sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lembrancinhas , línguas de sogra , beijo de moça , suspiros e suores...

A saída é sempre esta: escrever, escrever e escrever. Você estava ciente e continuou.Agora julga todas as minhas linhas erradas...todos os meus contornos.Te assusta saber de tanta coisa agora?Qual o seu medo, se eu mesma não tenho nenhum medo?
Agora sim você pode ter entendido... mas não tudo.Este é só um começo de luz em você, e até me dou por satisfeita por isso.Estou feliz, por que agora você pode compreender um décimo das coisas.Apenas um décimo das coisas...
Não duvide: eu escolho queimar e não fugir da fogueira. Desde sempre foi assim .Desde a mais remota época da infância quando descobri que brincar com fogo a noite não te faz fazer xixi na cama.Desde que comprovei através da prática que brincar com fogo à noite não te faz urinar em lençois sadios.Há muito tempo que eu brinco com fogo...e à noite.Eu me queimo por vontade própria.Eu me queimo por gostar de queimar, apesar de por vezes sofrer com queimaduras purulentas.Mas ainda assim admiro as feridas e as contemplo mesmo depois de cicatrizadas...

Há muito tempo sem que você percebesse, eu já queimava, mas precisava fingir comedimento para não assustar-lhe com minha enxurrada de sentimentos intensos e vadios. Você fugiria tenho certeza...você me escaparia como sempre escapou não compreendendo o pouco que compreende agora.
Estou com a alma limpa agora. Você não sabe como era trabalhoso fingir não sentir nada.Fingir não ter nenhuma saudade.Fingir nao enrusbescer e não sentir a montanha- russa dentro de mim quando te aproximavas pra depois recuares sem explicação.
Ah agora estou legítima por que agora você compreendeu um milésimo disso tudo(sim, agora mesmo percebi que não foi um décimo...)
Estou doidamente apaixonada por todos os ecos... por esses meus desvãos.Estou toda azulada , brilhante e quente.Não quer tirar a limpo?
Você não consegue ver que o que é hoje, sempre foi desde o começo... desde que tocaste o meu ombro e sussurrou no meu ouvido:"Você gosta de ser lida"

Entende? Estou em processo de combustão desde sempre, e a única diferença é que agora você enxerga minhas labaredas.
Você está distante agora. É sua escolha e não a minha.Está cauteloso, sóbrio...fosco.
Nada mudou, por que toda a combustão sempre existiu. E meu prazer sempre foi o de queimar, embora você sempre me escorregasse.
Estás fazendo desfeita com todas as minhas oferendas?Logo você deudade descascada?Vai fazer desfeita da minha cesta de palha com charutos , vinhos, incensos de mirra e uma bíblia para rasgarmos juntos ?Não posso crer...você, logo você vai negar minhas oferendas que foram tão preparadas pra você?

Existem muitas aqui, e você conhece apenas algumas delas.
Há muita coisa a dizer que não sei como dizer... Mas o que digo agora é que estou descansada , agora que você começa a enxergar uma luz, pois agora não vou precisar dar sinais fugidios.Não vou precisar planejar passar na hora exata em que você está passando.Não vou arquitetar planos pra você me perceber mais um pouco...
Mas e agora?

Agora você quer se retirar da festinha antes mesmo do parabéns? Ficou somente para assistir o show dos palhacinhos e comer alguns poucos brigadeiros que eu mesma preparei com sentimentos injustificáveis e doses de parca luxúria?Não vai ficar pra assistir o espetáculo maior? Aquele com lembrancinhas, língua de sogra, beijo de moça, suspiros e suores... não vai ficar?
Por acaso eu pedi pra que se retirasse?Por acaso disse eu que tinha medo de fogo? Que tinha medo de me queimar? Como homem? Se eu mesma fui batizada pelo fogo?O que prefiro é fogo e não água... Vai se retirar? E por quê? Logo agora?Vai sair do espetáculo grandioso em que és o personagem principal há tanto tempo?E quem vou colocar no lugar?Não há atores tão bons por aqui... nem acolá.Você conhece algum que possa te substituir?Não mesmo... você não conhece...eu não conheço...seu lugar vai ficar vazio.

* ARTE DE DINO VALLS

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O meu café não tem açucar

O meu café não tem açúcar. Fiz isso pelo simples prazer de não ter prazer com o ato.Assim como nós: não temos açúcar, não temos prazer.Não tenho prazer.Tenho infinitas lucubrações que enfeitam minha noturneidade quando não te faz presente.Quando todas as vezes não te fez presente.
Estou aturdida com a alma dobrada e você não compreende. E você não aparece (como uma deidade no meu quarto de insônias).E você não vem deflagrar o que é apagado.
Estou agora escrevendo o seu nome em cada palavra desta. O que lê agora não é nada além de seu nome com letras garrafais perfumado com minha libido vociferante.
Eu sei... não precisa me dizer : Você não entendeu nada...você nunca entende nada...Você não me alcança sequer com as pontas dos dedos, e eu louca como aprendi ser com minha generosa mãe, fico à espera de qualquer salvação tua.Não percebeu que estou até dada hora aguardando por palavras amenas ? E você então volta a me aborrecer com pormenores de relações passadas.
Não percebeste que eu quero ser tua. Não percebeu o quanto meu corpo grita por breves instantes de volúpia.Não percebeste que desejo a menor coisa, o menor ato.Que desejo qualquer coisa na tua companhia.Não percebeste assim como não perceberia a hecatombe interna que me causas toda a vez que vai embora.
Existe uma batalha. E você nunca lutou nela, embora eu lhe pedisse diariamente através de orações destituídas de fé em qualquer coisa, que lutasse com sua espada em forma de falo
Não vou dizer que te amo, por que creio ser isso um devaneio. Não vou lhe dizer que te odeio, por que minha querida mãe me educou a amar o próximo ( embora ela mesma nunca tenha demonstrado a prática do que é isto).Não vou lhe dizer nada , por que simplesmente você não me dá ouvidos.Ou ao menos não me dá os ouvidos que preciso.Não vou fazer nada: Apenas vou ficar aqui imersa nessa invenção dos homens chamada solidão , com um copo de vodka e um gilete pra cortar a pele.
Você não entende nada. Não entende o meu desejo ...não entende minha fogueira de dentro.Você nem sequer me faz um cafuné quando chove lá fora...ou quando estoura a guerra dentro de mim.
São muitas as suas colombinas, e eu fico aguardando por mais um pouco de afeição... por mais um pouco de desejo.Fico aguardando ser a tua necessidade.Aguardando a tua voz no telefone dizendo : - Vem que eu não aguento mais de saudade.
Mas não. Eu não te faço a mesma necessidade que a de um bovino para matar tua fome.Não te faço a mesma necessidade que a de uma taça de vinho fumegante para aplacar uma dor.Não te faço a mesma necessidade que a de um inseto rastejante para te fazer companhia.Não sou necessária nem mesmo para ser arremessada na tua parede como uma indiscreta beata assassina.
Só estou misturando tudo, por que você não entende nada. Então não faz diferença o que escrevo aqui ...por que nada você vai entender embora sempre diga quando terminas : - Ah entendi!
Não.Não entendeu.Não me entenderias nem se eu fosse um reles escritor de bíblias falsescas.
Eu não acredito em fadas. Exceto aquelas que retiro da latrina todas as manhãs sem teto, e que não são verdes.Por que é das verdes que tenho medo.Não me agrada a cor verde, por que não tenho mais esperança em nada a não ser a de que você um dia apareça e me pegue pelo braço para passear na chuva (ácida) e derreter junto comigo num ato de comiserável paixão.
Eu não vou explodir. Não mesmo. Ainda que centrifugue meu peito com as suas palavras indecisas... eu não vou explodir.Ainda que me apareça um duende com objeto fálico ereto nas mãos para me penetrar inteira , eu não vou explodir.Ainda que me venha qualquer Jesus Cristo me fazer sala na minha própria casa com um prato de hóstias e uma jarra de vinho, eu não vou explodir.
Ainda que...

Ainda não terminei... há ainda muito o que escrever.

ARTE DE JOHN JOHN JESSE

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Devolve o poema que te fiz


Arte de David Stoupakis


Devolve o poema que te fiz... ele não te serve .

Faço um esforço sobre humano para não te escrever...mas as palavras me chicoteiam até eu não resistir.
Mas...será que de fato estou te escrevendo?...Ou...estou deixando escorrer pelos poros com o erotismo próprio do que é vivo?

Estou desistindo... eu acho.Quero desistir ...eu acho.Eu achava que estava tudo resolvido..Que nossas inconsistências iriam de uma vez por todas se misturarem numa maravilhosa dança pagã de corpos nus.
Dentes podem machucar. Unhas também podem. Olhos que procuram abrigo. Sustos. Desmaios... Negociamos o que exatamente?Sou incapaz de dizer. Você também.Estou ardendo por duro prazer mórbido de ainda te desejar.Ainda tens data e hora para vir ?

Devolve o poema que te fiz, ele não é teu.

Será que é capaz de ficar e escutar exatamente agora meus lamentos dominicais?Ficarias para me salvar um pouco?Não. Eu sei que não...
Sei que já foi embora, e que amanhã talvez volte com palavras mais amenas para remontar meus desejos.
Talvez consiga.

Devolve o poema que eu te fiz... ele é de outro.

Talvez te escreveria novamente... talvez te direi sim novamente.
Mas e daí mesmo: Eu não preciso da comiseração de ninguém. Se vou dizer sim é por que quero dizer sim e pronto.Não posso carregar as dores do mundo ...nem as minhas.Não preciso fingir nada: Eu te desejo febrilmente.Desejo a tua salvação em forma de falo.O teu cântico em forma de sussurros ao pé do ouvido, a tua reza em forma de beijos.

Devolve o poema que te fiz...

Você me arranha diariamente com farpas, e eu sou incapaz de sentir tais dores. Me aprazo até com o que é dolorido.Mas você continua rindo um riso bondoso e irônico.Eu desisto então...
Eu me banho e me perfumo só para te ver de longe. Só para te ver de muito longe...
Estou com o corpo torturado de volúpia. Ainda não enxergas?Quantas linhas ainda preciso escrever?
Caminhando em corda bamba o tempo todo com intenção que me devore truculentamente.
Estou desordeira, mentirosa, lúbrica, assassina.
Quero assassinar você agora... por motivo torpe: você não me aquece.Não aquece meu coração insalubre, meu corpo arrefecido.Você não aquece nada.Apenas me entrega o (teu) fogo para que eu mesma me incendeie.
Chega!
Não quero de forma alguma me sacrificar. Não quero de forma alguma continuar a me esforçar...Continuar a escolher a roupa certa , o perfume certo , as palavras certas , as caricias certas,as idéias certas... a dose de vodka certa.
Estou enfurecida... vai devolver ou não o poema que te fiz?
Devolve, ele não te serve.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não desligue o telefone!

Ele que era peça esquecida na prateleira de afetos veio hoje lhe dizer que sentia saudade...
Saudade de quê afinal?
Das unhas vermelhas?
Da calcinha de algodão?
Do seio aflito?
Dos gemidos lúgubres?
Do cheiro doce saindo das pernas escancaradas?

Com raiva surda na mesma hora quis desligar o telefone e dizer que não mais a incendiava...Mas ele não acreditaria...Era tarde demais.Já conhece demais o corpo dela, e sabe como ele responde a seus toques sorrateiros.
Ela queria desligar o telefone.Mas ele continuava a dizer coisas com voz taciturna e arrastada:

- Quero você aqui agora comigo...venha...agora...Não vou fazer nada ...por que é você quem vai fazer.Pode fazer o que quiser...me bata, me cuspa, me prenda.Junte sua raiva toda e me machuque de uma vez por todas...me machuque como eu te machuquei...vou permitir uma unica vez.Aproveite e se vingue...Sua vida é curta ...A minha vida é curta.Vamos sangrar juntos.Vamos morrer juntos em cima de uma cama de motel barato.
-Não.
- Você é quem manda agora.Tenho saudade da sua brancura, das suas pernas me apertando com força impedindo de me mover...Tenho saudade do seu corpo molhado ...do seu sexo inundado pelo meu...Tenho saudade e você também tem...
-Não
- Cala a boca, não negue...eu sei que tem ...eu posso sentir você agora se remexendo na cama com a mão dentro da calcinha embriagada de desejo querendo me sentir agora.Querendo me colocar inteiro dentro de você.
-Não.
Cala a boca sua idiota.E pára de choramingar.Você é minha.Eu sou seu homem...Tenho certeza que quando eu desligar você vai arrancar a roupa toda e vai chamar pelo meu nome.Eu conheço você...Essa é sua decepção...Você nunca quis isso...Mas eu te domino com minha serpente.E sua tal inteligência deixa de ser no momento em que te golpeio fortemente com uma única parte do meu corpo.Pra mim de nada serve tua tal sensibilidade...Pra mim de nada serve tua tal inteligência...Pra mim de nada serve tua tal poesia.O que me serve em você é seu corpo quente, úmido e alvo...
-Não.
-Vai continuar a negar? Vai dizer que não esta embebida agora mesmo em suas próprias substâncias corpóreas?Vai negar que te viro as pupilas só com minha voz ao telefone ? Posso sentir agora minha mão no seu sexo e dele escorre suas negações.
-Não, eu não sinto nada.
-Sente...esta sentindo agora.Está me amando agora.Não consegue desligar o telefone?Sua voz me confessa agora.Está em desejo enquanto sua mãe na cozinha prepara o almoço, e seu pai fuma um cigarro na varanda.
-Eu...eu não quero...eu...
- Quer ...você me quer...como sempre me quis. E não venha com aquele velho assunto de mãos dadas a noite, almoços dominicais e declarações de amor ao pé do ouvido.Não é assim que você me quer...Nós sabemos disso , mas você nega pra sim mesma.Você não quer assumir que o que tem é tesão...é tesão somente.Inventou esta parafernália toda de sentimentos para se perdoar.Para perdoar o seu pecado maior que era o de não me amar.Você inventou o seu amor por mim .Ele não existe.O que existe é somente nossos corpos no ringue.Nossos corpos suando.Nossos corpos conversando.Nossos corpos lutando.Nossos corpos marcados pelos dentes de bocas esfomeadas.Isso é tudo.
- Não é verdade...eu...
- Vai continuar negando que apenas me ama quando puxo seus cabelos e mordo sua nuca tão forte que te marco por uma semana.Você chama isso de "demarcação de território" não é mesmo ? Com que crescentes delícias exibe suas marcas pra si mesma e diz pra si como uma gatinha no cio: Eu sou dele.Vai continuar negando que me ama no preciso instante em que deliras e diz : Sim amo...estou amando agora.
- Vou desligar...
- Você não vai desligar.Vai ficar e ouvir...Vem aqui me pedir porrada.Vem aqui me dar porrada...Se vingar de mim .Adoro você quando está com raiva.Adoro quando você me machuca com unhas e dentes.Adoro quando me aperta.Adoro quando arreganha sua boca para receber meu cálice...E deixa meu desejo descansar entre suas pernas...Adoro quando afasta com violência o meu rosto de suas partes íntimas...quando pede que eu a penetre forte e eu por pura maldade continuo a te inundar de saliva.Você implora, sacode o corpo , grita.Até chegar o momento que eu de fato te penetro e você fica serena e não me olha...não me encara.Não quer me ver...Quer apenas me sentir.
- Pára...por favor ...eu...


ARTE DE RAY CAESAR


- Não vou parar.Até que o seu cheiro de menina venha me visitar agora.Não sente saudade do meu negrume?Como foi mesmo que você certa vez me chamou em uma de suas poesias ? É...pele negra borbulhante não foi isso ? Sim , estou borbulhando agora mesmo querendo borbulhar dentro de você..Não quer arrancar os pelos brancos do meu peito com os dentes como você sempre fazia? Pode fazer o que quiser...você pode...você pode fazer o que quiser comigo agora , por que eu agora também estou refém de meu desejo querendo que você me salve...Você com suas unhas vermelhas, sua calcinha de algodão quase infantil, o seu corpo branco que fica lindo em cima do meu corpo negro.O contraste das cores que aparece no espelho do teto do motel...Vai dizer que não tem saudade disso meu amor?
-Não me chame de meu amor...pára de ser hipócrita.
- Mas eu te amo minha linda ...da mesma forma que você me ama : com o corpo ...e somente com o corpo.A unica coisa que de fato nos une é minha penetração em você...você sempre soube disso , mas quer inventar coisas só pra ficar mais romântico...Só pra ficar mais tragável nossa falta de pudor quando nos despíamos rápido em algum lugar qualquer em que você chorava de raiva por me ceder , mas que logo soltava aquele gritinho sem jeito.E eu bebia suas lágrimas...AH como você se deliciava ao mesmo tempo que queria me decapitar ali mesmo...Venha , eu deixo você me decapitar...Vem minha branca...vem ...to te esperando.
-Não , eu não vou ...
- Você vai vir...se não hoje algum outro dia...mas você não vive sem mim.Já te provei isso.
-Eu não quero...
-Você não quer ...mas vai vir...posso sentir isso desde já.E então quando virá?


Desligou o telefone.Despiu-se.Chorou.Tocou-se violentamente...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A odalisca

Só por hoje não vou mais te escrever
Você que não penetra minhas profundezas,
A você que não compreende a solidão minha ...
A você que se apaixona todos os dias por muitas , mas que por mim nega
A você cujo corpanzil forte me cobre toda,mas nunca penetra.
A você que prefere a liberdade torta mas nao me permite a liberdade de tê-lo...
Você que diz me querer tão bem...mas que tá tão longe...
Já disse o quanto meu seio alvo e nu sente falta de tua mão pesada máscula?
E que minhas costas pedem teu socorro aflito? E que meus cabelos querem ser enrolados nos teus dedos?
Você me responde com seu tom majoritário:

" - Sim você disse...Sim você diz o tempo todo...Sim você diz isso com o cheiro do seu corpo quando está comigo...Sim você confessa em cada palavra maldita, em cada abraço maldado, em cada beijo escorrido, em cada olhar inundado de brilho.Sim você confessa e eu do meu lado nego e você não entende e interpela: Está tudo bem ?- Eu digo que sim mas você vai pro canto como quem desarma e eu fico tentando juntar as peças novamente para que você se erga feliz e sorridente."

É assim que você me ganha ? Ou é assim que você assume que não perdeu?Vai continuar me negando por que? Vai continuar inventando mais desculpas pra quê se não precisamos de nenhum perdão?
Pra quê umedecer meus mistérios sendo você incapaz de perpetrá-los?
Estou traindo minha promessa e agora , logo agora na madrugada vazia , acompanhada da xícara de café escrevo coisas pensando em você.Escrevo coisas pensando somente em você...Escrevo você pensando em coisas ...Escrevo você pensando somente em coisas.
Você que parece estar ao meu lado quando escrevo e que me olha como um demônio atroz e diz : já acabou?
Eu digo : Não...ainda há o que escrever.Você aguarda impaciente para devorar meus sonhos e pensamentos novamente.Eu com medo , digito cada palavra vagarosamente para ganhar tempo.Você se cansa e vai embora sem me dar boa noite, e eu sou incapaz de dizer : Não, não vá ...fique e devore meus pensamentos.Fique e devore a mim por que sim eu sou tua.

...

Você tem medo de fazer chorar ,quando na verdade o que quero é chorar em cima de você...CHorar por todas as partes do corpo... é dificil perceber?
O que falta entao?
Vai esperar que meu coração acelere de tal forma que seja impossivel controlar um desmaio?Vai esperar que as lagrimas tao temidas por você percorram o meu rosto por não tê-lo?Vai aguardar algum acontecimento sórdido me lançar da janela do teu apartamento à noite? Vai querer que eu sobreviva inteira de um desejo febril?
Ora homen se mostra...Se mostra a mim...Se joga em mim ...Se jorra em mim ...
Eu me delicio não importa o que aconteça...
Mas me ataque ou aceite de bom grado os meus ataques.

Eu sou felina.E estou no cio.

*ARTE DE INGRES

quinta-feira, 7 de julho de 2011

VOcê diz que eu preciso de quê?

VC diz que eu preciso do quê?
Calma aí vc nem me conhece direito seu deflagrador
Eu não preciso de nada não... o que eu tenho era o que deveria ter
E se dúvida me dê mais
Pare de falar e se doe
Doe esperança
Doe alento
Doe energia
E se nada disso estiver disponível na prateleira de afetos
Doe sangue
O meu corre parco nas veias
Ah mas todos os dias eu acordo sorrindo e abrindo janelas


Todos os dias eu coloco a música do dia para estremecer meus tormentos com sinfonias que fazem tremer paredes
Acordando aranhas transeuntes dos tetos que me sufocam
Epa, peraí você tá dando as costas pra minhas confissões?
Vc não disse que eu precisava de algo?
Vai ver eu precisava mesmo
Vai ver eu preciso ainda...
E nem tinha me dado conta
Agora vai ficar e ouvir!
Se bem que eu acho melhor mesmo ir embora de mim
Não tenho saco de explicações e conceitos pobres acerca do que nem interessa

Antes não tivéssemos aprendido o conceito devassidão - Starla Pisces

Antes não tivéssemos aprendido o conceito devassidão
A vida não é feita de alcovas
Nem de amores eternos
E a perversa química anda por todo o lugar
Aproximando as pessoas
Que culpa tenho eu de ser tão sensitiva...


Querido volte a tempo
Tempo de nos salvar
Nos salvar de nós mesmos


Eu já disse o quanto sinto saudades...


Despeja teu enfado no meu corpo
Querido
E depois verte teu suor trazido do nada
Purifica o templo que de nada tem sagrado
Meu corpo


Querido quando aparecerá?
Vai esperar minhas lágrimas indecentes jorrarem
Meu sangue escorrer indelével
Pelos pulsos


E se por uma noite que for eu me desviar
E se por um momento que for já não for tão sua
Se a melodia constranger e me levar
Labirintos tortuosos e encarnados
Labirintos canela
E se o kama sutra for o livro da semana?
Você não estará e eu estarei distante também


Se não for eu será outra
Entenderias?


Querido não sou franca o suficiente
Minha libido é proveniente de um vinho seco suave que acabei de tomar
Tomar na cara de minhas convenções


Pois bem esse é o fato: Não está terminado.
Ignore minhas entrelinhas e absorva meu coração
(Deixo ele sempre em casa quando dou voltas por aí)


Querido entenda a matéria uva turvando a visão
E o aroma alabastro inspirado pra dentro
Entenda minha desfaçatez
Pare de reclamar

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os Três mal amados- João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

sábado, 2 de julho de 2011

A estranha e o pirata VII - Contratos


A estranha

Quero transar, quero acarinhar, quero lamber, e morder.Você já consegui me atrapalhar o suficiente...essa é a verdade.
Gostei do sarro, das lambidas, das mordidas, dos apertos, dos beijos, das saliências...
E agora não sei mais pensar em mais nada que não seja transar com você...e saber como você se comporta em cima de uma cama...de saber como você geme...de saber como você goza...
Sim Pirata...você ganhou esta partida...e não quero mais ter que resistir... quero acabar logo com essa brincadeira adolescente que anda me levando diariamente pro inferno...
A gente transa, e põe um ponto final nisso tudo. E a partir daí veremos o que vamos fazer. Se me apaixonar...que se foda... terei lucro com isso...
Quero que me arranque a decência e amores perdidos por entre as pernas...Me salve.

Aceita?

O pirata

Toma a sua liberdade. escolher é ser livre. è assim que tudo se esclarece. Eu também penso na forma contraditória que levo minha vida, meu jeito de amar, de cuidar, de ser feliz... Eu sempre subverto, desobedeço, me liberto sempre das próprias leituras que faço de mim. Eu já procurei a paz em Deus, a tranquila anestesia de viver. Mas consegui com isso conhecer que a luz está para a treva como a treva está para a luz, um espelho para o outro. Quando olhamos num espelho nos vemos ao contrário. Sou o contrario de mim quando estou com meus amores (Minha família) e sou o contrario de mim quando estou com minhas loucuras e paixões (minha farra, dança e soberba). Quem eu posso ser é que me responde quem eu quero ser. Assim eu vou vivendo. Investigando na invenção de cada dia. As tristezas são gigantescas. O mundo sente frio, e um vazio atroz. E a violência e a opressões têm-nos como seus autores. Eu quero apenas ser feliz na troca absurda de afetos. Sei que a moral é moral. Eu sou a-moral. Sendo assim não sei responder a moralidades. Mas sei falar de amor, de Deus, adoro gente, adoro a vida. Eu amo meu tempo de viver e gostaria de abolir dessa existência pelo menos o meu medo. Tudo exige risco. eu me arrisco.
Não precisamos transar. Sexo é apenas uma das formas de relaxar. A poesia sim é o alimento. Que Deus te abençoe, porém aceite dele apenas a circuncisão, nunca permita que ele te castre.

A estranha e o pirata VI- Transa


A estranha

Estou muito mais confusa do que na semana passada, posso te dizer...
Sim, estou adorando nossos encontros tão cheios de mãos, dedos e línguas...e dos arrepios de pele...E sim cada vez menos consigo resistir...Mas o meu coração anda me condenando...
Lembro-me de uma certa vez em que você definiu o que seria "Pecado" .Você disse: Pensa numa coisa que o seu coração te condena...isso é pecado!
E agora?Você o desmente?
Tens sido um forte paliativo para minha solidão...me diverte, me excita, me subverte, me acaricia, me aceita, me provoca...
Por um lado transaria com você muito facilmente pelo simples fato de que você curaria todas as minhas "doenças de pele" que se chamam (nomes masculinos quaisquer) e a porra da obsoleta "decência" .
Por outro lado estaria trocando uma doença por outra doença. Te falo uma coisa com absoluta certeza..Vou me apaixonar!! E você nem precisa ser tão bom de cama para isso acontecer...Só basta que a gente troque nossos "liquidos corporais" para que eu fique doente...com o universo completamente "atrapalhado".
Isso também não lá é ma idéia, ao ponto de que preciso disso o tempo inteiro.
Mas como lidaria com isso?
É por isso que te peço: Me convença de uma vez por todas transar contigo nesta semana ...ou desista de uma vez...pois se desistires, desistirei também.
Me traga uma boa solução pro meu problema, um bom convencimento para transarmos.
Mas veja bem ...não quero que convença meu corpo...pois ele já está mais que convencido...convença meu coração, convença meu espírito.E se conseguires, desta semana não passa...

O Pirata

Fica fria e não perde tempo querendo explicar o movimento do mundo. Os corações se movimentam também.
Você não precisa de mim como eu não preciso de você. Nos ficamos juntos nesses dias por vontade.
você é uma boa menina. Eu também sou um cara legal, e fazer sexo já saiu da lista dos pecados que levam para o abismo. O mundo gira muito e nós não paramos no lugar nem se quisermos muito. Fica fria e dá um tempo pra você.

A estranha e o pirata V - Putarias Poéticas


ARTE DE MATISSE



O Pirata


Dentes podem machucar. Unhas também podem. Olhos que procuram abrigo. Sustos. Desmaios... Negociamos o que exatamente?
Eu arrisco dizer que não negociamos nada ainda. Tudo tem sido apenas ensaio aberto. O espetáculo ainda está as portas... e a boca de cena são nossas bocas em cena.
Eu gostaria muito de saber que coragem estranha foi essa que te bateu. Falando decidida de coisas que até então te coravam até os dedos do pé. Não me parece tão decidida quando senta no meu lado. Apenas sorri maliciosa com vergonha de seus próprios pensamentos. Ou quando fica se repreendendo em sentar-se mais perto num certo bar na lapa, com medo de ser mau interpretada ou bem interpelada, quando apenas era para ouvir e falar melhor. Você anda falando-escrevendo com muita posição. E ai eu fico sempre esperando outro assunto que não seja suas queixas (_ ai eu preciso trepar rapidinho, porém não deixe que ninguém saiba disso que é segredinho!) Textos escondidos nos desdens que você lança como se não precisasse de ar para mergulhar num mar profundo. Não vou falar mais nos seus desejos. Chega. Falarei apenas dos meus. Eu quero trepar. Eu quero saber como funciona seu corpo no ringue. Como você faz para se sentir em êxtase, com que voz você pede carinho. Com que ruído você pede porrada. Eu queria identificar o seu medo de gostar e desejar mais que tudo: repetir... Quero muito atrapalhar o seu juízo nas aulas de filosofia da educação ou sociologia de quinquilharias, pois o melhor dessas aulas seria apenas a pressa de sair e se masturbar. pensando num coito interrompido pelo telefonema de sua mãe que diz aos suspiros que você não a ama mais... e você pensando inquieta: _ Amo sim. Estou amando agora!!!
Eu ainda sou a mesma como você disse. Você não é mais eu lhe digo. Você vai encontrar o que procura. Uma dose malvada ternura.

A estranha e o pirata IV- O convite


ARTE DE MISS VAN


O pirata

Acredito que esperar três dias pela minha resposta deve ter secado as secreções vaginais de sua alma. Mas estou aqui escrevendo como quem escreve um romance. Vamos lá então umedecer sua pequenina caixa de mistérios até transbordar por suas pernas. Você quer transar sim. Eu mereço isso de todas as meninas, donzelas ou nefastas que conheço, e tenho tanta certeza disso que vou dizendo sem parar até que você se decepcione ou se entregue. Seja como for, haveria ganhos e perdas em ambas as ações. Todas as meninas que conheço querem apenas isso de mim e isso me deixa um pouco triste pois, gostaria de ser admirado pela minha inteligência e não pela minha sensualidade.
Comprei no sabado um baralho de tarô e já aprendi a fazer algumas advinhações. esse agora sera meu hobe.
Vou dizer para você os impedimentos de nosssa foda. Você tem medo de não dar conta. Tem vergonha de ficar nua, mesmo sabendo que já te conheço nua de muitas formas. Tem medo de ir para o inferno, os olhos morais de Deus te acompanham até dentro do banheiro, que alias, tem te atrapalhado um bocado em suas transas solitárias pensando em pelo menos uma duzia de homens diferentes por semana. Tem medo de não convencer em sua libido feminina, que se distrai as veses com loiras, morenas e passistas negras de escola de samba.
O que me impede: Apenas o medo de atrapalhar seu universo. Trepar é apenas conversar com o corpo. São feitas indagações multifilosoficas quando estamos gemendo e suando.
Você ainda não desenvolveu seu poder de sedução ao ponto de enganar perversamente minha alma e faze-la te roubar por uns instantes. Seu diabo interior, artista e sedutor te diz todos os dias o que sua alma quer, mas você não está ainda pronta para se ouvir sem se envergonhar.
Seu corpo, olhos, cabelos, mãos, pernas, boca, nuca, unhas... Querem "me ter" por alguns intantes infernais. Mas esperar de uma futura professora profecias de final de mundo, ainda é algo sombrio e desimportante, pouco pedagógico e delirante demais para se experimentar enquando ensina e aprende.
Essa é a noticia mais provavel, Não transaremos. Pois não possuimos juntos a metafisica do inesperado gozo, que aparece apenas na transformação de moralismos em poesias.
Como nos faltam as Heresias...
Mas para seu conforto te digo ainda. Eu posso passar a querer. E não costumo falhar em minhas conquistas. E se crescer em mim o desejo, vou eu lher roubar o beijo do onibus. Pois os anteriores são a materialização do que você espera de mim em cada noite: Timidez e arte sacra.
Minha delicada amante sem coragem. Eu passei a te amar nesses encontros cheios de romance, porem amor é bom entre pais e filhos. Entre poetas amantes o melhor dever ser o desconcertante tesão. A incompreensão das temperaturas do corpo.
E ai quer ou não quer, chupar, acarinhar, morder, chorar, dormir e arruinar sua vida?
Depois no futuro não diz que eu não avisei.

A estranha

Se eu quero transar com você?Claro que quero,sim...eu nunca disse que não quero.É incrível a sua caopacidade de fantasiar sobre mim.Tenho sim estranho tesão por você que ultimamente vem crescendo de uma forma preocupante.Mas e daí?Você não é o primeiro e nem será o ultimo.
Aí você me diz que a unica coisa que quero de você é isto.Se fosse ja teria acontecido no 1° dia (fatídico) em que te assumi este "infernal" tesão.E digo mais: "A tua sensualidade esta exatamente na tua inteligência"...e é exatamente por este motivo que me atraio...Afinal de contas é meio dificil se atrair por um cara baixinho, barrigudo, barbudo e...casado, se não fosse sua brilhante inteligência(a qual eu invejo incomensuravelmente).
O que me impede?Simplesmente a ausencia de um motivo forte além de um tesão infernal e que me faria ter coragem de arrancar minha roupa de uma vez e me lançar nas impudicícias de um amor indigesto.Só isso...
Sim...você tem razão...você atrapalharia meu universo se usasse de sua excelente persuasão para conseguir uma noite sem pesadelos, de corpos nus, suados, intencionados de orgasmos.Nunca duvidei de seu poder de sedução, nem da minha fraqueza corpórea.Sou fácil...como você já percebeu.E realmente algumas fichas tuas será o suficiente pra acertar varias bolas na caçapa.Mas pode acreditar...eu não saberia lidar com isso.Seria paixão na certa...ou na dúvida.Melhor dizendo ...há uma grande probabilidade de meu universo se espatifar contra as paredes passionais de uma gloriosa "FODA".
Mas em contraponto,há também grandes motivos para que eu transe com você...
O primeiro seria o de trair minha escandalosa decência que me persegue desde os tempos de infância , quando descobri através do inútil catecismo , que a masturbação é um grande pecado para Deus.A partir daí , o mesmo pecado que não acredito começou a me perseguir com olhos dançantes.
O segundo motivo seria o de encerrar a minha inutil fidelidade por amores antigos e nao correspondidos."Transar com uma pessoa diferente" foi sempre o conselho de minha amiga Érica(a qual você reluta em pensar ser minha namorada).
Outro motivo consiste em provar pra você o quanto meu poder feminino se desenvolveu através desses anos,...mas claro,para isso eu teria que ter coragem.Isso é o que falta.Só isso.E o teu Deus não me ajuda.Podemos negociar se quiser.
Te faço um convite de um beijo...

O pirata


Eu achei você meio nervosa, sua voz parecia ecoar no meu ouvido quando eu lia. Estranho! Será minha imaginação?!
Bem você nem falou nada do segundo assunto do email...
Sabe que... Você está guardando esses dialogos?
espero que sim.
Lembra que disse que gostaria de fazer teatro outra vez? Eu te disse que poderíamos fazer um filme.
Espero que você esteja guardando esses diálogos.
Quer ir no cinema hoje?
Acho muito engraçado como você aceita provocações com muito talento e disciplina.
E sou seu maior admirador também.
Voce já está cedendo ou é impressão minha?
Ainda nem começamos a brincar.
A ultima fase é comprometedora...
è algo que pode machucar.
Eu adoro ler você. É como te comer!
Eu adoro escrever também. É como ser lambido.
E adoro sair do lugar. Numa manhã ou tarde insana. Lendo e escrevendo. Como grandes mestres das palavras.
Te desafio um desafio mais real. Me diga quanto tempo dura a sua tara e se ela resiste a qualquer decepção. Como um atraso por exempo.



A estranha e o pirata III- Poesia para ti



ARTE DE Erik Thor Sandberg


O pirata


Queria te dizer... Mas fico sempre distraido.
Queria o muro e o sarro
Mas sou feito de barro
Queria ser o anjo
Mas disso não manjo
Pensei em ser Alexandre
Mais tenho a "pica grande"
E resolvi largar o mar
Para apenas contemplar
As diferenças.
Das ninfas não sei nada
Apenas respondo _ Tio?!!
A minha majestade
Está em me esconder da tempestade
Da profunda falta
Do grandioso medo
Do eterno cio
Do Fantastico desprezo
Da fé na fama
Do céu que é fuga
De derreter quando me sinto aflito
Parindo magoas
Pingando espermas
Polindo almas
Perambulando em mitos
Em meio as tardes
Do misterio meu
Que obrigado invento
Para ter assunto e
Parecer culto
E Paralizar a falta
Que me faz o amor recente
A paixão adolescente
O cruel tezão na professora
Quando te vejo se beliscando e esalando musica
Querendo vomitar palavras sobrias
Querendo alimentar esperanças parcas
E anunciando teu pecado triste
eu me alivio no teu roncar de moça
No teu perfume bobo
Em tua visão de um mundo parecido com o samba de ontem
E assim eu me esqueço sempre
Que você foi e sempre é semente
Da poesia que alguem deixou cair.

A estranha

No meu olho
breve consolo
Na minha tarde
Um amor sem alarde
Na minha boca
Um beijo sem sede.
Se da minha janela contemplo árias
É por que teço nuvens.
E o meu estar é quieto.
Aí vem você e me pergunta:
Por que não meu amor?
Te respondo com um nó na língua:
Desejo uma musica, uma poesia e um sorriso aberto...
E meu pesar só é notado através da minha sombrancelha.
Mas aí vem você a procura de uma aurora,
Mais uma vez te respondo...
não creia em mim pirata manco de olho vazado.
Venha que te aqueço num peito de exaltações,
e te dou uma mão errada para segurar.
Só isso?
Não se o teu Deus ajudar.
Vamos ao cinema?

O pirata

Entre minhas
horas perdidas
Nas tardes pra sempre
Uma confusa nota de piano.

Eu já não compreendo
A visão da janela
As áreas das nuvens
são Barulhos de trovão

No couvés do navio
Uma vista para outra solidão, naufragio imprevisivel

Vamos ao cinema para um filme que
Pode nos salvar?

A estranha e o Pirata II


ARTE DE Marina Byckhova

O pirata

Oi Estranha... Li quase Seu Livro Todo.Fiquei procurando naquele monte de verdades algo que pudesse me valer como luz para duvidas que também trago crescendo em mim desde aqueles mesmos anos. Você fala de amor pelo Anjo, Pelos Alexandres, Fala de você, de sua genitora, Fala de um certo pirata, fala de sexo toda hora, de línguas no umbigo e coisas dessas. Você fala de tudo o que dá para falar, porém, não me deu nenhum conselho. Eu queria encontrar ali uma salvação qualquer para mim. Apenas fiquei mais confuso com a vida. Esse é o preço de ler poesia. Mas tenho um palpite para você. "Aura Letal" poderia salvar você um pouco. O poema da nega dá um otimo samba, me surpreendeu. Achei umas 3 canções lá dentro. Acho que foi minha primeira impressão. Vou ler com mais tempo e ver se entro em você.
Um beijo.

Ps. Me fala, como foi sua noite de domingo.

A estranha

Bem...

Sempre tive medo de mostrar essas ...digamos "poesias"...há algo de muito de espúrio nelas que me mostra de maneira muito desnudada.Nunca gostei do que escrevi...mas também nunca tive coragem de queimá-las ou coisas do tipo.Acho tudo isso um lixo....Mas ainda assim, sendo lixo ou não,é um espelho (quebrado) em que me vejo.
Achei que você deveria conhecê-las pelo simples fato de você ter sido uma espécie de trampolim (ou uma espécie de viagra)para que eu começasse a escrever tantas coisas.Em poucas palavras , um provocador ...o que ainda continua sendo quando diz que a unica coisa que quero é transar com você quando ligo para falar de outras coisas.Bem até pode ser, só que isso eu ainda não de
scobri.
Encare as poesias como tudo aquilo que eu não conseguia falar naquela época...é só escrevia por que não sabia falar.Agora eu sei falar só um pouquinho mais.
Ah e o pirata da "poesia" é você .Eu não me lembro bem de como esta escrita, mas lembro da simbologia que utilizei.
Enfim...me explique mais sobre esse lance de "aura letal".
Quanto minha noite de domingo...só um pouco triste por pensar que a banda havia acabado...o que fara você pensar que estava triste por nao ter transado com você...bem pense o que quiser, pois ja nao faz diferença.

O pirata

Sobre a ligação dos caras agente marca no tempo deles faz como achar melhor eu estarei lá presente. só para vc ficar mais feliz. tu tem um sambinha da nega, lembra? é um poema que está no caderno ele é seu? iremos compor esse samba, topa?. Sobre os poemas são magnificos. Por isso te sugeri que fosse o titulo do livro "Aura Letal". Aura já está escrita no caderninho e "Lê" é seu apelido carinhoso e "tal" é o que está escondido nos versos.
Sobre sua tristeza da noite de domingo eu pensaria que seria por causa do Faustão, fantástico e domingo maior que realmente dão no saco. Quanto ao Pirata gostei do personagem e qual é o seu personagem no livro? Quer me dar alguma dica para que eu descubra mais sobre eles?
Quanto a transar comigo... Fica calma e não se afobe, você chega lá.
Uma retrospectiva: Vc já me disse que gosta de putarias sujas narradas em seu ouvido, já teve orgasmos multiplos só em brincadeiras de mãos, me roubou um estalinho no onibus, sem contar que...

A estranha

Aurea Letal?Muito apropriado,gostei sim.Quanto ao sambinha da nega, eu topo...Eu nunca nem sequer tentei transformar alguma coisa que escrevi em musica, mas se você acha que dá, faremos então.Quanto ao meu personagem no livro...posso te dar dicas:Uma menina de 17 anos muito triste, tímida e solitária que tinha acabado de descobrir a maconha,o vinho,o sexo, o teatro...a pular a janela de madrugada pra ir pra Lapa.Tudo ao mesmo tempo!...Me ajuda?Nunca havia pensado seriamente neste personagem, mas é certo que tem lá sua seriedade...Enfim...
Quanto a sua retrospectiva...acho que não foi bem eu quem roubou um estalinho né Pirata? Mas tudo bem ...eu até aceito a autoria.Se não foi eu, é também como se fosse...já não me surpreendo com qualquer coisa.E aquele beijinho babaca foi completamente previsivel...e adequado.Orgasmos múltiplos?hum...não o orgasmo propriamente dito, mas foi de certo interessante... agora, sem contar que...o quê?


O pirata

...Que Gostei do personagem e no que ele se tornou. Dá para escrever um livro de auto ajuda. "A Poesia Pode Salvar Vidas".

Leticia da Aura Letal.
Fez uns poeminhas,
Ela disia qualquer coisa
Que em sua alma vinhas
Quiz conquistar um anjo
Um Pirata
E uns carinhas
De toda a sua infante aventura
Sobrou apenas um desejo puro
Sair e sarrar com a vida
Em toda esquina, em cada muro.

...

A estranha e o pirata

Acho
ARTE DE SALVADOR DALI


A estranha says:
Acho que o abismo que havia entre nós foi em boa parte, demolido.Ainda falta grande coisa,mas o que foi iniciado já veleu á pena.E pra falar a verdade gostaria muito de continuar com nossa conversa...até que o abismo vire apenas uma calçada,ou quem sabe coisa nenhuma.Adoro quando encontro alguem que pode explicar o que nao entendo em mim.Bem pra mim, você sempre foi isso né.Um cara que entendia o que eu não sabia explicar...
Enfim Robert...tudo isso pra ilustrar ou bendizer, que passei um dia interessante ao teu lado...E tenho a impressão que agora sim somos amigos...ou pelo menos desejamos ser...
Nossos tabus,... ou de repente o "meu tabu" está sendo quebrado a ponto da gente falar ate de sexo...coisa que eu nao imaginava falar com você.Como ja disse, você era um cara etéreo, intocavel para mim.Como a serpente de bronze biblica, em que se tinha medo ate de olhar...E agora ta começando a ser "humano" sabe...isso de uma certo ponto é ruim também né? Afinal de contas...quem agora vai ser etéreo e intocável para mim?Preciso conhecer novas pessoas daqui pra frente.
Bem...termino aqui

O pirata :
Se eu já não sou mais etéreo, você já não é mais tão estranha pra mim.

Ser de carne e osso é muito mais poético.
Transar com o personagem dos quadrinhos também.
O barato maior é: Você já não é mais adolescente, e eu já não sou tão mais velho.
O dialogo é sempre o melhor caminho para aproximar e misturar as pessoas.
A ilusão é muito bacana, precisamos sempre de umas, mas os paradigmas são para serem ultrapassados. Quem sabe seu novo namorado seja o Robin Hood, dai de perto, da esquina ao lado da sua casa (CASTELO).
Precisamos tocar, compor, conversar, quem sabe até transar, porém sem esse papo de superestar ou coisa parecida.
Estamos juntos no mesmo tempo e espaço, compartilhando o mesmo favo de vida.

Conselho de Escarlate para Buendía

Buendía vem aqui...Hoje eu quero te falar ...aliás há tanto tempo que o quero , mas quase nunca nos encontramos...Quase sempre onde uma está a outra não se encontra.Poucas as vezes em que nos encontramos no mesmo instante em que ocupas esse mesmo corpo...
Aproveitemos então este breve instante :
Ouça-me Buendía: Que outras provas de falso amor você ainda precisa?Que parte do corpo dele ainda precisará tocar para saber que ele não é teu ?Quantos afagos dele precisará não receber para saber que você está sozinha nessa?
Você já sabia Buendía, sempre soube...Você mais que eu sempre soube...
Eu sou toda sexo Buendía...toda eu sou sexo...Minha filosofia é proximidade de corpos Buendía ...Eu converso através do corpo.Mas e você Buendía?Dirias que também a tua filosofia é do corpo ?Ou que és tão profunda a ponto de não conseguir sair do fundo de onde estás ?
É pena Buendía, que nunca escolhemos quem vai ficar para imperar no exato momento...não escolhemos , apenas nos deixamos livres e entregues ao veredito pronunciado: Buendía , Escarlate, Soledad...
Nunca sabemos qual das tuas vertentes governará no fatídico instante...mas eis que quando somos chamadas nos entregamos...
Nisso nos assemelhamos: sempre somos entregues ao veredito.
E você sabendo disto quer fingir ser Afrodite Escarlate?
Buendía ...você é o desejo das três : Buendía , Scarlate e Soledad...Você é o equilíbrio das três...Equilíbrio?Você é o equilíbrio Buendía?Não ...se o fosse não precisaria de nós , seus extremos...suas extremidades...
Eu sei Buendía , o quão difícil não ser as extremidades...o quão é difícil equilibrar-se e pra isso você tem a mim ... e pra isso você tem Soledad para justificar sus desequilíbrios...
E justo agora venho como racional Buendía...escuta : Não vai dar , ele não vai ser teu.Você não se contenta com desejos superficiais , sabemos disso, entã

o acredite : ele não será teu , ele tem outra no coração , e apenas brinca com o que você lhe oferece .
Sua boca já passeou o suficiente pelo corpo dele para saberes o quão delicioso ele pode ser ...para saberes o quão apaixonante ele pode ser ...o quão viciante ele pode ser ...o quão venenoso ele pode ser ...
Buendía ... se for para o querer , o queira somente através de mim que filosofo através do sexo...você não pode com ele Buendía ...não pode...é luta perdida.
Me escuta Buendía...

ARTE DE Marina Byckhova

Me despi daquelas roupas diuturnas
As roupas que você insistia em não tirar...
mas que por vezes punha as mãos por baixo da saia,
em qualquer manhã sem cores ,
no banco de trás do táxi.

Sua grossa e pesada mão de homem que você esquecia dentro da minha saia, enquanto conversava com o taxista coisas fúteis...
Eu tentando não me contorcer de prazer apenas olhei pela janela.
Só fechei os olhos.
Desci do táxi de pernas escorridas , rosto ruborizado e coração acelerado...
Você calmo zombava da minha inquietação.

Enfia no cu a tua liberdade!

Enfia no cu a tua liberdade!

Enfia no cu toda essa tua liberdade...
Mesmo as mais livres desejam profundidade...
Você deveria saber disso ...mas não sabe ... e o que faz é ficar julgando...é ficar agregando pessoas à sua volta ...É ficar conquistando um número máximo de cabelos loiros pra depois abandonar à sua própria sorte , e depois...
Depois dizer que não é machista...dizer que é tanto mulher quanto todas ...quanto a mim .
Não!..Você não é !!!Você não sabe o quanto sangro!!! Você não sangra!
Você não tem idéia da solidão minha ...
...
Enfia no cu toda essa tua liberdade...
Não a quero ...de verdade não a quero.
Descobri hoje , que não a quero.
Você não me ama! ...e de nenhuma forma...
Você não ama a mim ...
você não ama a minha inteligência...
você nem sequer ama o meu sexo...

Pra quê então?
Pra quê me jogar?
Pra quê jorrar?
Juro: Desejo demais a profundidade em qualquer sentido!Será que não vê?
Qualquer profundidade esperava eu de você...
Mas o que me trouxe ?
Alguns gemidos tardios,
um cheiro de macho nas roupas íntimas,
E um breve ensaio de desapego...

Enfia a tua liberdade no cu!

Me pedindo a essa hora da noite conselhos para um outro amor...
Me conquistando com tua sensibilidade,
Com tuas declarações para outrem
Com teu choro que se assemelha ao meu...com tuas palavras doentias que se assemelham as minhas.

E agora ?
Agora não tenho mais forças para escrever...
Não sei mais o que escrever...
por que a idéia inicial era te ofender ,
Era dizer que não preciso de você para nada ...
De dizer que não passa de um homenzinho pedante.
Mas agora , quando me falastes de teu antigo amor malogrado...
Me pedindo palavras doces minhas para te acalentar...
Agora que disse que sempre te faço bem (o bem que não me faz tão bem)...acabou por apaziguar minha raiva cega...
Acabou por fazer eu te amar mais...eu te querer mais...eu te desejar mais
Droga
Quero te ter desprezo...por mais que você não mereça, quero te ter desprezo.
Tem sido cansativo tudo isso:
Isso de escolher a roupa certa que vá te enlouquecer por alguns momentos
Isso de escolher o assunto certo para me admirares...
Isso de escolher a dose certa de vodka para me pôr mais audaciosa ...
Isso de escolher a piada certa para te fazer rir...
Isso de mudar de caminhos só para te encontrar...
Isso cansa!Tudo isso cansa...
Sai daqui logo sai!!!
Sai de uma vez...

*Arte de Vargas Mariano

sexta-feira, 17 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011


A sensacional atista Helenbar

terça-feira, 14 de junho de 2011

Entre sem bater


Maiden, The / 1912 - 13 - Klimt




Meu caro... escute agora esta lástima: - Meu desejo agora é o de deixar de ser beliscada...de ser lanchinho...o café da manhã de sua segunda-feira.QUERO SER BANQUETE!
O banquete que te alimentaria de verdade... te saciaria e me saciaria sendo eu comida.
No outro dia então poderias procurar outras especiarias, longe de minha mesa enquanto eu fosse por você digerida...
Ser lanchinho é muito pouco pra quem deseja ser banquete... pra quem deseja ser pasto de touro.
SER Pasto DE TOURO...
O touro forte e onipotente que tens entre as pernas... o touro colossal, talhado e esculpido como obra de arte, digno de um monumento de praça...que apenas vislumbrei em breves instantes diuturnos de uma segunda-feira que nem sequer encostei a ponta dos dedos.
Eis o que percebo: Quero ser pasto de touro... lambida , cheirada, deglutida ...RUMINADA.
Que o grande touro escale as paredes vaginais e ao chegar ao topo grite... grite qualquer coisa.
Qualquer coisa...
Grite!
Deixe que o grande touro cuspa o substrato vibrante vital em qualquer canto do corpo...
Qualquer canto.
Fiz frases de palavras que tirei do útero com os dedos.
Leia então agora meu invento pueril domesticado que tirei com minhas próprias mãos... com meus próprios dedos ( entrandoesaindoentrandoesaindoen ) pra colocar agora em linhas tortas presenteando-te ou pedindo-te uma noite sem pesadelos.
Uma ou duas...
Ou três...
Ou...

Percebi que seu cheiro não fica no corpo... e que esqueço do seu toque toda vez que paras de tocar...
E que o seu gosto escorre no mesmo momento em que te percorro com a língua...
Como então guardar numa caixa de sapatos tudo isso? (o seu gosto, o seu cheiro, o seu toque) Como levar numa caixa de sapatos para antes de dormir sentir tudo aquilo de novo? E quando acordar nos primeiros raios de sol possa sentir tudo de novo?...E à tarde quando tudo é tédio possa sentir tudo de novo?...E quando a mãe encher a casa de ladainhas cristãs eu possa sentir tudo de novo?
Para a qualquer momento do dia eu possa abrir a caixinha e tirar um pouquinho de gosto, um pouquinho de toque, um pouquinho de cheiro teu... como um cigarro tirado da carteira para sentir um pequeno prazer...
Estou escrevendo isso tudo de pernas escancaradas e olhos cerrados imaginando coisas...
Imaginando seu corpo todo cru destemperado...
Imaginando seu rosto enterrado entre as minhas pernas...
Imaginando minha boca fixada no teu colo...
Imaginando meus cabelos presos nos seus dedos...
Imaginando qualquer coisa tua que santifique meu corpo...

Agora vejo: de maneira nenhuma consegui me expor.
Meu estado talvez não possa ser escrito ou pintado.
Então de qualquer forma: Entre sem bater... entre me batendo ...Penetre e fique...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O dia de ontem - Caio Fernando Abreu


Imagem de Man Ray

Ainda ontem à noite eu te disse que era preciso tecer. Ontem à noite disseste que não era difícil, disseste um pouco irônica que bastava começar, que no começo era só fingir e logo depois, não muito depois, o fingimento passava a ser verdade, então a gente ia até o fundo do fundo. Eu te disse que estava cansado de cerzir aquela matéria gasta no fundo de mim, exausto de recobri-la às vezes de veludo, outras de cetim, purpurina ou seda - mas sabendo sempre que no fundo permanecia aquela pobre estopa desgastada.Perguntaste se o que me doía era a consciência. Eu te disse que o que me doía era não conseguir aceitar minha pobreza. E que eu não sabia até quando conseguiria disfarçar com outros panos aquele outro, puído e desbotado, e que eu precisava tecer todos os dias os meus dias inteiros e inventar meus encontros e minhas alegrias e forjar esperas e me cercar de bruxos anjos profetas e que naquele momento eu achava que não conseguiria mais continuar tecendo inventos. Perguntei se achavas que minha fantasia me doía, e se me doendo também te doía. E não disseste nada. Embora estivéssemos no escuro, consegui distinguir tua mão arroxeada pela luz de mercúrio da rua apontando em silêncio o telefone calado ao lado de minha cama. O telefone em silêncio no silêncio.Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exata. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse. Disseste de repente que precisavas ter os pés na terra, porque se começasses a voar como eu todas as coisas estariam perdidas. A droga corria em meus adentros abrindo sete portas entorpecendo o corpo e fazendo cintilar a mancha escura no centro da minha testa. Mas eu te ouvia dizer que sabias ser necessário optar entre mim e ela, e que optarias por ela, por comodidade, para não te mexeres daquele canto um pouco escuro e um pouco estreito, mas teu - e que optarias por ficar comigo porque a minha loucura te encantaria e te distrairia, embora precisasses te agitar e negar e ouvir e sobretudo compreender novamente tudo todos os dias. E disseste que optavas por mim. Eu já sabia. Por isso não te disse que comigo seria mais difícil do que com ela. Porque sabias também que em todos os de repentes eu estaria abrindo as asas sobre um desconhecido talvez intangível para ti. Não dissemos, mas concordamos no silêncio cheio de livros e jornais entre nossas duas camas, que querias a salvação e eu a perdição - ainda que nos salvássemos ou nos perdêssemos por qualquer coisa que certamente não valeria a pena. Nem era preciso dizer que não era preciso dizer: eu era o teu lado esquerdo e tu eras o meu lado direito: nos encontrávamos todas as noites no espaço exíguo de nosso quartoEu viajava no meio de pinheiros brancos quando disseste que a única coisa que havias desejado o dia inteiro era chorar sem salvação, num canto qualquer, sem motivo, sem dor, até mesmo sem vontade, de mágoa, de saudade, de vontade de voltar. Não haviam permitido, inclusive eu. Mas percebes tanto: quando eu me dobrava em remorso pediste pra que eu cantasse cantigas de ninar, que cantei com a voz rouca de cigarros e drogas. E enquanto adormecias, lembrei da tarde.Era feriado na manhã, na tarde e na noite de ontem à noite. Eu lembrava da tare e pedia para bichos-papões saírem de cima do telhado: nós comíamos lentamente bolachas com requeijão e leite - e lembro tão bem que ainda que não tivesse sido ontem, continuaria sendo ontem na memória - quando comecei a cantar um samba antigo, que nem lembrava mais porque acordava em mim uma coisa que eu não seria outra vez. Foi então que começaste a chorar e eu sentei ao teu lado e não compreendendo te disse que não, te disse inúmeras vezes que não, que não era bom, que não era justo, que não era preciso - mas choravas e dizias que era tão bonito quando ele tocava violão cantando aquela música e que fazia tanto tempo e que o filho dele se chamava Caetano e tinha morrido de repente ai uma vida tão curtinha mas tão bonita sem que ninguém entendesse e que havias falado com ele pelo telefone e que o tempo todo aquele samba antigo dizendo que era melhor ser alegre que ser triste ficava te machucando no fundo de tudo o que dizias e pensavas em relação a ele e que querias chorar um três cinco sete dias sem parar sentindo vontade mansa de voltarMais tarde, bem mais tarde, diríamos rindo que afinal não havíamos passado noites inteiras indo e vindo num trem da Central, sem ter onde dormir, dormindo nas areias do Leme, em todos os bancos de todas as praças, fazendo passeatas, sentindo fome, tentando suicídio, criando filosofias, desencontrando, procurando emprego, apartamento, amparo, amor - que não havíamos feito tudo isso para desistir agora, sem mais nem menos, no meio dum feriado qualquer, e que agora a gente só tinha mesmo que continuar porque a casca tinha endurecido - e riríamos muito, mais tarde, cheios de vitalidade e vontade de abrir janelas - mas por enquanto choravas com a cabeça escondida no travesseiro, e eu não compreendia. Talvez estivesse entrando numa compreensão, talvez voltasse ao meu livro e te deixasse em paz com tua vontade de afundar se os outros não tivessem chegado. Instalaram-se no nosso mundo como astronautas pisando no insólito sem-cerimônia, fecharam seus cigarros devagar, então ela chegou e pediste que ficasse perto, e senti medo e ciúme e de repente achei q optarias por ela, que te divertia e te mostrava as manchas roxas de chupadas pelo corpo e eu ria também porque te queria rindo e porque também gostava dela apesar da dureza de seus maxilares de pedra: gostava dela porque às vezes era criança e principalmente porque agora te fazia afastar a cabeça do travesseiro para observar nossos movimentos concentrados de quem começa a decolagemDecolamos em breve, nós três no meu planeta, vocês duas no teu: quando percebi, começava a chover. Chovia lá fora e eu estava parado no meio do quarto. Estava parado no meio do quarto e olhava para fora. Olhava para fora e repetia: nunca esquecerei daquela tarde de chuva em Botafogo, quando pensei de repente que nunca esqueceria daquela tarde de chuva em Botafogo. Tive vontade de dizer da minha suspeita, porque me sabias assim desde sempre sabendo anteriormente do que ainda não se fizeram. Assustavam-me essas certezas súbitas, tão súbitas que eu nada podia fazer senão aceitá-las, como todas as outras. Os próximos passos me eram dados sem que eu pedisse, e sem aqueles entreatos vazios, sala de espera, quando os outros propunham jogos da verdade e nós ríamos da sofreguidão deles em segurar com mãos limosas o que sequer se toca.Te mostrei então o livro aberto, e a dedicatória para aquele remoto e provavelmente doce Paco - nos encontramos no espaço cósmicos entre nossos dois planetas, e de repente disseste que precisavas sair para tomar um pico e eu disse que precisava sair contigo e comecei a pular em cima da cama e achei bom que fôssemos passear com chuva e eu não ficasse esperando o telefonema que não viria e a campanhia que não tocaria e os astronautas que não voltariam a seu módulo sem nos esgotar inteiramente e a batalha que nos recusávamos a travar com eles e unimos nossas duas órbitas e deixamos os outros habitantes e visitantes espantados com a nossa retirada e nossa decisão e nossa contagem sete seis cinco quatro três dois um- decolamos em direção a sala, alcançamos o patamar, as escada, a porta, a estratosfera. Viajamos pela rua sem direção e quando percebemos estávamos dentro do cemitério e eu cantava para uma sepultura vazia e misturávamos Hamlet com pornografia e João Cabral de Melo Neto e as pessoas nos olhavam ofendida e gritávamos os deuses vivos Bethânia Caetano para a cova rendilhada de cimento e não compreendíamos além do irreversível daquele poço limitado por cimento ser o nosso único e certo limite limitado por cimento. Passeávamos devagar entre as sepulturas. Eu cantava incelenças e disseste que eu era inteligentinho porque te mostrara a dedicatória de Cortázar na hora em que precisavas de humildade porque fôramos como as ervas mas não nos arrancariam ainda que eu não fosse humilde até então eu não era humilde e recobria minha estopa matéria gasta perfurada com a vontade de te fazer explodir colorida e simultânea. A chuva fria varava nossas roupas, mas não chegava até a pele: nossa pele quente recobria nossos corpos vivos e passeávamos entre túmulos e eu dizia que no meu túmulo queria um anjo desmunhecado e não dizias nada e eu cantava e de repente olhaste uma flor sobre uma sepultura e disseste que gostavas tanto de amarelo e eu disse que amarelo era tão vida e sorriste compreendendo e eu sorri conseguindo e vimos uma margarida e nem sequer era primavera e disseste que margarida era amarelo e branco e eu disse que branco era paz e disseste que amarelo era desespero e dissemos quase juntos que margarida era então desespero cercado de paz por todos os lados.Era o dia de ontem e era também feriado: sentamos sobre um túmulo e inventamos historinhas e nos deitamos de costas sobre o mármore do túmulo branco e lemos os nomes das três pessoas enterradas e eu pensei que estávamos recebendo os fluidos talvez últimos das três pessoas enterradas e fiquei aterrorizado porque não soube precisar se eram positivos ou negativos e chovia chovia chovia e a alameda de ciprestes ensombrecia as aléias vazias e subi no túmulo e imitei a Carmen Miranda e disseste que ela estava enterrada naquele cemitério e pensamos: se um raio rompesse agora o cimento do túmulo e ela saísse linda e tropical com o turbante cheio de bananas pêras uvas maças abacaxis laranjas limões & goiabas dizendo que não voltara americanizada com trejeitos brejeiros e transluciferinos e de repente entrou um enterro de pessoas cabisbaixas e dissemos que a visão ocidental da morte era demais trágicas mesmo para ex-suicidas como nós e que já era já era já era e eu repeti aos gritos que queria um anjo bem bicha desmunhecando em cima do meu túmulo sobre o cadáver do que eu fui ontem.Mas de repente o medo que os portões fechassem porque anoitecia. O cemitério no meio do vale : o Cristo, montanhas, favelas, edifícios, ruas, automóveis, pontes, mortes. Foi na saída que houve um entreato: paramos sobre uma poça d´água e eu te convidei para ver o nosso amigo árabe que a gente amava tanto porque ria em posições estranhas e tinha um irmão que viera do Piauí e não conhecia sorvete e disseste que precisavas ver teus tios que tinham vindo do sul para te ver e que queria ver o Juízo Final. E que ou víamos nosso amigo árabe e bruxo ou íamos aos teus tios e ao Juízo. Eu não soube escolher. Pedi que não me fizesses tomar decisões ontem hoje ou amanhã quaisquer que fossem - porque também sabíamos ambos que queríamos alguma coisa acontecendo nítidas depois do cemitério. Foi então que aquele carro parou e perguntou sobre uma rua de Copacabana e informamos e lembramos que teus tios estavam em Copacabana e fomos de carona até Copacabana que, desta vez, não nos enganaria. Dentro do carro repeti o que acabavam de me dizer: espera que o inesperado dê o sinal.Vermelho - Verde - verde - vermelho.Entrei com medo da recusa que sempre sentia nos olhos e nos gestos de todos que possuíam coisas e perguntaste se não seria melhor eu desamarrar o cabelo mas eu disse que não porque ia ficar enorme e eu não queria assustar nem agredir naquela hora exata eu não queria afastar nem amedrontar. A empregada abriu a porta para nós. E de repente aquela mulher começou a olhar para nós e a falar de seus transportes de viagens astrais. Alfa. Centauro. Luz. Era espantoso uma mulher de vestido estampado fumando com piteira sobre tapetes quase tapeçarias e ar condicionado dizer que era filha de Oxum e que via nos espelhos rostos que não eram o seu e que uma vez voara suspensa sobre o próprio corpo gelado sem poder voltar. Era espantoso que tu a conhecesses há anos e nunca tivesses suspeitado daquela face oculta e louca e mágica atrás da máscara marcada mascarada mascar a máscara de nácar aquariana.Ontem, nós estávamos muito loucos. Voltamos de ônibus para comer atum e vermos o Juízo, e fizemos tudo rapidamente, e rapidamente encontramos um argentino que veio em nossa direção e viu o livro aberto de Cortázar e disse que era Peixes e eu disse Virgem e disseste Leão e dividimos com ele nosso atum e nossas bolachas roubadas de supermercados e convidamos ele para sair com a gente e gostamos dele e ele gostou de nós dum jeito tão direto e não me importou que meu amigo não tivesse telefonado e nenhuma carta tivesse chegado ainda que eu estivesse distraído. Quisemos que nosso novo amigo que escrevia e estudava arquiteturas a muito corrompidas bem antes e há tanto tempo fosse até o fim do dia de ontem conosco. Mas nos perdemos na porta do julgamento.Depois eu chamei Baby de menina suja e gritei para ela: come chocolates, come chocolates, menina suja, e ela ria e explodia mais e nós ouvíamos sacudindo os cabelos repetindo juntos que éramos todos amor da cabeça aos pés. Depois nos esperavam a avenida deserta no Leblon e a Mona Lisa tomando suco de laranja. Já não era feriado, já não era ontem, e nós apodrecíamos em tempoespaçoagora. Descemos do ônibus pisando em poças de lama, subimos devagar as escadas e foste conversar com nossa amiga loura e dura, às vezes criança, e lembrei que precisava achar um lugar para morar dentro de nove dias, agora oito, e que não tínhamos dinheiro nenhum, e que eu tinha medo, e que eu estava cansado de ser pago para guardar minha loucura no bolso oito horas por dia, e deitei, e olhei pela janela aberta, e fumei na piteira de marfim quebrado para economizar o cigarro, não por requinte, entende, éramos tão pobres, e quis não pensar, e abri Cortázar e li, e não li, e quis morrer, e lembrei que não conseguiria, e senti a insônia chegando, e soube que não resistiria, e lembrei que havias pedido que eu lesse Cortázar para ti, pausadamente, e soube que não conseguiria, e lembrei do amanhã sem feriado e da minha janela aberta sobre o aterro onde longe, no mar, vejo navios que vêm e vão à Europa, ao Oriente, a Madagáscar,e enquanto conversavas com nossa amiga loura e dura e raras vezes criança, eu ficava sozinho no nosso quarto, e quis te dizer de como era bom que a gente tivesse se encontrado, assim, sem pedir, sem esperar, e soube que não saberia, e precisei tomar os comprimidos amarelos para não afundar e sentir o telefone calado gritando em silêncio na cabeceira, e soube que nem o nosso nem outro qualquer encontro solucionava ou consolava exconsolatrix, e de repente percebi que os papéis tinham rasgado, o veludo esgarçado, as sedas desbotadas, e o que ficava era aquela estopa puída velha gasta: a pobreza indisfarçavel de ser o que eu não tinha.Um tempo depois, seria mau contigoEntão voltaste. E eu te disse que além do que não tínhamos, não nos restava nada. Disseste depois que o dia inteiro só querias chorar, e que eu aceitasse. Eu disse que achava bonito e difícil ser um tecelão de inventos cotidianos. E acho que não nos dissemos mais nada, e dissemos outra vez tudo aquilo que já havíamos dito e diríamos outras e outras vezes, e de repente percebemos com dureza e alívio que já não era mais o dia de ontem - mas que conseguíramos sentir que quem não nascer de novo já era no Reino dos Céus. Não sei se não ouviste, mas ele não veio e a noite inteira o telefone permaneceu em silêncio. Foi só hoje de manhã que ele tocou e ouvi tua voz perguntando lenta se eu ia continuar tecendo. Olhei para tua cama vazia, e para os livros sobre o caixote branco, e para as roupas no chão, e para a chuva que continuava caindo além das janelas, e para pulseira de cobre que meu amigo me deu, e para a ausência do amigo queimando o pulso direito, mas perguntaste novamente se eu estava disposto a continuar tecendo - e então eu disse que sim, que estava disposto, que eu teceria.Que eu teço.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Réquiem para um cão


A casa parou de transpirar alegria.Pedaço de amor meu , você era também morador cardíaco, mas eu nunca soube "latir" isso pra você, mas você de fato percebeu nos gestos.
Amor querido meu , obrigada por lamber meus dedos enquanto eu esperava o tempo passar desesperançada...
Obrigada por grunhir pra qualquer pessoa que ousasse entrar em casa por que você também amava demais.
Obrigada por acompanhar minha amada mãe enquanto eu dava minhas voltas por aí(Seria 72 ligações na noite ao invés de 32)...
Sim amado cão , eu já gritei muito com você quando derrubavas minhas partituras de villa lobos(talvez por que eu desse mais atenção a elas do que a você) pra servir de cama para teus pêlos, ou quando interrompias minhas sessões de cinema caseiro aliados as doses de vodka , para pedir cólo , quando na verdade era eu quem precisava, e como se adivinhasses na exata hora.Tudo bem amor meu, era um prazer ter alguém respirando no meu peito enquanto pensava naquele que foi embora (desta vez).E sim ...todos foram embora enquanto você se aprazia com meu cheiro.Eu te agradeço por tantas vezes ter-me feito companhia, por me alentar quando todos estavam distantes...por correr serelepe ao meu encontro quando eu chegava em casa.
Obrigada Piti, porque você alegrou os cômodos por onze agradáveis anos ...e por que você nos alertou que ia embora em breve(foram três as tuas paradas cardíacas , foram três os teus "fingir-se de morto"), mas ficou mais um pouquinho para agradecer o afeto, e para nos acostumarmos com tua partida.

Estou acreditando que você virou estrelinha, você virou mesmo ?Então estou indo agora contemplar as estrelas...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Para uma avenca partindo - Caio Fernando Abreu

Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Réquiem para um fugitivo - De Caio Fernando Abreu


Não que eu tivesse medo. Mas ele era excessivamente pálido. Mesmo sem ter nunca encarado o seu rosto eu já sabia de sua palidez, como sabia de sua frieza sem precisar tocá-lo. Estava ali desde muito tempo, desde antes de mim. Eu o via desde muito pequeno, quando minha mãe abria o guarda-roupa e eu conseguia perceber no meio dos vestidos as suas mãos demasiado longas. No começo não tinha voz para perguntar quem era, o que fazia. E quando finalmente tive voz e tive movimentos, já não era necessária nenhuma pergunta, nenhuma curiosidade. Sabia-o ali, no meio dos vestidos e dos chapéus. Sabia-o ali, pálido e frio, praticamente ausente. Às vezes me comoviam a sua solidão e a sua lealdade: nunca vira minha mãe agredi-lo mas, por outro lado, também nunca a vi tomar conhecimento dele. Nem por isso ele solicitava qualquer atenção. Estava apenas ali, tangível e remoto como a parede do fundo do guarda-roupa.
Quando cresci um pouco ganhei um quarto só para mim, o que impôs uma distância maior entre nós. Mesmo assim eu não esquecia dele. Em parte porque seria impossível esquecê-lo, em parte também, principalmente, porque não desejava isso. É verdade, eu o amava. Não com esse amor de carne, de querer tocá-lo e possuí-lo e saber coisas de dentro dele. Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali, quando minha mãe saía e eu ficava sozinho ou quando havia tempestade. Mais ou menos como essa coisa que as pessoas são capazes de sentir por um móvel ou um objeto muito antigos. A única diferença era que eu não admitia que ninguém mais pensasse assim. Para ser mais claro: eu tinha ciúme. Nada sei a respeito de sua vida privada, mas às vezes chegava... por assim dizer... bem, chegava a desconfiar dele com minha mãe. Hoje é a primeira vez que tenho coragem de admitir isso, porque uma coisa terrível aconteceu.
Muitas noites eu ficava tenso na minha cama, procurando ouvir ruídos — certos ruídos — no quarto de minha mãe. Para ser justo, devo dizer que nunca ouvi nada. Claro que de vez em quando alguma madeira estalava no teto, algum rato ensaiava uma corrida furtiva, ou acontecia qualquer outro desses rumores noturnos. São coisas corriqueiras essas, que acontecem, suponho, em qualquer casa — e digo suponho porque nunca vivi em outra casa que não a minha. Mesmo sabendo disso, eu me contraía cheio de suspeita e mágoa. Imaginava-os na cama, fazendo amor, e isso me doía mais, muito mais do que qualquer outra coisa, a não ser a que aconteceu hoje de manhã.
Minha mãe foi muito correta. É verdade que sempre foi viúva, desde que me conheço por gente, mas é verdade também que nunca me tornou cúmplice de sua viuvez. Devia ter seus problemas, claro, mas nunca me tornou participante deles. Ela os resolvia em silêncio, discreta, sabendo que eu sabia, mas sem me impor absolutamente nada. Inclusive a presença dele, ela não me impôs. Não que o tenha ocultado (e essa atitude me faz ter quase certeza que realmente nada havia entre eles): abria sem dissímulo a porta do guarda-roupa e eu espiava para dentro sem que ela impedisse ou estimulasse. Também nunca me falou dele. Nem dele nem de outro qualquer, de dentro ou de fora do guarda-roupa. Não que não tivesse confiança em mim, na verdade nunca demonstrou isso — nem o contrário. Embora não nos falássemos, ela sempre foi muito educada, muito gentil. Não lembro de tê-la ouvido falar alguma vez em voz baixa ou em voz terna, ou mesmo em qualquer outra voz, mas isso não importa: o essencial é que ela nunca gritou. E se é verdade que não chegamos a ter amor uM pelo outro, é verdade também que não chegamos a ter ódio. Acredito mesmo que tivéssemos descoberto a forma ideal de convivência e comunicação.
A vida era muito dura. Não chegávamos a passar fome ou frio ou nenhuma dessas coisas. Mas era dura porque era sem cor, sem ritmo e também sem forma. Os dias passavam, passavam e passavam, alcançavam as semanas, dobravam as quinzenas, atingiam os meses, acumulavam-se em anos, amontoavam-se em décadas — e nada acontecia. Eu tinha a impressão de viver dentro de uma enorme e vazia bola de gás, em constante rotação. A vida só se tornava mais lenta quando, aproveitando a ausência de minha mãe, eu abria devagarinho a porta do guarda-roupa para vê-lo. Não ousava encará-lo: acreditava que seria necessária uma longa aprendizagem antes de submetê-lo à visão da minha face. Não que ela fosse excessivamente feia ou disforme, não se trata disso. Mas é que não havia no meu rosto nada de peculiar ou de interessante, nada que fosse digno de seu olhar. Ele tinha um olhar feito somente para coisas dignas, esclareço.
Assim, eu me satisfazia em observar seus pés, suas pernas, até um pouco acima dos joelhos onde repousavam, suspensas, aquelas mãos. E isso era espantoso: os pés, as pernas, os joelhos, as mãos. Era tão maravilhosamente espantoso que eu não suportaria olhar mais adiante, seria demasiado para meus pobres olhos que, ao contrário dos dele, foram feitos para o trivial. Seus pés eram muito magros e estavam descalços. Tinham magníficas falanges de ossos perfeitos e um detalhe que os diferençava de quaisquer outros pés — o segundo dedo era maior que o primeiro, e de uma perfeição indescritível, com sua ponta levemente quadrada e sua unha um pouco azul, como se ele fosse anêmico ou sentisse muito frio. Foi pensando nessa segunda hipótese que, um dia, de cabeça baixa, troquei alguns vestidos de lugar, deixando mais próximo dele o casaco de peles de minha mãe. Acho que não adiantou nada, pois no dia seguinte a unha do segundo dedo continuava azulada, com uma pequena diferença: a meia-lua estava um pouco mais estreita. As suas pernas eu não podia ver, havia aquela roupa branca muito comprida, que escondia inclusive os tornozelos. Ainda assim, podia intuir por baixo do tecido leve a delicadeza de sua ossatura, que se confirmava nas mãos, dignas de qualquer poema, de qualquer tela, de qualquer sinfonia. Sei que fico um tanto ridículo falando delas nesse tom, mas não consigo evitá-lo: quando se quer explicar o inexplicável sempre se fica um pouco piegas. Por isso me eximo de descrevê-las. Digo apenas que estavam ali, paradas, e aqueles pés esplêndidos em muito ficavam lhes devendo. Eram essas mãos que povoavam meus sonhos. Meus sonhos eram repletos dessas mãos, que ora me indicavam caminhos, ora me acariciavam os cabelos, ora dançavam tomadas de vida própria. Acordava assustado com minha própria audácia, chegando a desejar que num dos sonhos elas ensaiassem um gesto mais ríspido para que eu pudesse detestá-las ou temê-las. Mas eram sempre doces, e isso nunca aconteceu.
Foi quando minha mãe morreu, ontem à noite. Eu estava deitado no meu quarto quando a ouvi morrendo. Era um som inconfundível: nenhuma das suas caixinhas de música, nenhum dos ruídos noturnos, nenhum de seus amantes conseguira jamais produzir aquele som. Era escuro e rouco como as coisas que não têm depois. Fiquei a escutar por um instante, sem me abalar, pois sabia que ela morreria um dia, como todas as pessoas, e não me atemorizava nem me surpreendia que esse dia fosse ontem, hoje ou amanhã. Depois de escutar durante uns cinco minutos abandonei as flores de cartolina que costumo fazer e fui até seu quarto. Quando cheguei, o som já havia diminuído de intensidade e, quando a toquei, desaparecera por completo. Deduzi que estava morta. Telefonei para o médico, que veio e confirmou minha suspeita, e depois para a funerária, que a encaixotou e levou. Passei a noite mais insone do que de costume. Restávamos, agora, eu e ele. E eu não sabia como tratá-lo, como comunicar a ele o acontecimento. Imaginava que as pessoas como ele fossem difíceis, sensíveis, e ele era tão mais pálido que as gentes que eu costumava ver pelajanela que estava realmente confuso.
Hoje de manhã armei-me de toda coragem e abri a porta do guarda-roupa. Ele estava lá, no mesmo lugar. Foi só então que tive a minha suspeita — pois até esse momento não passara de uma suspeita — confirmada. As dúvidas se diluíram e eu tive certeza: tratava-se realmente de um anjo. Não sei se arcanjo ou serafim, mas indubitavelmente, irreversivelmente, inconfundivelmente — um anjo. Olhei-o, então. Acreditei que o momento houvesse chegado, e olhei-o. Confesso que esperava um sorriso ou qualquer outra manifestação dessas de afeto. Mas não houve nada disso. Não pude sequer perceber se era moreno ou louro, castanho ou ruivo. O que aconteceu foi apenas um clarão enorme e um ruído quase ensurdecedor de asas... como se diz mesmo?... ruflando, é isso: um ruído quase ensurdecedor de asas ruflando. Em seguida saiu pela janela aberta, alcançou os galhos mais altos dos plátanos desfolhados e desapareceu. Julguei ainda ouvir a voz dele dizendo que voltaria, mas não explicou quando. Não sei também se disse isso apenas por gentileza, para me consolar, ou se realmente pretende voltar um dia.
O que nunca pensei é que pudesse ser assim tão vazia uma casa sem um anjo. Dentro de mim existe alguma coisa que espera a sua volta, de repente, não sei se pela janela ou se aparecerá novamente no mesmo lugar. Para prevenir surpresas, tenho deixado sempre abertas todas as janelas e todas as portas de todos os guarda-roupas. Enquanto não chega, preparo duas coroas de flores: uma para o túmulo de minha mãe, outra para o guarda-roupa que ele habitava.