domingo, 14 de abril de 2013

O AMOR DEPOIS DO DIVÓRCIO Carpinejar Arte de Fatturi

Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem. Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio. A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos vícios. A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos defeitos e da distorção das conversas. É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade, depois da carência. Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça, que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada. A reconciliação é uma moda entre os divorciados. Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os mesmos parceiros são outros. Outros novos. A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança. Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização. Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as rejeições, provaram de frustrações amorosas. Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto. Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo. Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas. Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento. A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava. O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho. Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria. A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria. O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente. Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência. A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia. Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento. A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas. O amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer de mãos dadas para sempre.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Você cala , e o jogo termina...

Fui morar ao lado da sua casa. Inventei milhões de motivos falsos pra isso: - Ah estava barato. -Ah é perto da minha família. -Ah é um lugar bacana. -Ah o pôr do sol é mais lindo. -Ah o ar é mais respirável. Mas no fundo, bem no fundo mesmo, mesmo que eu morra mentindo pra mim mesma o contrário, era pra eu sentir o cheiro do seu suor em qualquer canto do bairro. É doentio eu sei... mas não sei ser de outra forma ...infelizmente...como eu queria ler livros de auto ajuda e escutar aquela vozinha divina dizendo : Foi só mais um ...a vida é assim de autos e baixos e você precisa estar preparada pra isso. Você precisa galgar os degraus. E recomeçar a vida mesmo que seja dolorosa a caminhada. .Mas não, eu não sou assim... sou destrutiva até não dar mais , procuro o pior até que o mais pior não mais exista. Então procurei você depois de tudo que me causou com o término. Ou eu me causei é a pergunta certa? Encontrei-te zilhões de vezes (ou três) pelas esquinas beberronas do mesmo bairro e disse estar tudo bem. Disse pra mim mesma que estava tudo bem... Mas não...não está. E hoje exatamente hoje, quando realmente a vida tava um inferno fui à rua comprar cigarros e te encontro em frente a um bar vendo o jogo do flamengo... e peço como que implorando pra me fazer companhia, por que estou sozinha ...E você diz com aquele olhar sem nenhum resquício de paixão: - Não vai dar...estou de saída, só estou aguardando o final do jogo. Eu olho com aquele olhar “sabe-se como” e pergunto você se importa de eu permanecer naquele local até não sei quem chegar... é a desculpa que encontro não tão esfarrapada assim ...e você diz : Claro que não...E eu fico num silêncio aterrador prestando atenção em um jogo que nem mais sei de que time é ...e pensando em milhões de outras coisas ...Você quebra o silêncio com qualquer coisa desimportante...e eu prossigo com qualquer outra coisa mais desimportante ainda. E solto: - Sinto falta de sua amizade (será? , ou é na verdade do pau? Ou dos braços que me circundavam a noite ? ou dos cachos do seu cabelo ? ou do cheiro? Ou de me falares no ouvido : te amo ?)...e você diz com aquela paz de espírito invejável : Você realmente quer começar com isso?...você realmente quer me ver me sentindo mal por isso ? Eu digo : só estou falando a verdade, ...você me fazia bem...e agora não sei a quem recorrer...só isso...sinto realmente falta de sua amizade , por que não vejo qualquer esperança de você voltar. Você cala , e o jogo termina , e algo em mim também morre: você vai embora e agora ?E não lembro mais quem falou o quê primeiro por que já estava alcoolizada, (também não sei por que, mas não havia mais nada de bom pra se fazer numa noite solitária de domingo...então eu bebi , mas antes tentei curar a solidão com um chocolate quente , se é que isso me defende.) mas você resolve ficar até “não sei quem” chegar e que me faça companhia em minha casa... Alguma luz se acende em mim, mas ela é falsa...e sempre é falsa, por que minha alma é escura...infelizmente é escura. Sigo ao teu lado até qualquer canto em que possamos sentar...e você diz como se eu houvesse perguntado: - Ainda sou seu amigo , e por isso mesmo me sinto responsável por você e não quero que tenha esperança de um retorno. Quero ver você bem. - Eu não tenho esperança...- é o que eu minto pra mim mesma e pra você...eu não enxergo nenhum resquício de esperança no teu olho (isso é verdade). E você diz : - Embora eu acredite nisso, que você não enxerga esperança , sei que você pode transformar urubus verdes em grilos falantes. (não são essas palavras que você usa , mas era como se fosse.) Sei que você anda escrevendo blogs sobre mim...que você mesmo sem perceber deixa transparecer sua tristeza, e eu não quero ser seu aliado nisso. Eu entendo, mesmo que triste e digo: - O que escrevi foram coisas que sempre escrevo ...com você ou sem você. Eu transformo tudo em poesia de quinta categoria mesmo quando não quero. E você diz : - Eu te conheço , não precisa mentir. Eu me calo. Você me conhece. Você me conhece há tempos. Não posso mentir ...você sabe de todas as minhas fraquezas. Você sabe quando eu minto...então me sinto ridícula. Mas permaneço forte por fora, embora a vontade que tenho é de chorar no teu ombro e de pedir pra ficar...mas isso só estragaria tudo. Até que eu digo: -o que posso te dizer agora é que sinto falta de sua amizade , de ser escutada por você, de ser acalentada por você enfim...não tenho realmente esperança alguma que volte...Eu tô até me relacionando com outra pessoa (não sei por que disse isso , mas disse) E você diz da mesma forma que pergunta se tenho um cigarro : - Mas e você? Ainda gosta de mim? E eu digo com toda certeza do mundo: - Claro que gosto. E você:( ...)então é por isso, não quero falar qualquer coisa que te acenda alguma esperança ...tenho medo disso ...sou ainda responsável por você. E gosto muito de você pra te fazer mal. Embora o mal que eu tenha feito tenha sido inevitável. Eu fui realmente apaixonado por você, mas aconteceram coisas que me fizeram desapaixonar. Então me sinto culpada. Lembro-me de tudo o que fiz inocentemente, achando que você “um- homem –não- machista” pudesse entender...coisas que você “um- homem- não –ciumento”, nem ligaria...Mas me enganei...fiz coisas das quais não tinha a menor necessidade pois você realmente me completava de todas as formas. Vi em você tanta liberdade que não vi possibilidade alguma de você ter algum ciúme de mim. Então fui livre...mas não fiz nada de mal...Não te traí, embora em sua cabeça possa ter passado o contrário. Nunca senti essa necessidade , pois era você , teu cheiro , teu pau , teus cachos, teu amor que queria por perto ...não queria ninguém além disso que eu tinha: você, embora de maneira tão parca. “Eu estou falando que essa merda desse mundo foi feito para a felicidade do homem , por que as babacas das mulheres fazem qualquer coisa para mantê-los : nós fingimos, nós nos enfeitamos, nós temos as ideias mais legais para as férias, nós somos muito mais divertidas do que vocês , muito mais gentis , mais cheirosas , mais delicadas. Tudo pra que vocês não se retirem de nós. Retirem suas pirocas de nós. E o mais engraçado é que vocês vão fodendo com tudo, a ponto de serem deixados. E jamais se esforçam para não nos perder. Por que no fundo, vocês sabem que toda mulher faz qualquer coisa para segurar seu homem.” Foi o que lembrei na exata hora, um trecho do livro de Fernanda Young...eu fiz de tudo pra manter do meu lado...e fiz merda também tentando te mostrar que eu não precisava tanto de você...ou que pelo menos você não era o único amor da minha vida ...Mas era mentira ...tudo o que fiz antes de você começar a cogitar que não mais me amava , foi pra mostrar que eu era livre, que eu era livre com a liberdade que você mesmo me deu, e que de repente eu amava mais a mim do que a você. Tentei mostrar que agora eu era diferente da época que ensaiamos algum romance há qualquer 10 anos atrás. Mas eu sou a mesma doentia de sempre, com a única diferença de que algumas arestas foram aparadas , mas nada além disso. Eu amadureci ? Talvez eu tenha amadurecido , mas não o bastante...e vir morar sozinha agora foi uma tentativa de amadurecer...Mas amadurecer dói e eu não estou aguentando a dor por ora...mas posso vir a aguentar, é o que espero...eu acho. Estou tentando. É o que digo por enquanto...e estou me sentindo muito ridícula de sempre me justificar dizendo “por enquanto”...mas é o que posso dizer ...”por enquanto”. Hoje você me fez uma singela companhia por alguns momentos tão rápidos e se despediu. Nos abraçamos daquela forma que eu não queria...aquela obrigação de me abraçar e dizer “conta comigo sempre”, mas no meu íntimo sei que não será assim...que embora você diga: quando precisar pra qualquer coisa , conta comigo. Eu sei que se realmente eu ligasse , você diria : Hoje não dá, é melhor não “...e se num segundo dia eu precisar de você ,viria com a mesma resposta :” : Hoje não dá, é melhor não ““...e no terceiro dia você virá com a mesma resposta : - ... E então só tive vontade de ligar pra minha mãe e dizer tão contrariamente aquilo que ela esta acostumada a escutar : “- Mãe eu tenho medo”, e desligar no exato momento que tiver a certeza de que ela entendeu...Mas eu não fiz isso...me recolhi em meio de tanta gente feliz e satisfeita tentando encontrar algum rosto que fosse o teu , e te segurasse pelos cabelos e dissesse: - Por favor não faz isso, volta. Mas deus não ajuda quem nem sequer diz seu nome em qualquer momento de trevas. E mesmo que me ajudasse, e eu te encontrasse, repetiria todo papo torto que tive contigo há minutos atrás. Então volto, sem deus , sem esperança, sem qualquer coisa que me esboce qualquer sorriso...então chóro. Talvez ainda com a esperança de encontrar qualquer mendigo miserável e bêbado como eu e me abra desnecessariamente só pra vazar aquelas tristezas todas presas no peito .Que conte que estou esdruxulamente deprimida, que estou esvanecendo , que estou morta em vida e por você. Mas não , nada disso acontece ...e nem acontecerá “por enquanto”...e então volto ao leito de fraquezas e me abandono no tapete com vodkas , musicas e poesias....É um alento...mas por enquanto. ARTE DE EDUARDO NASI (VIDA BREVE)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Posso?

Será que posso apenas ligar para ouvir sua voz neste momento? Vai ser insistência demais se eu quiser saber de tua vida agora? Será que é querer sofrer? Posso apenas lhe chamar pra almoçar e ver um filme que não seja romântico e que não force barra alguma?... Posso apenas dizer que lhe amo e que tua falta me garfa o peito e estraçalha a alma e inunda os olhos diariamente? Posso amor, posso? Posso ir até sua casa, para apenas sentir o cheiro do teu cigarro de canabis misturado ao suor das tuas roupas que vem do teu quarto trancado? Posso fazer aquele piquenique que nunca fizemos juntos, mas que sempre prometemos naquela floresta em que nunca dançamos nus em volta de uma fogueira? Posso amor, posso? Posso tatuar teu nome em alguma parte do corpo pra lhe mostrar que vai ser difícil apagá-lo da memoria, do corpo, da casa, das roupas, dos lábios, das fotos? Posso passar a noite no banco em frente a tua casa pra lhe mostrar que estou enlouquecendo e de repente fazer você ter medo de mim e me aceitar de volta por pena? Posso amor posso? Posso invadir teu quarto e arrancar tua roupa como num estupro? Posso pegar uma lâmina cortante e cortar meu corpo delicadamente pra lhe mostrar que sou maníaca depressiva? Posso raspar meu cabelo todo pra lhe mostrar que não tenho mais vaidade e que meu único homem é você? Posso fumar uma carteira inteira de cigarro initerruptamente pra adquirir um câncer de pulmão por você? Posso amor, posso? Posso escrever coisas tão doentias como essa em cartazes e colá-los nos postes das ruas que você passa? Posso comprar teu pão na padaria que você vai sempre comprar teu cigarro e fazer teu café da manhã em silêncio e assistir teu desjejum prazeroso? Posso fotografar aqueles teus olhos caídos e quase demoníacos e fundos e levá-los para um trabalho de amarração? Posso amor, posso? Posso me espalhar na tua cama enquanto você não volta da madrugada promissora de lapianas libidinosas e sem coração? Posso me esfregar no teu lençol e deixar minha marca nele pra que não te esqueças de mim assim tão facilmente? Posso amor, posso? Posso fazer aquele escândalo tão temido se eu te ver com outra e dizer que você é meu e demais ninguém, e chamá-la de puta, vagabunda, vadia? Posso amor, posso? Posso espalhar pra todo mundo que agora estou fazendo terapia e sendo medicada com ansiolíticos e antidepressivos por causa de você? Que estou tomando banhos com pétalas de rosas, mel e toda a parafernália em luas cheias, indicada por mães de santo de quinta categoria? Que tua foto ta embaixo de duas velas vermelhas com essência de oxum e que toda noite a esfrego no meu corpo com a esperança que anos de ateísmo não estraguem os feitiços pra te trazer de volta? Posso amor, posso? Posso perambular a esmo por todos os lugares que você frequenta e vender todos os meus textos e poesias que fiz pra celebrar tua vinda, e todas as palavras doentias que fiz pra me livrar da tua falta? Posso espalhar pra todas as mulheres do mundo que você não presta e que serão abandonadas a qualquer demonstração de ansiedade e carência delas? Posso rezar pra todos os santos, deuses, e inclusive pro seu Buda pra que broche todas as vezes que tente adentrar o corpo de qualquer lambisgóia libidinosa sedenta do seu corpo moreno com cheiro de macho híbrido? Quero é sangrar minhas dores todas no teu banheiro, e eu mesma chamar a ambulância, alegando que a vida é ruim sem você e que, por favor, não me salvem com soros. Só posso sobreviver com teu corpo, com tua alma do lado da minha, teus cachos colando no meu suor... é desse remédio que preciso. Vou gritar no hospital que não quero injeções, aparelhos de oxigênio, operações... vou pedir que não me façam sobreviver se você não voltar. Vou morder com dentes afiados qualquer enfermeiro ou médico que tentar me reanimar. Posso amor, posso?
Cena do Filme "Amores Imaginários" de Xavier Dolan