a mais ínfima parte. Falaram em seguida sobre as paixões. — Ah! como são funestas! dizia Zadig. — São como os ventos que enfunam as velas do barco — retrucou o eremita: — submergem-no às vezes; mas, sem o seu auxílio, o barco não poderia vogar. A bílis nos torna coléricos e doentes; mas, sem a bílis, não poderíamos viver. Tudo é perigoso neste mundo, e tudo é necessário. Falou-se do prazer, e o eremita provou que é um presente da divindade: “Pois — disse ele o homem não pode dar a si próprio nem sensações nem idéias, recebe tudo; a dor e o prazer lhe vêm de fora, como a sua existência.” Zadig admirava-se de como um homem que fizera coisas tão extravagantes podia raciocinar tão bem. Enfim, depois de uma palestra tão instrutiva quão agradável, o proprietário conduziu os hóspedes ao quarto, bendizendo o Céu por lhe haver enviado dois homens tão sábios e virtuosos. Ofereceu-lhes dinheiro de um modo natural e nobre que não podia melindrar. O eremita recusou-o e despediu-se, dizendo que partiria para Babilônia antes do raiar do dia. A separação foi comovente; Zadig, sobretudo, sentia-se cheio de estima e simpatia por aquele homem tão amável. Quando o eremita e ele se viram a sós no apartamento, fizeram por muito tempo o elogio de seu hospedeiro. O velho, alta madrugada, despertou Zadig. — Temos de partir — disse ele. — Mas, enquanto todos ainda estão dormindo, quero deixar a esse homem um testemunho de minha estima e afeição. Dizendo tais palavras, tomou um archote e ateou fogo à casa. Zadig, horrorizado, pôs-se aos gritos, e quis impedi-lo de cometer tão revoltante ação. O eremita arrastava-o com uma força superior; a casa estava em chamas. Quando já se achava bastante longe com o companheiro, o velho pôs-se a contemplar tranqüilamente o incêndio. “Graças a Deus! — disse ele. — Eis a casa do nosso querido hospedeiro completamente destruída! Que homem feliz!” A estas palavras, Zadig viu-se tentado, a um tempo, a romper em gargalhadas, a encher de injúrias o venerável ancião a bater-lhe, e a fugir, mas não fez nada disso e, sempre dominado pela ascendência do eremita, seguiu-o, a contragosto, até a próxima pousada. Era em casa de uma viúva caritativa e virtuosa que tinha um sobrinho de catorze anos, cheio de atrativos e que era a sua única esperança. Fez, o melhor possível, as honras da casa. Na manhã seguinte, ordenou ao sobrinho que acompanhasse os viajantes até uma ponte que, estando meio arruinada, se tornara de passagem perigosa. O jovem, solícito, marchava à frente deles. Ao chegarem à ponte, disse-lhe o eremita: — Vem cá, devo dar uma amostra de gratidão à tua tia. Toma-o então pelos cabelos e arremessa-o ao rio. O menino tomba, reaparece um instante à tona dágua, e é engolido pela torrente. — O monstro! ó celerado! — bradou Zadig. — Tu me havias prometido mais paciência — disse-lhe o eremita, interrompendo-o. — Pois fica sabendo que, debaixo das ruínas dessa casa que a Providência incendiou, o proprietário encontrou um tesouro imenso; e é bom que saibas que esse jovem, a quem a Providência torceu o pescoço, teria assassinado a sua tia dentro em um ano, e a ti daqui a dois anos. — Quem te disse tal coisa, bárbaro? gritou Zadig. — E, mesmo que houvesses lido esse acontecimento no teu livro dos destinos, acaso te será permitido afogar uma criança que não te fez mal nenhum? Enquanto assim falava, Zadig percebeu que o velho já não tinha barba, que o seu rosto adquiria os traços da juventude. Desapareceu-lhe o hábito de eremita; quatro belas asas recobriam um corpo majestoso e resplandecente de luz. — Ó enviado do Céu! Ó anjo divino! exclamou Zadig, prosternando-se. — Desceste então do empíreo para ensinar um frágil mortal a submeter-se às ordens eternas? — Os homens — disse o anjo Jesrad — julgam tudo sem nada conhecer: eras tu, dentre todos os homens, quem mais merecia ser esclarecido. Zadig pediu permissão para falar. — Desconfio de mim próprio — disse ele, mas ousarei pedir-te que me esclareças uma dúvida: não seria melhor corrigir esse menino, e torná-lo virtuoso, em vez de afogá-lo Se ele tivesse sido virtuoso, e vivido — tornou Jesrad, — a seu destino seria o de ser assassinado com a mulher que deveria desposar, e com o filho que deveriam ter — Como! — exclamou Zadig. — É então necessário que haja crimes e males, e que os males tombem sobre as pessoas de bem? — Os maus — respondeu Jesrad — são sempre infelizes: servem para experimentar um pequeno número de justos espalhados sobre a terra, e não há mal de que não provenha um bem. — Mas — disse Zadig — e se só houvesse bem, e nenhum mal? — Então — replicou Jesrad — este mundo seria outro; o encadeamento dos fatos obedeceria a uma outra ordem de sabedoria; e essa outra ordem, que seria perfeita, só pode existir na morada eterna do Ser Supremo, de quem o mal não pode aproximar-se. Criou Ele milhões de mundos, nenhum dos quais se pode assemelhar ao outro. Essa imensa variedade é um atributo de seu poder imenso. Não há nem duas folhas de árvore na terra, nem dois globos nos campos infinitos do céu, que sejam semelhantes; e tudo o que vês sobre o pequeno átomo em que nasceste devia estar no seu lugar e no seu tempo fixo, conforme as ordens imutáveis daquele que tudo abrange. Os homens pensam que esse menino que acaba de perecer caiu no rio por acaso: tudo é prova, ou punição, ou recompensa, ou providência. Lembra-te daquele pescador que se julgava o mais infeliz dos homens. Orosmade te enviou para lhe mudar o destino. Frágil mortal, cessa de arguir contra aquilo que cumpre adorar. — Mas — disse Zadig... E, enquanto dizia mas, já o anjo alçava o vôo para a — décima esfera. Zadig, de joelhos, adorou a Providência, e submeteu-se. O anjo gritou-lhe das alturas: — Segue para Babilônia.