sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Em que posso te ajudar?


"Encaminho a paciente Letícia ao tratamento de pscoterapia (urgente)".Era o que dizia o papel que a psquiatra me deu ao sair do consultório.Junto a isso um medicamento controlado para me fazer dormir melhor.
Entrei já afogada em lágrimas.Aguardar na antesala a consulta psiquiatrica era mais triste do que eu pensava.Lembrava de tudo, de todas as coisas boas que vivi com ele.Lembrei-me até de seu inclinamento para a psicologia.
-Em que posso te ajudar?, disse ela assim que entrei.
-Sinceramente , não sei.
-Por que está chorando tanto?
Contei toda a história trágica de meu término com L.
-Você se considera intensa?Suas relações com pessoas próximas são intensas?8 ou 80?,inquiriu ela.
-Acho que sim.
-Você tem amigos?
-Sim ,tenho.
-E eles estao te ajudando nessa fase dificil?
-Sim , muito.
-Já usou drogas?
-Maconha, poucas vezes.
-Bebidas alcólicas?
-Estou bebendo há mais de uma semana sem parar.
-Já tentou o suicídio?
-Não tenho corajem.
-Mas já passou pela sua cabeça?
-Inúmeras vezes.
-Estás conseguindo dormir?
-Não.Acordo muitas vezes durante a noite?
-Está comendo normalmente?
-Esqueço-me de comer.Ontem passei o dia inteiro com 3 bolachas cream cracker e uma garrafa de vinho sêco.Hoje de manhã consegui comer um sanduíche de queijo minas.
-O que faz quando se sente muito triste?
-Chóro, e quando estou sozinha...
Levantei minha blusa e mostrei meu ventre com todos os cortes, ela olhou e anotou.
-Você já se cortou outras vezses Letícia?
-Sim, quando adolescente e me sentia sozinha.
-Você sabe me dizer por que se corta.
-Não com precisão.Depois a tristeza passa e eu me sinto uma idiota.Me olho no espelho e vejo meu ventre avermelhado por conta das incisões e volto a chorar de arrependimento.Mas nessas horas de tristeza intensa, eu chêgo a ter raiva de mim.A me sentir inútil.Me corto pra ver meu sangue.Pra me castigar.
-Há quanto tempo ele terminou com você Letícia?
-Há pouco mais de uma semana.
-Você acha que se ele tivesse com você, tudo estaria nos eixos?Ou por acaso existe um outro motivo pra você se entristecer.
-Posso dizer que nunca fui equilibrada.Sempre fui intensa no que sentia.Principalmente no que tange as relações amorosas.Eu me lanço , e confio no outro toda a minha felicidade.E quando acaba...me acabo junto.O L. me dava alegria, motivos de sobra pra ser feliz.Ele coloria a minha vida.Dizia que me amava.Pela primeira vez me senti amada de verdade, correspondida.E por isso me desespero agora.Das outras vezes sofria por que não era correspondida.Mas desta vez vivi uma historia linda , que tinha tudo pra dar certo (ao menos era o que me parecia ).E agora que acabou...não sei o que fazer ...que rumo tomar...que decisao tomar.E por isso vim aqui.Pra que eu volte a ter uma vida normal.Não consigo parar de chorar o dia inteiro.Não consigo parar de beber...Estou desesperada.
(...)
- Letícia,embora você apresente sintomas de depressão, ainda é cedo pra eu te diagnosticar, pois todas essas reações que você apresenta quanto ao término de um namoro que era muito importante pra você não são atípicas, assim como eu tambem não posso dizer que é perfeitamente normal.Eu mesma já fiz tudo isso quando terminei um namoro há certo tempo atras.Ainda está recente o que aconteceu com você.Porém, eu tambem não posso ignorar a possibilidade de uma depressão, pois você apresenta grande parte dos sintomas.Vou te prescrever um medicamento , e preciso que você procure um tratamento de psicoterapia.É muito importante que você faça isso urgentemente.Se você procurar em faculdades você consegue um atendimento gratuito.Preciso que você remarque a consulta comigo daqui a duas semanas.E é importante que você comece a tomar o medicamento o mais rapido possivel.E que você de forma alguma consuma bebidas alcólicas.O medicamento vai te ajudar a controlar a ansiedade, vai te fazer dormir.Vou te dar um telefone, pra se caso passar pela sua cabeça de fazer uma besteira.Ficou claro ?
-Sim.
-Aqui está , o encaminhamento a psicoterapia, o medicamento e o atestado.Melhoras.
-Obrigada.
Saí do consultório chorando ainda mais.Voltei pra casa.Pedi a minha mãe que comprasse o remedio.Estava sem dinheiro e pedi que comprasse no cartão.
-Que remédio?
-É um calmante que a médica me receitou.
-Calmante?Mas o que foi minha filha.Você tá estressada?
-Sim.Não estou conseguindo dormir.
-Eu não sabia disso Letícia.Se você me dissesse eu te daria algus chás.
-Mãe é importante que eu tome este calmante.Foi o que ela me disse.Compre por favor e no proximo mes te dou o dinheiro.
-Tá bem ...é por causa do..
-Não mãe.É por causa de mim.
-Tudo bem minha filha, mas cuidado com calmantes , eles viciam.Me dá a receita que eu vou lá comprar.
Depois disso minha mãe subia até meu quarto de 20 em 20 minutos pra me oferecer algo pra comer.E eu me negando.Não tinha estomago pra nada.
Finalmente fui dormir.Ainda com lágrimas nos olhos, lembranças não desfeitas...e a esperança de que tudo vai ficar bem.

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