sábado, 25 de outubro de 2014

Dela

Flamejo enquanto acendo Refresco quando acalmo... Acalmo com teu caule na mão De esquerda ou direita A sacudir ou alisar A engolir ou a chupar Refresco com a tua língua A me lamber, a me dizer a me salvar Anseios, distâncias , fluídos não me confunde rumo nenhum... O meu rumo é onde está teu corpo de pelos acordados ou não, de sedes transtornadas ou não. Rumo certeiramente pra onde estiver teu cajado exuberante e erguido e faço dele o meu pileque. Trêbada de suor saliva e sêmen levito no teu precipício e te saúdo a nuca com um beijo de hálito quente. Te firo pra mostrar quem é que manda, mas eu sou tua-só-tua. Meu aroma de fêmea só existe por que você é o macho. Obra de Égon Schiele

Dele

Anseios fluídos pela distância, Onde a noite confunde os rumos Transtornados pela sede, Pelo frio e pelos apetites Beijos que acordam pelos, Nucas, pele a pele, E espera pra que eu a pegue Sem máscaras, sem pileque, sem roupa Poupa , desnuda, semente Lábios flamejantes, hálito quente Teu aroma de fêmea. Que me fere acariciando E me levita de meus precipícios, Na direção da tua fonte, Ao estalo do cajado Sempre erguido sob o sol Na direção de sua fluente Que flameja enquanto acesa e refresca enquanto calma.
Foto: Julia Fullerton

Pertencimentos

Sabe quando eu percebi que eu te pertencia? Talvez não vá se recordar...é tolice...desimportante...como a coleção de coisas que faço importância e que pra você passam despercebidas... Na primeira vez que pousou a mão no meu seio sob a camiseta da Betty Boop e disse: Você é tão bonita que dá medo...quando nossos lábios cortaram o silêncio de uns quase dez minutos e saímos de mãos dadas madrugada afora. Ali eu já te pertencia...mas você nem fazia ideia do tamanho real de meu pertencimento...e você pertencia a todas...que
azar o meu pertencer a você. Eu já pertencia à você quando fui comprar no dia seguinte um março de hollyood azul, pra parecer sua alma gêmea até na marca do cigarro. Quando me castigou o olhar desfilando suas coxas vestidas com calças femininas e passeou de mãos dadas com uma morena de cabelos longos, eu já pertencia a você mesmo morrendo de raiva, ciúme e tristeza por dentro. Eu disfarcei com um sorriso mais falso que toda a minha simpatia. Quando me olhou com um olhar bêbado de poeta da moda, e riu da minha inexperiência em receber poesias mentirosas e piegas escritas com caneta barata eu te pertencia. E sabe quando eu percebi que eu estava perdida? Quando eu te procurava em todos os ônibus que pegava, em todos os lugares que ia, em todo ar que respirava, e você não aparecia. Eu te pertencia mesmo no ônibus errado. Sabe quando eu descobri que estava doente? Quando você passou a ser meu assunto preferido, minha emoção preferida, minha dor preferida, minha poesia preferida. Eu te pertencia na saúde e na doença. Eu havia desvairado quando enfim te encontrei por acaso no mesmo bairro de sempre e você tocou meu queixo e eu saí correndo com medo de desmaiar ou ruborescer. Você riu. Eu percebi que era sua quando adormeci no nosso primeiro coito e ainda assim ali era onde eu mais queria estar.Eu pedia cada dia que aquela noite se repetisse...mas ela não se repetiu...por muito tempo. Eu te pertencia muito ainda quando fui te procurar diversas vezes na sua casa e ouvi dizer: - Está com uma mulher aí ...e eu voltava desalentada para a casa que eu não queria voltar. Eu perdi a conta das atrizes que amou, mas ainda assim eu te pertencia. Eu te pertencia quando segurou minha mão e disse: desculpa pela minha mentira e as páginas da minha vida ficaram 3 anos em branco. Mas eu te pertencia ainda. Eu odiei ainda mais as atrizes ...eu te odiei mais um pouco, mas pertencer eu te pertencia. Eu tive ciúmes de todas as mulheres que se aproximaram de você. TODAS. Lembra daquela que dançava contigo quando você lhe inferiu um beijo indiscutivelmente pestilento...Eu saí correndo esbaforida e chorando por que presenciei um beijo seu em outra trágica morena. Como te odiei...Como odiei a morena...como odiei todas as morenas do mundo... Tive a visão clara de meu pertencimento a você quando comecei a desistir com certa mágoa e cansaço e me joguei em outros colos. Tinha certeza que te pertencia quando aceitei sua amizade pra não enlouquecer de amor e ódio. E aceitar de vez que a gente não se pertencia nada. Meu pertencimento era certo quando passei a precisar de encontros contigo sobre diversos pretextos, e me pintava e perfumava e me embebia toda pra te parecer mais digna do teu pertencimento. E meu coração pululava sempre...que piegas. Passei a te pertencer de fato quando me apaixonei por uma pá de homens e não amei nenhum deles. Te pertenci quando num certo por acaso te visitei como quem nada faz de melhor num final de tarde e me lancei a jogo novamente. Apostei-me ao teu braço de homem feito. Você ganhou...eu também. Eu finalmente te pertencia...quando todos os encontros eram iguais aos de antes ...a mesma emoção, a mesma vontade, a mesma certeza, o mesmo fulgor nos olhos e no resto. A gente se pertencia quando o meu gemido escapulia com facilidade até a sala e quiçá no condomínio inteiro. A gente se pertencia quando eu bebia vodca no banheiro enquanto você fumava um beck no telhado. E quando nossos vícios se encontravam era outro novo vício que nascia. Continuei te pertencendo quando tudo desmoronou e você foi embora alegando não saber reconstruir. Eu te pertencia ainda, apesar de qualquer Mariana surgida não sei como 10 dias, apenas 10 dias após as cinzas. Era a Fênix errada. Aliás não era Fênix nada... Te pertenci ainda mais quando passei a viver pelas mesmas esquinas que você vivia...te chamei pra perto...você disse Não...mas depois disse Sim...e a gente deu início a um novo pertencimento...esse que a gente pertence até hoje...ou não? A gente se pertenceu tanto que de dentro de mim cresceu ela: A Pérola Calma que você visionou há anos atrás quando escreveu na capa do cd do Belle e Sebastian: “Pra você, esta Pérola Calma, Pro meu teu elo, O meu beijo inteiro pra você.” A gente se pertenceu tanto que a gente se machucou muito...um festival de machucados meus e teus...mas a gente ainda se pertencia. Você pertenceu minha casa, minha cozinha, minha camiseta da Edie Sedgwick, meus filmes estranhos...você pertenceu minha loucura, meu corpo àquela hora redondo da prenhice, minha louça suja.Eu te pertencia toda, você me pertencia pouco...você nunca gostou de pertencer e eu pensava: Que droga ele não me pertencer tanto. Eu te pertenci e me segurei pra não dar na pinta de que eu tava mais feliz que pinto na chuva (mas pinto na chuva é feliz?) quando me apresentou aos transeuntes: - Essa é minha mulher!! – Juro que eu não sabia pra onde olhar, o que fazer, onde colocar as mãos. Pra ser sincera eu nem lembro mais o que a gente tava fazendo ali. Eu só lembro das vezes que você pronunciou a frase: “Essa é minha mulher…Você disse assim, com toda a certeza de pertencimento. Ali mesmo você casou comigo sem precisar de padre e aliança. A gente se pertenceu mais um pouco e nosso pertencimento passou a ser dela também que nasceu dali a pouco entre gemidos e choros de dor física ou não. Ela me pertenceu e eu pertenci o anti depressivo e ansiolítico mais poderoso. A vodca mais forte agora é ela, que me sorri nas manhãs turvas ou não. Eu pertenço a ela...vocês me pertencem...vocês continuam meu corpo. A gente se pertenceu, mas as vezes o amor confundiu-se com pancadaria. Um teste de resistência. Uma prova de esgotamento nervoso. A gente se esbofeteou ...Mas a gente ainda se pertence. Te vejo dormir e automaticamente coloco meu braço em cima do seu corpo, como quem busca a certeza de um pertencimento. Você ronca. Te pertenço no café que me faz de manhã, no sarro que me tira quando lavo a louça, na mordida no cangote inesperada, no abraço terno. Te pertenço até quando sou apresentada como mãe da sua filha ao invés de sua mulher e isso me deixa aflita. O mãe da sua filha não traz nenhuma carga de pertencimento. E isso joga fora todo o texto que acabo de escrever pra você. Por que eu te pertenço e gosto de pertencer. A Obra artística é de egon schiele