sábado, 1 de dezembro de 2012

Lugar de Ser- Carpinejar

Estou solteiro de novo. Ela se separou de mim. Mas eu não me separei dela. O desagradável é que sou escritor, eu trabalho em casa. Não conto com um escritório para fugir e mudar de assunto. Identifico sua falta a todo instante. Venho buscando mudar de hábitos, mas não está surtindo efeito. Passei a espiar classificados. Localizo alguém vendendo uma telepizza. Em vez de pensar: - Como assim telepizza? Que absurdo, o que o cara está vendendo é apenas uma linha telefônica. Eu penso: - Coitado, ele está vendendo uma telepizza. Quase compro por compaixão. Eu não me divirto com aquilo que eu achava engraçado, eu me comovo. Continuo descendo para levar a Cora a fazer xixi três vezes ao dia, mas sem a Cora, nosso cachorrinho foi junto. Meu coração é um cativeiro. Tenho o controle remoto da tevê, mas me enxergo sem opção. Tenho a liberdade do mundo para sair, e me sinto preso. Tenho tempo de sobra, e me vejo sempre atrasado. Tenho espaço nas prateleiras e nas estantes, mas nunca encontro o que quero. Tenho a cama inteira à disposição, mas permaneço dormindo no cantinho. Ninguém rouba mais minhas cobertas, mas sinto frio. Retirei os porta-retratos da residência. Mas olhar dentro da geladeira é também um porta-retrato dela. Olhar a geladeira é descobri-la: seus morangos, sua mostarda forte, seu pãozinho integral, sua cerveja. Como diz Karl Marx, que entendia tudo de divórcio: "Separados do mundo, uni-vos"

Um comentário:

Vera Pientznauer VeGa. disse...

Tudo faz lembrar....mas passa.