Quem de nós duas é a mais voluptuosa?...e quem de nós duas a mais sapiente?
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Devolve o poema que te fiz
Arte de David Stoupakis
Devolve o poema que te fiz... ele não te serve .
Faço um esforço sobre humano para não te escrever...mas as palavras me chicoteiam até eu não resistir.
Mas...será que de fato estou te escrevendo?...Ou...estou deixando escorrer pelos poros com o erotismo próprio do que é vivo?
Estou desistindo... eu acho.Quero desistir ...eu acho.Eu achava que estava tudo resolvido..Que nossas inconsistências iriam de uma vez por todas se misturarem numa maravilhosa dança pagã de corpos nus.
Dentes podem machucar. Unhas também podem. Olhos que procuram abrigo. Sustos. Desmaios... Negociamos o que exatamente?Sou incapaz de dizer. Você também.Estou ardendo por duro prazer mórbido de ainda te desejar.Ainda tens data e hora para vir ?
Devolve o poema que te fiz, ele não é teu.
Será que é capaz de ficar e escutar exatamente agora meus lamentos dominicais?Ficarias para me salvar um pouco?Não. Eu sei que não...
Sei que já foi embora, e que amanhã talvez volte com palavras mais amenas para remontar meus desejos.
Talvez consiga.
Devolve o poema que eu te fiz... ele é de outro.
Talvez te escreveria novamente... talvez te direi sim novamente.
Mas e daí mesmo: Eu não preciso da comiseração de ninguém. Se vou dizer sim é por que quero dizer sim e pronto.Não posso carregar as dores do mundo ...nem as minhas.Não preciso fingir nada: Eu te desejo febrilmente.Desejo a tua salvação em forma de falo.O teu cântico em forma de sussurros ao pé do ouvido, a tua reza em forma de beijos.
Devolve o poema que te fiz...
Você me arranha diariamente com farpas, e eu sou incapaz de sentir tais dores. Me aprazo até com o que é dolorido.Mas você continua rindo um riso bondoso e irônico.Eu desisto então...
Eu me banho e me perfumo só para te ver de longe. Só para te ver de muito longe...
Estou com o corpo torturado de volúpia. Ainda não enxergas?Quantas linhas ainda preciso escrever?
Caminhando em corda bamba o tempo todo com intenção que me devore truculentamente.
Estou desordeira, mentirosa, lúbrica, assassina.
Quero assassinar você agora... por motivo torpe: você não me aquece.Não aquece meu coração insalubre, meu corpo arrefecido.Você não aquece nada.Apenas me entrega o (teu) fogo para que eu mesma me incendeie.
Chega!
Não quero de forma alguma me sacrificar. Não quero de forma alguma continuar a me esforçar...Continuar a escolher a roupa certa , o perfume certo , as palavras certas , as caricias certas,as idéias certas... a dose de vodka certa.
Estou enfurecida... vai devolver ou não o poema que te fiz?
Devolve, ele não te serve.
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Um comentário:
Os poemas que você escreveu sempre são seus - escolha sua dose de vodka pra você mesma, seus melhores perfumes para agradar ao seu próprio nariz, suas melhores roupas para se sentir a própria Buendia em frente ao espelho, e as melhores músicas para dançar livre de espírito em frente ao espelho - sem os espíritos negros que insistem em afogar seu coração e puxar seus pés na calada da noite... de Pathos para Buendía
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